Pensar em “Meu ódio será sua herança” é pensar em um filme longo demais para a forma que foi feito, se tornando cansativo em certos momentos e muito bem feito em outros, mesmo que eles demorem um pouco para chegar, devido a já citada duração.
Dirigido por Sam Peckinpah e lançado em 1969, a obra conta a história de Pike (William Holden), o chefe de um bando que busca fazer um último roubo para se aposentar com o dinheiro. Ele é perseguido por Thornton (Robert Ryan), um ex membro do grupo que foi preso e agora tenta pegar seu antigo parceiro em troca da liberdade. Assim, eles se encaminham em direção ao México, onde Pike realizará um roubo de trem e venderá as armas ali guardadas.
A obra, apesar de escrita pelo autor da história original em conjunto com o próprio diretor, não tem um roteiro bem estabelecido e dividido, impressionando apenas por se tratar de um filme que fala do fim do faroeste e pelas longas sequencias de ação, as quais usa para tentar estabelecer a história.
Se normalmente um filme é dividido em três atos, pode-se dizer que no caso de “Meu ódio será sua herança”, é dividido em três sequencias de ação, cada uma com a duração de dez a quinze minutos e todas bem criadas e condizentes com o objetivo da obra, já que, aparentemente, o ponto principal é chamar a atenção pela violência.
Mesmo para os padrões atuais, a projeção é bem violenta, cenas em slow motions e closes frequentes nos tiros durante o impacto da bala, lutas viscerais e caóticas, principalmente a fabulosa cena inicial, todos os personagens envolvidos na ação de maneira direta e brigas sem o envolvimento das armas de fogo.
Também é interessante como o filme representa uma fase de transição, está claro que Peckinpah mostra o fim do faroeste, através de detalhes que podem passar despercebidos, muitas das armas já são automáticas ou semiautomáticas, substituindo as pistolas tradicionais de seis tiros, o vilão não usa um cavalo e sim um carro vermelho, uma das sequencias de ação tem uma metralhadora como principal ponto de destaque e algumas das roupas não são as clássicas do velho oeste, mesmo estando sujas de areia.
Mas, a obra tem cenas desnecessárias, como aquelas que tentam fazer algo mais voltado para o humor, o que quebra o ritmo da disputa entre Pike e Thornton, a maioria das cenas são mais voltadas para Pike do que para Thornton, sendo que o último é igualmente importante, além disso, o filme apenas busca se estabelecer pela ação e não pelos diálogos, atuações ou estrutura, o que assim como as cenas de humor, quebra o ritmo, pois os poucos diálogos são pobres, as atuações seguem o esperado de um faroeste (sendo que a intenção não é essa) e a estrutura é convencional, sem ousar quando a intenção do filme é ousar.
Logo, Peckinpah cria uma obra necessária, que representa um período de transição importante no cinema, se a maioria (ou ao menos boa parte) dos faroestes é em preto e branco, esse é colorido, as armas tradicionais são trocadas por automáticas, cavalos são trocados por carros, mas se tudo é trocado em um aspecto evolutivo, o que deveria ter evoluído de fato, que era a qualidade do filme pela tecnologia a disposição, isso ainda se manteve, fazendo de “Meu ódio será sua herança” um filme médio quando poderia ter sido extraordinário.
Formado em Jornalismo e apaixonado por cinema desde pequeno, decido fazer dele uma profissão quando assisti pela primeira vez a trilogia “O Poderoso Chefão” do Coppola. Meu diretor preferido é Ingmar Bergman, minhas críticas saem regularmente aqui e no assimfalouvictor.com