Nota do filme:
O amor pode ser explicado em diversas palavras e sinônimos, porém quem sente ou já sentiu isso, sabe como pode ser definido esse sentimento presente na raça humana. A obra polonesa ”Zimna Wojna” — Cold War em inglês e Guerra Fria na tradução brasileira — pode ser visivelmente delimitada como um romance improvável.
O longa segue a história apaixonada entre duas pessoas que se encontram durante uma época onde o país está em ruínas. Durante a Guerra Fria, entre a Polônia stanilista e a Paris boêmia dos anos 50, um maestro amante da independência e uma jovem cantora com histórias e temperamento distintos vivem um amor impossível em tempos difíceis.
A direção deste longa fica a cargo de Pawel Pawlikowski, responsável pelo vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro Ida, de 2013. Mais uma vez ele opta pelo estilo preto e branco, mas agora, utiliza o aspecto 1:33:1 — se você já assistiu filmes SD em uma TV HD, sabe como é esse modelo — causando uma maior imersão durante a projeção.
Assim como em Ida, o diretor foge do tradicional padrão narrativo, onde mostra, minuciosamente, os conflitos e momentos de ternura dos personagens. As sequências são sucintas e operantes, já que são apenas 82 minutos de projeção. É possível ressaltar isso através do arco romântico do casal, que são dosados a diversos saltos temporais e poucos diálogos. Dito isso, vale lembrar que existe espaço para as sequências que envolvem música. Elemento presente quase em todo filme.
Aproveitando o gancho sobre a fotografia, vale ressaltar o brilhante trabalho de Lukasz Zal, também responsável por Ida. Existe uma gama significativa de sequências onde Zal explora o cenário gelado da Polônia: cenas onde a câmera foca nos vidros, aumentando o campo de profundidade; cenários claustrofóbicos para enfatizar a dor que o personagem está passando; foco no destroços feitos pela guerra. É um trabalho tão preciso que causa a sensação de que estamos assistindo um longa-metragem europeu dos anos 60.
O elenco é pequeno, porém operante. Destaque para o casal de protagonistas, interpretado por Joanna Kulig e Tomasz Kot. Como foi dito no quarto parágrafo, o longa evita cenas corriqueiras da vida e populares do gênero, o foco principal é como eles lidam com os conflitos ao decorrer dos anos. No entanto, isso não quer dizer que Guerra Fria é um filme sem emoção. Longe disso. É possível notar a intensidade do amor deles, a necessidades desses encontros durante a década de 50, a insegurança dos personagens e as diferenças que ambos carregam em sua bagagem.
A música também merece destaque, pois realça a emoções dos personagens através dos arranjos musicais da Polônia. Ora em ambientes abertos com festividades; ora em bares pequenos repletos de melancolia.
Com uma conclusão semelhante a romances literários do século XIX, Guerra Fria proporciona uma história de amor contida, melancólica e agridoce, deixando o público constantemente hipnotizado com a fotografia. A Polônia chega com força total para o Oscar 2019.
***Guerra Fria foi exibido no Festival do Rio 2018.
Carioca da gema e Jornalista. Completamente apaixonado pela filmografia de David Lynch e Paul Thomas Anderson. Nas horas vagas, costumo assistir filmes da Criterion Collection ou da A24, além da vasculhar discografias de Indie Rock e Alternativo.