Crítica | Fúria Primitiva (Monkey Man) [2024]

Em um mundo dominado pela violência e pela desigualdade social, um homem busca redenção através da vingança em “Fúria Primitiva” (Monkey Man), o novo filme intenso e instigante de Dev Patel. O ator, conhecido por seus trabalhos em “Quem Quer Ser Um Milionário“, “Lion” e “A Lenda do Cavaleiro Verde“, faz sua estreia como diretor neste longa-metragem que tem a intenção de prender o público do início ao fim com as lutas frenéticas e a reflexão sobre a sociedade em que vivemos.

É nítido que Dev Patel apostou tudo no longa. O ator se entrega de corpo e alma ao papel de Kid, um lutador anônimo que ganha a vida em um clube de lutas underground. Conhecido como Monkey Man, pela máscara de macaco durante as lutas, Kid é muito mais do que um herói convencional. Ele é um homem marcado pelo passado, um ser ferido que busca na vingança uma possível cura para suas feridas. E é essa vulnerabilidade que o torna cativante. Ele é atrapalhado e vemos esse nervosismo em cada cena de luta.


Quanto à ação, muitos compararam Monkey Man ao estilo de “John Wick“, e não sem razão. As cenas frenéticas, iluminadas por neons e mergulhadas em adrenalina, ecoam o estilo do lendário assassino. – mas o longa de Dev Patel optou por ser mais ousado, ou pelo menos, mais político. Inspirado pela lenda hindu de Hanuman, o deus macaco símbolo de força e coragem, o longa de Dev Patel, Paul Angunawela e John Collee, e com produção de ninguém menos de que Jordan Peele, ousa ao trazer à tona críticas sociais e políticas, pintando um quadro dolorosamente realista da Índia contemporânea, com todas as suas injustiças e contradições.

A história se passa na Índia, um país com grandes contrastes sociais, e o filme não se amedronta em mostrar a brutalidade da pobreza e da corrupção que assolam o país. Talvez essa mesma ousadia que tenha afugentado a Netflix. Inicialmente, a plataforma seria a responsável pela exibição do filme, mas optou por vender o longa que, posteriormente, foi acolhido pela Monkeypaw Productions, produtora de Jordan Peele.


A primeira meia hora de filme não convence muito e pode ser um tanto confusa. A impressão é a de que o longa ainda está tentando encontrar a sua melhor versão para contar a história de forma que o público se envolva. Mas isso é rapidamente contornado conforme a vingança de Kid toma proporções cada vez maiores. Vemos todo o esforço e talento de Patel, que precisa dirigir a si mesmo em uma sequência de cenas de lutas frenéticas.


A fotografia cria um retrato sombrio e vibrante de uma Índia urbana em crise. Com tons terrosos e sombras profundas, cada cena é um convite para uma jornada intensa. Os planos sequência longos e a câmera na mão colocam o espectador no centro da ação, na tentativa de fazê-lo sentir cada golpe. O longa também faz uso de planos claustrofóbicos para criar uma sensação de desorientação, refletindo o estado mental fragilizado do protagonista.

As cenas de luta são bem coreografadas, Patel demonstra grande habilidade física e entrega uma performance digna dos filmes de ação, transmitindo a dor, a raiva e a determinação de Kid de forma crua e realista. Mas, Monkey Man não se limita a ser apenas um filme de ação e vingança. Em um dos momentos mais marcantes do filme, Kid se infiltra em um evento frequentado pela elite indiana. Lá, ele enfrenta um político corrupto responsável por um massacre em uma comunidade pobre. Kid encontra força nas tradições e na mitologia de sua cultura para confrontar a hipocrisia da classe dominante e a falta de justiça social.


Claro, o filme não é perfeito. Em alguns momentos, a trama pode parecer previsível, e por vezes segue à risca as fórmulas do gênero. No entanto, o que falta em originalidade é compensado em execução. Monkey Man entrega o que promete: duas horas de pura adrenalina e reflexão, deixando o público com um gostinho de satisfação no final.

Dev Patel prova mais uma vez seu talento inegável, não apenas como ator, mas também como diretor. Seu trabalho é promissor e demonstra o seu potencial como cineasta engajado e talentoso. Mal podemos esperar para ver o que ele nos reserva no futuro.

Nota do filme: