Crítica | High Life (2018)

Nota do filme:

O surgimento da vida intriga a mente humana desde sempre, levantando infinitas suposições sobre sua origem e como é o seu funcionamento. Por estar diretamente associada a todos, há uma necessidade de entender isso para assim reproduzi-la por todo o universo, de forma a alcançar a dominação ou apenas para conservação da espécie.

“Um grupo de criminosos aceita um acordo para trocar suas penas pela participação em uma missão espacial à procura de energias alternativas, mas a viagem toma rumos inesperados quando uma tempestade de raios cósmicos atinge a nave.”

Claire Denis faz a sua estreia em língua inglesa com, talvez, o filme mais ousado de sua carreira, pelo menos desde Bom Trabalho (1999), propondo uma abordagem ousada em um tema que é bastante utilizado no gênero, dando um frescor a essas narrativas pois sua incursão se torna exitosa.

É visível a influência do diretor Andrei Tarkovski no filme, principalmente de Solaris (1972), apesar da proposta dos dois serem totalmente diferentes, o que não implica que não podem ter características em comum. Pelo contrário, a questão da existência é bastante similar ao que acontece com os personagens nos dois filmes, apenas ocorre de maneira diversa.

Por conta disso, Robert Pattinson demonstra o desespero existencial frente a imensidão do espaço, o que resulta em seu pânico interior quase o fazendo esquecer de sua humanidade, com ela sendo preservada por Willow, a personagem que é o motivo pela incursão espacial.

Apesar de Pattinson ser o destaque do elenco, muito por conta de ele ser o único sobrevivente da nave, o roteiro utiliza um artifício que cria o dinamismo na narrativa: utilizar personalidades unidimensionais para o resto do elenco, à exceção Juliette Binoche. As crenças que eles possuem em relação a esse programa governamental não precisam ser aprofundadas, pois essa opinião sucinta resulta em mais uma camada deles próprio, movendo a narrativa.

Ademais, apesar de ser um filme de ficção científica, o texto procura dar um tom mais humano na narrativa, utilizando da ciência como metáfora que complementa a proposta, por exemplo, ao abordar a vastidão do universo como o mundo interno que há no ventre da mulher quando se cria a vida.

Ainda, o filme vai além da ideia inicial do projeto de vida e consegue realizar uma abordagem sobre a questão sexual da reprodução e utilizar isso como um simbolismo. Nesse caso, Denis cria uma atmosfera sexual em volta da personagem de Binoche, a cientista responsável pelo projeto, que, aliada do grande talento da atriz, transforma o experimento em uma aventura sensual ou vice-versa, pois um está ligado ao outro.

Além disso, a fotografia tem um importante papel de diferenciar as emoções, principalmente com a cor vermelha, separando luxúria, castidade, paixão e raiva. E, apesar disso, por utilizar uma paleta predominantemente monocromática, consegue executar muito bem essa função.

O que difere o filme dos outros do gênero, porém, é a sua montagem, composta por flashforwards e flashbacks, estabelecendo múltiplas linhas do tempo que criam uma sensação onírica conforme a narrativa vai se desenrolando, além de criar o mistério que ronda sobre o experimento, tanto para a audiência como para os tripulantes.Portanto, High Life se torna mais um ótimo filme do gênero que traz um frescor para essas narrativas, além de poder servir como porta de entrada a filmografia da diretora por conta da sua acessibilidade, cuja carreira vale a pena de ser conferida.