Crítica | Morbius (2022)

Nota do Filme:

Pouco conhecido, Morbius é um personagem criado por Roy Thomas e Gil Kane, que surgiu nas histórias em quadrinhos do Homem-Aranha para rivalizá-lo. Trata-se de um médico, Dr. Michael Morbius (Jared Leto), com um raro distúrbio no sangue e determinado a encontrar a cura para salvar a si e a outros que sofrem da mesma condição. Essa busca desesperada apresenta um alto custo para o protagonista, o qual se usa de cobaia e acaba se transformando em algo diferente. Com isso, ele precisa aprender a lidar com sua nova versão.

Os personagens são apresentados ainda jovens: Michael e seu amigo Lucian/Milo (Matt Smith), ambos se tratam em um hospital destinado a cuidar de crianças com essa doença rara. Os dois são afastados um do outro e o filme passa aos dias atuais, 25 anos depois. A relação entre eles não se desenvolve na fase adulta, mas percebe-se que o entrosamento se manteve com o tempo. Outra amiga do protagonista é a Dra. Martine Bancroft (Adria Arjona), eles compartilham amizade, mas deixa clara uma possibilidade de relacionamento amoroso.

Usando de métodos não ortodoxos, Morbius começa a realizar experiências cruzando o DNA humano com o DNA de morcegos e quando pensa que encontrou a cura, usa seu próprio corpo como teste para o soro. Ocorre que a “medicação” o transforma em um pseudo-vampiro e o faz precisar de sangue para sobreviver. Ele ganha poderes sobre-humanos, capacidades iguais a de um morcego e os efeitos colaterais também o fazem mudar fisicamente, gerando músculos e presas nele. Não demora até que Milo saiba do estado atual do amigo e queira participar também desse processo de mudança.

Apesar de apresentar algumas camadas, o vilão não é desenvolvido e seu caráter muda conforme as transformações físicas surgem, mas não há elementos suficientes que sugiram isso. Faltou ao público entender por que o antagonista começa deliberadamente uma matança desenfreada e por qual motivo se vira contra todos a sua volta. A trama podia ter incluído a apresentação do verdadeiro caráter dele e construído a ideia de que, com poder, ele seria levado a tais consequências. Ou seja, é um vilão forçado, de forma apelativa.

Além do mais, as forçações não param por aí. Os agentes policiais Simon (Tyrese Gibson) e Rodriguez (Al Madrigal) são muito ingênuos, beirando o infantil. Como deixar de lado a única sobrevivente de uma chacina? E a médica, que participou de tudo, não questiona nada e simplesmente contribui com alguém que pode inclusive matá-la a qualquer instante. Há momentos em que falta lógica, como se todos fossem meio bobos e não percebessem o óbvio ao redor. O filme se vale das chamadas ‘muletas narrativas’, que ocorrem quando falta criatividade para fazer o enredo andar com veracidade.

Com furos de roteiro e piadinhas deslocadas, era para se esperar, no mínimo, que o longa não se levasse a sério, contudo, a obra se leva a sério demais e parece que seu objetivo é ser um filme de anti-herói sóbrio e taciturno, com pitadas de drama e até acerta nas cenas onde o terror é empregado. Mas, ao transitar por esses gêneros, a película se perde, não cria identidade e a trama se sabota, pretendendo muito e entregando pouco. No fim das contas, é apenas mais um filme para introduzir personagem na vastidão do universo cinematográfico Marvel.

Morbius estreia em 31 de março de 2022 nos cinemas. O longa conta com duas cenas entre os créditos, as quais confirmam a intenção de inserir o personagem nesse universo, mas que serão confusas àqueles que não conhecem o UCM.

Direção: Daniel Espinosa | Roteiro: Burk Sharpless, Matt Sazama | Ano:2022 | Duração: 108 minutos | Elenco: Jared Leto, Matt Smith, Adria Arjona, Jared Harris, Al Madrigal, Tyrese Gibson, Michael Keaton, Zaris-Angel Hator, Joe Ferrera, Charlie Shotwell, Joseph Esson, Jason Rennie, Aryan Moaven, Christopher Louridas, Oliver Bodur, Tom Forbes.