Nota do filme:
Ingresso para o Paraíso traz de volta Julia Roberts (Georgia Cotton) ao gênero que ela domina e ao lado de George Clooney (David Cortton) a veterana protagoniza a leve e descontraída comédia romântica. Ambos interpretam um casal divorciado que vive às farpas, mas se une para impedir que a filha, Lily (Kaitlyn Dever), case-se com um rapaz, Gede (Maxime Bouttier), que acaba de conhecer.
Lily viaja para Bali com a amiga Wren Butler (Billie Lourd) a fim de comemorar a formatura das duas, no entanto o que era para ser apenas uma viagem de férias acaba sendo a descoberta de um novo amor. Ela se apaixona por um nativo da ilha e decide desistir de sua jornada nos EUA para se casar com o jovem e viver esse romance na Indonésia. Ocorre que seus pais surtam ao saber da decisão e partem às pressas para tentar sabotar o casamento da filha.
É certo que o romance nunca sai de moda e a comédia romântica se estabeleceu como um gênero leve e agradável, fácil de assistir, mas que, geralmente, carrega muitos clichês. Ingresso para o Paraíso não consegue evitá-los e ainda é bastante previsível, no entanto com Clooney e Julia como protagonistas não será difícil agradar ao público geral.
E há que se considerar que é divertido ver os dois juntos nas cenas mais descontraídas. Fica evidente que estavam de verdade curtindo o momento. Ambos não precisam provar nada a ninguém e estão ótimos em seus papéis, mas embora tenham se divertido na produção, como se nota claramente nos erros de gravação ao final da película, não foram suficientes para salvar uma narrativa sem graça.
A presença de Lucas Bravo, que vive Paul, o namorado de Georgia, leva o longa ao humor pastelão. A persona dele além de insignificante, beira à infantilidade, não é crível, não convence. Por sua vez, a personagem secundária, Wren, flerta algumas vezes com um aprofundamento em sua história, mas é contida todas as vezes e não apresenta as camadas que poderia, restando apenas como mero alívio cômico.
Para comédia faltou graça e para romance careceu de história, paixão, enlace amoroso. Os protagonistas mais pareciam dois grandes amigos com intimidade suficiente para se maltratarem e ficarem bem depois do que um ex-casal que ainda guarda sentimentos platônicos. Nota-se também um certo deboche à cultura do povo da Indonésia, mas talvez a ideia tenha sido mostrar a ignorância dos americanos quanto aos costumes alheios.
Percebe-se que o filme bebe da fonte de Podres de Rico (Jon M. Chu, 2018), mas não tem a mesma personalidade. Aqui a cultura exótica fica em segundo plano. Segue mais o estereótipo do casal que briga a todo instante, mas não consegue ficar longe. Fica claro que as alfinetadas se devem exatamente ao amor que ainda sentem e não querem admitir, escondendo o sentimento em briguinhas sem sentido e infantis. Lógico que arranca facilmente um sorriso do rosto do espectador, mas não segura por muito tempo. A narrativa é cansativa, porque é bem limitada.
Conta também com o confronto entre pais e filhos, seguindo a velha história de pais que cometem erros achando que estão fazendo o melhor para os filhos, quando, na verdade, apenas não percebem que as crias crescem e tomam as próprias decisões e erradas ou não devem ser respeitadas. É uma bela e simplória mensagem de pano de fundo. A parte séria do enredo não passa muito disso, não se aprofunda, por exemplo, nos motivos para o término da relação. E é o que menos importa, porque o foco está nas estrelas da obra.
O que foge ao roteiro típico das comédias românticas é que aqui e ali se percebe uma inversão dos papéis de gênero. Como exemplo, é a personagem feminina que está com alguém mais novo, fugindo do estereótipo de o homem estar com uma menina mais jovem e fútil. Em Ingresso para o Paraíso é o contrário. Além de se ver a mulher tomando a iniciativa. Mas, no mais, nada novo. Na verdade, é o ex-casal que faz a diferença. O que funciona é o talento deles nas piadas, no timing e na química que possuem juntos.
Com cenários lindos e um visual encantador, o açucarado Ingresso para o Paraíso aposta na beleza do ambiente e na simplicidade da trama, mas, acima de tudo, nas estrelas protagonistas. Previsível, é um “água com açúcar” simples e agradável, mas não oferece muito mais do que se lê na sinopse. O filme é leve, descontraído e esquecível, mesmo com os dois astros nos papéis principais não deve sustentar na memória do espectador por muito tempo.
Ingresso para o Paraíso estreia em 07 de setembro de 2022 nos cinemas. Conta com cenas entre os créditos.
Direção: Ol Parker | Roteiro: Ol Parker, Daniel Pipski | Ano: 2022 | Duração: 104 minutos | Elenco: George Clooney, Julia Roberts, Kaitlyn Dever, Billie Lourd, Lucas Bravo, Maxime Bouttier, Dorian Djoudi, Ilma Nurfauziah, Romy Poulier.
Apaixonada por filmes e séries, queria transformar o mundo em um lugar melhor, deitada na minha cama, ligada na TV.
“Sou só uma garota ferrada procurando pela minha paz de espírito.” Kruczynski, Clementine (Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças).