Noite de Lobos começa como muitas aventuras sombrias de outrora: com uma jornada até o fim do mundo. Abre em definitivo com um homem vislumbrando através de uma carta enigmática e conturbada o que lhe aguardaria em sua chegada. Já aqui, o filme declara suas melhores e piores sensibilidades. Este novo thriller de Jeremy Saulnier é sobre o retorno às nossas raízes, em especial como contadores de histórias, como uma espécie e como criaturas mundanas. Animais, de fato. O diretor usa o filme para enfatizar esse regresso no atalho das sombras, do profano e do sobrenatural. O espectro do longa de Saulnier demonstra que até o fim dessa história o espectador não julgará se um dos protagonistas alcançarem uma arma antes de um crucifixo.
A trama engrena com um desaparecimento. Em um remoto vilarejo no norte do Alasca, Bailey (Beckam Crawford) é a terceira criança a sumir no pacato lugar, supostamente carregada por lobos para a morte. Sua mãe, Medora (Riley Keough), entra em contato com o naturalista aposentado e autor Russell Core (Jeffrey Wright) depois de ler seu livro Um Ano Entre Eles, onde relata seu convívio com alcateias e, como gancho para esta ligação, como caçou e matou um membro dela. Os dois desenvolvem um parentesco estranho, ligado pela solidão. A medida que Russell enxerga além do vilarejo, descobre que as coisas não são tão sem propósito quando aparentam. quando o marido de Medora, Vernon (Alexander Skarsgård) retorna para casa por conta de um acidente no Iraque, os eventos atingem um violento ponto de ebulição.
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Saulnier, que dirigiu os maravilhosamente aterrorizantes Ruína Azul e Sala Verde, tem uma visão da América potencialmente brutal. Ruína Azul é uma narrativa de vingança simples, em que um rancor de longa data irrompe em um novo ciclo de matança, enquanto Sala Verde segue uma luta entre uma banda punk e um grupo de neonazistas depois de um show. Noite de Lobos é algo diferente, um conto com um senso de grandeza e escala mítica. Situado nas extensões congeladas do Alasca, é carregado com imagens deslumbrantes e assustadoras de um país no seu ápice, mas não há conspiração sensata suficiente para fundamentar o filme na realidade que prende o espectador neste mundo. A partir da metade do filme, tudo parece colocar o pé no frio onírico sem fundo, mas sequer conclui isso.
A crueldade muitas vezes superficial da imagem será decepcionante para alguns, mas junto com as performances, é o aspecto mais forte. Eles captam o medo confuso de estar em conflitos que em torno de grande parte do restante da imagem caem de maneira mais tangível. Cada cena é confiantemente construída com uma visão clara, mas extremamente subjetiva e adaptada para os que realmente imergem na história. Assim, é questionável se o roteiro de Saulnier e Macron Blair oferece um modelo que muitas audiências vão querer ver e se entreter até o final.
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No entanto, é um prazer ver Jeffrey Wright – um ator sempre confiável que muitas vezes é desperdiçado – recebendo um raro papel principal bem no topo da sua forma, vendendo-nos silenciosamente em um homem que claramente internaliza muito bem. É uma performance profundamente sentida e, enquanto os personagens à sua volta podem sofrer muito menos profundidade, ainda há turnos impactantes de Riley Keough e James Badge Dale como o xerife local, Donald.
A habilidade de Saulnier brilha durante os grandes confrontos e conclusões abertas; ele pode fazer as cenas mais estilizadas parecerem obscuramente realistas. O tiroteio no meio do filme é como o seu bom acabamento brilha mais claramente, e ele consegue comunicar a complexa geografia do impasse de forma muito clara. Há momentos em Noite de Lobos – nenhum deles diretamente relacionado à trama – que são tão inquietantes e abrasadores quanto os melhores momentos de seus dois mais expressivos títulos. Ainda assim, o filme nunca é coerente fora desses momentos de vasão. Acaba, no final, proporcionando uma experiência decepcionante, confusa, mas inegavelmente fascinante.