Nota do Filme:
O filme Locke, de 2013, acompanha o personagem de Tom Hardy dentro de um carro do início ao fim, sem nenhuma cena fora do veículo e sem nenhum outro personagem a não ser por suas vozes através do telefone. Com estas características, seus realizadores precisaram ter muito cuidado para não criar uma história cansativa, visto que o risco de isto acontecer era muito grande. O resultado acabou sendo muito satisfatório, tornando-o um dos melhores lançamentos daquele ano. Faço essas observações iniciais pois foi impossível não pensar em Locke enquanto assistia a Oxigênio, longa que possui alguns pontos semelhantes, embora seja menos eficiente.
Uma mulher (Mélanie Laurent) desperta em uma câmara criogênica sem memória de quem é e de como chegou ali. Para piorar, o nível de oxigênio do lugar encontra-se em 35%, portanto ela precisa descobrir o que está acontecendo e como sair de lá antes que seja tarde demais, contando para isso com a assistência de uma inteligência artificial (voz de Mathieu Amalric).
Já que mencionei Locke no início, irei elencar alguns pontos que este compartilha com Oxigênio, que ajudam a explicar porque o primeiro foi bem-sucedido enquanto o segundo nem tanto. Para começar: o tempo. Steven Knight, diretor e roteirista de Locke, sabia que uma história passada dentro de um carro e com somente um ator em tela não poderia se estender em demasia, pois, por melhor que fosse, em determinado ponto se tornaria arrastada. Em função disso, optou por ser econômico e entregar uma produção de oitenta e cinco minutos, o que é fundamental para o sucesso de sua empreitada. Já Oxigênio possui cem minutos, algo que não se justifica mesmo com todas as revelações e flashbacks de seu último ato. O ritmo, aliás, é muito irregular, com informações mal distribuídas durante a narrativa e que diminuem o impacto pretendido pelo diretor Alexandre Aja (Predadores Assassinos) e pela roteirista Christie LeBlanc (estreante em longas).
Outro ponto que favoreceu Locke foi a atuação de Hardy. Além de ser o único a aparecer, o ator inglês tinha seu campo de ação literalmente reduzido, uma vez que, sempre atrás do volante, era filmado basicamente só do peito para cima, precisando concentrar toda sua atuação nas expressões faciais e nos tons de voz. Laurent passa por um desafio parecido, permanecendo deitada em suas cenas e dispondo, assim, de poucos recursos em um cenário claustrofóbico. Mas seu trabalho é competente, e a atriz consegue imprimir com eficácia os diferentes sentimentos experimentados por sua personagem à medida que a trama avança, precisando lidar com o desespero crescente causado pela queda nos níveis de oxigênio e o abalo perante o que vai descobrindo sobre sua situação.
Por isso, é uma pena o fato de o roteiro não colaborar com a atuação, cometendo os deslizes que mais comprometem a experiência do espectador. Ao invés de manter uma narrativa direta e sucinta, o enredo elaborado por LeBlanc mira em reviravoltas e desenrolares que, além da falta de ritmo já mencionada, não parecem combinar com a atmosfera de suspense e busca pela sobrevivência apresentada em sua primeira metade.
E isto ocorre porque, em última instância, diferentemente de Locke, Oxigênio não se preocupa exatamente apenas em observar as reações de uma pessoa comum que se viu diante de uma situação-limite com consequências aterradoras caso não encontre uma solução a tempo (o que já poderia ser muita coisa), como seu tom inicial dá a entender, mas utiliza esta premissa inserindo-a em um contexto de ficção científica, para aí sim apresentar seu verdadeiro interesse. Infelizmente, é neste passo a mais que o filme dá que ele perde sua força.
Historiador que acredita que a vida fica mais fácil quando vamos ao cinema.
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