Crítica | Ruby Sparks – A Namorada Perfeita (Ruby Sparks) [2012]

Trazer à tona a temática da artificialidade das relações humanas costuma sempre provocar o espectador. O trabalho com as questões afetivas e a maneira como elas podem comprometer toda a cadeia que forma um ser é uma prontidão rica demais para ser deixada de lado em um filme romântico. Todavia, ninguém irá esbarrar com Ruby Sparks – A Namorada Perfeita e encontrar os clichês marginais. O clichê aqui é quase tão poderoso que daria um subtítulo digno e totalmente fiel ao que a direção pretendeu colocar em foco. Histórias românticas, roteirizadas, imprevisíveis ou espontâneas, são no fundo experiências rasas e clichês quando colocadas lado a lado?

O filme concede o grande protagonismo a Calvin (Paul Dano), cuja simbiose com o papel não demorada para acontecer como já é típico para o ator. A negligência pessoal do mundo e a sua fria desculpa de não conseguir se relacionar bem com as pessoas, destacando para isso as mulheres, classifica-o no ranço do diferente com a fatalidade certa desejada pelo roteiro de Zoe Kazan. Não bastasse a introdução tão liquefeita e pouco aprofundada mais tarde, o personagem ainda sofre com transtornos abarrotados durante toda a duração do filme, A extração do significado nas entrelinhas pelo público toma tempo em decorrência disso. As cenas de desenvolvimento de Calvin existem, mas não carregam qualquer credibilidade visto que são vestidas em um personagem estranho em toda a complexidade mostrada de um escritor genial.

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Longe de ser um filme capaz de ultrapassar a expectativa romântica clichê, o amálgama de tantos outros não falha em ser facilmente compreendido. O longa não chega a ser um clássico de Sessão da Tarde preso em uma antiguidade fria e um roteiro pacato com um final feliz. Ruby Sparks – A Namorada Perfeita existe com um propósito de comprovar como é miserável e vaga a impressão que cada um de nós possui das paixões e dos relacionamentos pintados em perfeição e bonança. Se realmente possuem uma característica fundamental para o roteiro, as tomadas de decisões de Calvin estreitam o corredor dessa mensagem. Passamos a compreendê-la quando o personagem se desloca e se torna um abusado completo. Ali é representado o descontentamento, mas sobretudo as respostas que com a sua chegada foram entregues. O amor e suas coisas são imperfeitos.

Não é estranho impressionar-se com a direção de arte do filme em algumas respiradas da história tão presa a moradia do protagonista. Quando Ruby (Zoe Kazan) finalmente se torna ativa na narrativa como uma personagem completa e interativa com outros mais, alguns comportamentos e escolhas de cenário contribuem para o atrativo ainda maior desse novo direcionamento no meio do segundo ato. Há luzes agradáveis, cores igualmente bem acentuadas para as cenas externas e uma trilha que não é incrível, mas que é igualmente rara quando em sinergia com estes outros dois elementos. É uma passagem rápida e guinada que abrilhanta a primeira metade do filme. Parte disso aparentou ser uma tentativa da produção de reproduzir transições coloridas, como acontece em Pequena Miss Sunshine. A trilha do exemplo anterior, contudo, alcança uma harmonia única com o filme. Para este novo longa a direção a preencheu com o regular.

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É possível acompanhar o filme sem ligar muito para os clichês. Uma vez tendo vencido a sua primeira metade, o longa se encaminha para o desfecho que surpreende só pelo que é, mas no fim é totalmente desonesto. A falta de uma justificativa para a capacidade criativa de Calvin não atrapalha o roteiro fantasioso, mas cavaria fundo em algumas pequenas regras nunca exploradas totalmente. Teria tudo aqui sido uma grande alucinação bizarra o suficiente para um final alternativo ou teria a máquina de escrever, e não Calvin, uma potência sobrenatural? Em sinopse, explicar cada uma dessas coisas não causa peso algum para o que a trama começa, torna-se e acaba sendo. O longa poupa respostas no que exagera em frivolidades do arquétipo do escritor esquisitão.

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Foi com a apresentação dos coadjuvantes mais atrativos, como é o caso do irmão de Calvin, Harry (Chris Messina), que a ferramenta de alívio cômico foi pela primeira vez demonstrada na prática de salvar toda aquela fachada mórbida. Embora o irmão seja introduzido bem no início, já como único contato próximo do famoso escritor em seus mais variados momentos e humores, só é com o choque da presença de Ruby que o personagem se transforma em algo potencialmente forte. Esse secundarismo de todo o núcleo familiar e de sua função de unicamente ambientar e alimentar a personalidade de Calvin torna a escolha da direção unanimemente errada quanto ao que o longa poderia se tornar com o devido aproveitamento. As personas do pai e da mãe, bem como a da própria companheira de Harry, são forças subestimadas colocadas à sombra do que Ruby faz, fala ou é.

Ruby – A Namorada Perfeita passa longe de ser catastrófico mesmo com todas as suas imperfeições narrativas e abordagens questionáveis. Sua conclusão, apesar de batida e consagrada dentro do estilo romântico comercial, não agrega tanto crédito ao filme que já caminha em passos cansados desde a sua segunda metade. As atuações conseguem conquistar por serem diferentes, mas não credibilizam qualquer emoção dos rasos (e prometidos complexos) personagens da trama. E novamente, o filme é bem válido pela sua discussão fora de qualquer diálogo, bobo enquadramento ou reviravoltas fraquíssimas. É preciso compreender as diversas manifestações de seu próprio amor e saber lidar com elas com responsabilidade. Pessoas são pessoas, desejos são só desejos.