Crítica | O Brutalista (The Brutalist) [2024]

“Não deixe ninguém te enganar, Zsófia. Não importa o que os outros tentem te dizer, é sobre o destino, não a jornada.”

Nota do Filme:

O Brutalista acompanha László Tóth (Adrien Brody), arquiteto húngaro recém-chegado aos Estados Unidos em busca do sonho americano. Após escapar de um campo de concentração no auge da Segunda Guerra Mundial, László tenta reerguer sua vida em um novo país, ao mesmo tempo em que anseia por reencontrar com a sua esposa Erzsébet Tóth (Felicity Jones). O fatídico encontro com o empresário Harrison Lee Van Buren Sr. (Guy Pearce), pode ser a solução para os seus problemas, mas o preço talvez seja alto demais.

Com mais de 3h30min de duração, o longa dirigido por Brady Corbet atraiu olhares em Festival Internacional de Cinema de Veneza. De produção curiosa, incluindo um formato muito pouco utilizado pela indústria – VistaVision – é fácil entender o porquê atraiu tanta atenção. É justo, porém, dizer que o foco principal do filme é o mito do sonho americano.

É extremamente emblemático, então, que a escolha de poster principal seja a Estátua da Liberdade invertida, o que serve para representar, visualmente, que o objetivo do protagonista é inalcançável. Isto porque, como um imigrante judeu, as oportunidades para László são extremamente limitadas.

Attila (Alessandro Nivola), primo de László, inicialmente o ajuda ao lhe oferecer um lugar para morar e um trabalho em sua loja de móveis. Ocorre que um desentendimento envolvendo a sua esposa Audrey (Emma Laird) faz com que László perca essa pequena rede de segurança.

A audiência percebe, desde logo, que o orgulho que o protagonista tem das próprias origens fará com que seja difícil se ambientar nos Estados Unidos. Ao contrário do seu primo, que abandonou as raízes judaicas para se adaptar ao arquétipo familiar americano – bela esposa, negócio familiar, sobrenome mais “tradicional” – László é, sempre, autêntico.

É justamente esta característica pessoal que torna o seu eventual embate com Van Burren Sr. um ponto de impacto na obra. Isto porque, a reação inicialmente aberta de Van Burren Sr. para as ideais do protagonista para o centro de convenções que quer construir, começa a se fechar à medida que o projeto avança e, mais importante, o dinheiro, começa a ser usado.

O Brutalista dialoga com o meio artístico, de um modo geral. Ao focar a história em um arquiteto, Corbet traça um interessante paralelo entre o seu protagonista – e as engrenagens que movem aquele ramo – e o atual estado da indústria cinematográfica.

A interferência constante em projetos artísticos parece ter afetado a sétima arte de forma basilar, e não faltam exemplos desta influência. Temos em László, então, um artista que não está disposto a ver a sua visão ser prejudicada, impondo-se contra seu próprio benfeitor, se necessário for.

Esta, inclusive, é a relação mais interessante de toda a trama e, possivelmente, duas das melhores performances do ano. Adrien Brody como László traz uma vulnerabilidade e sinceridade ao papel que é rara no cinema. O contexto, naturalmente, remete à audiência ao seu papel em O Pianista, que lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator em 2003. Em O Brutalista, contudo, há um contraste permanente no ator, que transita entre a humildade e o orgulho de forma perfeitamente natural.

Guy Pearce não fica atrás do seu companheiro de elenco. O seu trabalho, ao dar vida a Van Buren Sr. merece igual – senão mais – elogios. Seu personagem depende de um delicado equilíbrio, pois ao mesmo tempo que deve demonstrar genuíno interesse pelo meio artístico, deve haver aquele desprezo oculto pelo arquiteto.

A forma sutilmente condescendente com que trata László é impressionante. Isto porque Van Buren Sr., com toda a sua fortuna e poder, sabe que jamais se igualará ao gênio artístico de seu subordinado. Há, então, um quê de inveja nas interações que tem com ele.O Brutalista é, sem dúvidas, um dos grandes filmes de 2024. Com um elenco estelar, uma ótima direção e um roteiro diferenciado, tem como único “detrator” o fato de ter longa duração, o que pode afastar alguns espectadores. Contudo, inexiste minuto desperdiçado aqui, neste verdadeiro épico do século XXI.