Nota do Filme:
O mais novo filme do cineasta Ang Lee, Projeto Gemini, traz Will Smith como protagonista e conta com a tecnologia 3D+, novo formato digital evolutivo de projeção a 60 quadros por segundo. Isso representa mais do que o dobro da taxa tradicional, que tem por base 24 quadros. O resultado são imagens com mais profundidade, propiciando a percepção das cenas de forma mais realista. A novidade proporciona uma experiência cinematográfica mais imersiva.
A trama segue Henry Brogan (Will Smith), uma espécie de agente secreto do Governo Americano, considerado o melhor assassino de elite, mas, com o chegar da idade, pretende se aposentar. Após essa decisão, descobre alguns fatos intrigantes sobre a Agência para a qual prestava serviço e, com isso, percebe que sua vida está em risco. A partir dessa premissa tem início os elementos do gênero de ação: fuga, perseguição, mistério, aventura, tudo com um breve quê de ficção científica. Esse quê se deve ao fato de que o inimigo de Brogan é uma versão sua mais jovem, um clone seu (Will Smith recriado digitalmente, a partir da captura de movimentos).
No primeiro ato, Danny Zakarewski (Mary Elizabeth Winstead) é apresentada, mas, apesar da carisma da atriz, ela não é bem aproveitada, sendo nítida a intenção de acrescentá-la apenas como um possível par romântico para o protagonista. Outro que se une ao time é Baron (Benedict Wong), amigo de longa data de Brogan. Ocorre que o trio não tem química entre si e a falta de personalidade dos personagens contribui para essa parca interação entre eles. Até mesmo ambas as personas de Smith não têm perfis bem desenvolvidos.
No segundo ato, o jovem clone (conhecido, inicialmente, apenas por Júnior) é introduzido como um agente que recebe ordens para matar o protagonista e não demora até que se percebam as semelhanças entre eles. A cena em que ambos se encontram tem a tela dividida por um espelho para evidenciar (como se precisasse) a similitude dos dois.
As sequências de ação empolgam e a tecnologia HFR (High Frame Rate) confere mais realismo às cenas. Os planos de perseguição de moto são, talvez, os melhores momentos do filme, com cores alegres e vibrantes, que ganham, também, pela bela e vívida fotografia no cenário de Cartagena, Colômbia. Algumas dessas passagens com perseguições ou mesmo o embate corporal entre Brogan e Júnior lembram jogos de videogame, isso ocorre não apenas pela coreografia com golpes ensaiados, mas, sobretudo, graças ao frame rate utilizado.
Contudo, a trama é permeada de clichês e conveniências para facilitar a narrativa, o que a deixa tão pouco crível que nem a tecnologia HRF salva o roteiro de ser validado. Vilões caricatos e fatos como um jato à disposição e Danny ter uma amiga em uma filial de laboratório exatamente no país em que eles estavam, capaz de efetuar um exame com a rapidez desejada, são algumas das situações que afastam a veracidade do enredo. Ademais, uma das últimas cenas, além de desnecessária, ainda contradiz tudo o que se pregou desde o início, quando o jovem Smith consegue “abater” o protagonista com uma estranha facilidade, que nega todo o roteiro.
Filmes envolvendo clones não trazem uma temática inovadora, contudo tal ideia é capaz de render uma interessante obra, a exemplo do excelente Lunar (Duncan Jones, 2009) estrelado por Sam Rockwell, que se apoia na teoria do uso dos clones como ferramentas de trabalho. Este longa convence e faz uma brilhante tarefa, diferente da película aqui tratada, que deixa furos e não consegue se firmar na própria premissa.
Como filme de ação, entretém, mas o roteiro medíocre não consegue alavancar a obra. A tecnologia é eficaz em quase toda a produção, mas decai muito nos minutos finais, principalmente quando mostra o rosto do Júnior sob o sol. O desfecho tem aquela atmosfera amena e insípida de sessão da tarde, com uma conclusão piegas e inexpressiva. Para um ótimo longa falta muito, mas é possível perceber que funcionaria como um divertido jogo de ação para videogame.
Projeto Gemini estreia em 10 de Outubro nos cinemas.
Direção: Ang Lee| Roteiro: Darren Lemke, Billy Ray, David Benioff | Ano: 2019 | Duração: 117 minutos | Elenco: Will Smith, Mary Elizabeth Winstead, Clive Owen, Benedict Wong, Douglas Hodge, Ralph Brown, Linda Emond, E. J. Bonilla, Ilia Volok, Alexandra Szücs, Victor Hugo, Theodora Miranne.
Apaixonada por filmes e séries, queria transformar o mundo em um lugar melhor, deitada na minha cama, ligada na TV.
“Sou só uma garota ferrada procurando pela minha paz de espírito.” Kruczynski, Clementine (Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças).