Nota do Filme:
O longa é baseado no livro Kardec – A Biografia de Marcel Souto Maior e mostra a trajetória do educador francês Hypolite Leon Denizard Rivail (que posteriormente adotou o pseudônimo Allan Kardec) desde o período em que era professor, passando pela investigação dos fenômenos mediúnicos, pelo processo de codificação da doutrina espírita, até a publicação e repercussão de O Livro dos Espíritos, em que marcou a fundação do espiritismo. A princípio tão cético que nem ao ver mesas girarem no ar e ditarem, ao som de pancadas, mensagens atribuídas ao além, perde essa incredulidade. Contudo, mesmo com desconfiança resolve estudar o fenômeno, como se observa na seguinte passagem do livro em que se inspira o filme (pág. 18):
“Entrevi, naquelas aparentes futilidades, no passatempo que faziam daqueles fenômenos, qualquer coisa de sério, como a revelação de uma nova lei, que tomei a mim investigar a fundo. Havia um fato que necessariamente decorria de uma causa”.
O protagonista é um professor, homem da razão e da ciência e quando começa a questionar suas convicções é que a história inicia seu curso. Como educador, ele ensina aos alunos à maneira de John Keating (personagem de Robin Williams em Sociedade dos Poetas Mortos), envolvendo-os e motivando-os. É quando o Padre Boutin (Genézio de Barros) entra em cena, que as crianças mudam o comportamento e retomam a compostura, demonstrando medo do religioso. A intenção aqui é clara de apresentar o Padre como um homem temeroso, tornando-se, mais tarde, praticamente o vilão da história. Até a música de fundo ganha um tom ameaçador com a presença dele. É nessa falta de sutilidade, com a intenção escancarada de definir quem é o mau e o bom da história que a película começa a pecar, demonstrando contornos quase infantis à narrativa.
A Igreja Católica interveio de diversas maneiras para tentar conter o crescente avanço da doutrina espírita, cerceando inclusive o direito de liberdade à religião. Todavia, a forma como foi retratada essa invasão na propagação dos ideais espíritas foi quase como se a Igreja fosse o estereótipo do mal, beirando um maniqueísmo religioso.
Leonardo Medeiros (Hippolyte Léon Denizard Rivail/Kardec) fez um ótimo trabalho, com gestos precisos, contidos e bem executados. Por sua vez, apesar da boa atuação, Sandra Corveloni, que interpretou sua esposa Amélie-Gabrielle Boudet, só teve uma função no longa: ser a esposa. Por toda a história ficou à sombra do marido. Não teve desenvolvimento e só serviu para apoiá-lo em suas decisões.
O diretor Wagner de Assis (Nosso Lar) subestima de maneira contundente a inteligência do espectador. Cita-se a cena na qual o personagem repete um movimento com as mãos e na cena seguinte, a médium Ermance Dufaux (Louise D’Tuani), que o incorpora, repete da mesma forma. Como se já não estivesse claro o bastante, ainda retomam a cena dele fazendo o mesmo movimento contínuo para firmar que ela o está “imitando”, visto que, na verdade, é ele que está ali usando seu corpo. Tal recurso visual foi absolutamente desnecessário para compreensão do episódio (no estilo Brian de Palma – Vestida para Matar), depreciando a capacidade do espectador, no que diminui a própria obra.
A fotografia é muito bonita, o figurino não deixa a desejar e o filme conta com belos cenários muito bem construídos e cores sóbrias, num tom sépia, que permeiam toda a película. Essa seriedade na produção confere credibilidade à história e à forma como foi contada. No entanto, a trama é repleta de lugar-comum e os diálogos, apesar de bem construídos, possuem muitas “frases de efeito”, tornando-se até mesmo artificiais. A direção de arte é bela, mas não é capaz de salvar a obra.
É inegável a contribuição dos estudos do professor Kardec à doutrina espírita e a iniciativa da produção de um longa a esse respeito é muito positiva e importante para divulgar sua história, tendo em vista que conta a trajetória do grande doutrinador, que ajudou a transformar o Brasil no maior País espírita do mundo.
O filme tem estreia prevista para 16 de maio nos cinemas nacionais.
Apaixonada por filmes e séries, queria transformar o mundo em um lugar melhor, deitada na minha cama, ligada na TV.
“Sou só uma garota ferrada procurando pela minha paz de espírito.” Kruczynski, Clementine (Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças).