Nota do Filme:
Existe um certo receio da crítica e do público quando se trata de filmes do subgênero gospel. Destaca-se, desde já, que “Superação – O Milagre da Fé” confirma a dificuldade que tais obras têm em contar uma boa história, por mais que seja baseado em fatos reais o que, ao menos em tese, deveria aumentar a sua imersão.
Nesse sentido, o longa, dirigido por Roxann Dawson, discorre sobre a vida de John Smith (Marcel Ruiz), um garoto de 14 anos que, em um acidente, afogou-se por 15 minutos em um lago congelado. Após meses (?), um milagre lhe devolveu a vida. O problema, contudo, é que o conto se resume apenas a isso. Jamais foge ao básico e consegue estragar até mesmo os momentos de milagre que sustentam a narrativa.
A diretora apresenta uma direção sem foco e não consegue encontrar o tom melodramático que a narrativa pede ou mesmo uma forma de manifestar o sobrenatural com sutileza. Há a tentativa falha de representar a presença divina por meio dos planos da câmera, porém é mal sucedida. Ela não é, porém, a única culpada pelo fracasso, uma vez que o roteiro de Grant Nieporte não tem diálogos funcionais, sendo todos artificiais e mecânicos, o que impede que os atores consigam extrair um segundo sequer de emoção e verdade que cenas que necessitam, tornando-as vazias.
A obra se propõe a demonstrar um milagre real, porém o filme se perde em subtramas mal realizadas, como o fato da mãe, Joyce Smith (Chrissy Metz) ser orgulhosa e brigar com todos, constantemente vilanizada pelo seu estado de luto. Outra incoerência é o bombeiro, Tommy Shine (Mike Colter), responsável por salvar o garoto, entrar em uma crise existencial por ter escutado Deus, mesmo sendo ateu. Um plot batido no subgênero e extremamente ignorante, desrespeitoso com a comunidade ateia. Dessa forma, o filme esquece de seu milagre como pilar para a narrativa e não convence quando retrata temas cristãos, pois é tudo muito superficial.
Os pontos positivos se limitam às músicas divertidas, um plano interessante da manifestação do espírito esportivo de John, homenageado pelos colegas de time e outro do personagem, metaforicamente, saindo de seu coma. O resto, contudo, é um festival de breguices e convenções narrativas, como o pastor sempre estar presente para momentos dramáticos, quase como uma entidade.
Dessa forma, “Superação – O Milagre da Fé” é um filme sem propósito, tecnicamente mal realizado. Sem foco, se perde em sua própria narrativa, de modo algum atingindo o fim ao qual se propôs.