Joachim Trier é um diretor que gosta de assuntos difíceis de serem passados para a tela e encaixados em um roteiro adequado. Essa opção temática fica clara a partir de filmes como “Oslo, 31 de agosto” – história de um rapaz que acaba de sair da reabilitação, devido a diversos problemas – e nesse “Mais forte que bombas” um assunto mais difícil é abordado.
Estrelado por Isabelle Huppert, a obra conta a história da família desta, formada pelo marido e dois filhos, Jonah – interpretado por Jesse Eisenberg de “A Rede Social” – e Conrad – representado por Devin Druit. Acompanhamos como os dois, principalmente Conrad, o filho mais novo, lida com a situação.
Quase sempre o filme é com a câmera próxima dos personagens, para focar nas expressões destes e passar a impressão necessária para o público criar empatia. Porém, apesar dessa decisão acertada, os cortes do filme deixam a obra fora de ordem, e em determinados momentos, alguns deles cruciais, prejudicando a projeção em termos de ritmo.
Claro que isso também se deve ao roteiro, que apostou na desordem da cronologia para transmitir sensações necessárias em momentos diferentes da trama, em alguns casos, isso funciona perfeitamente, como na cena em que vemos as mesmas coisas por dois pontos de vista diferentes – o do pai e o de Conrad – mudando totalmente o pensamento construído em relação aos personagens naquela hora.
Porém, mesmo com esses momentos de “tentativa – erro’, o filme sobrevive graças as atuações de seu casal principal e pelos diálogos que esses dois constroem (ou não) com as pessoas a sua volta. É a partir deles que é possível notar como a tristeza sentida pela morte de um membro importante e amado da família os prejudicou – inclusive em suas relações fora do ambiente do lar – e claro, como a depressão da personagem de Huppert afetou toda a família.
Fica exposto que a personagem viajava a trabalho sem nenhuma necessidade, apenas para sair da rotina de casa (esta, nunca especificada) e tentar esquecer, através do trabalho que amava, tudo aquilo que a afetava e a prejudicava psicologicamente falando, além disso, ela era uma mãe ótima, principalmente com o filho mais novo, já que a diferença entre os dois é grande, assim, a atenção não dada pelo pai a Conrad, era substituída pela mãe nos momentos em que ela estava em casa.
Justamente por essa atenção, fica difícil condenar a decisão do pai (representado por Gabriel Byrne) de não contar a Conrad a real causa da morte da mãe, ele sabe que não é bom pai e tenta substituir a figura materna de vários jeitos, como namorando uma outra mulher (professora de Conrad) e tentando dar mais atenção ao filho em áreas dominadas por este e quase desconhecidas para aquele, como, por exemplo, no caso do jogo de videogame que o rapaz joga.
Através dos diálogos e narrações em off, a obra aborda o estado psicológico dos dois protagonistas de maneira diversa, sensível e sem apelar ao clichê e aos maniqueísmos tão frequentes em obras audiovisuais que usam o mesmo assunto como temática, e, claro, não exagera e nem tenta forçar em choro em nenhuma cena.
Portanto, “Mais Forte que bombas” é bem-sucedido na sua proposta, mesmo com um erro ou outro, o filme é sensível o suficiente para nos cativar do começo ao fim, e, sem dúvida, não podemos nos esquecer de mais uma grande atuação de Isabelle Huppert.
Formado em Jornalismo e apaixonado por cinema desde pequeno, decido fazer dele uma profissão quando assisti pela primeira vez a trilogia “O Poderoso Chefão” do Coppola. Meu diretor preferido é Ingmar Bergman, minhas críticas saem regularmente aqui e no assimfalouvictor.com