Em geral, filmes que abordam o jovem na sociedade são muito bem recebidos, tanto por crítica quanto por público, basta ver o sucesso dos filmes de John Hughes, como “Clube dos Cinco” e, mais recentemente, filmes como “As Vantagens de ser invisível”.
Sendo assim, “Eu, você e a garota que vai morrer” teve um caminho difícil a percorrer nas audiências, já que a formula de filmes desse tipo já é bem conhecida, porém, o filme dirigido por Alfonso Gomez-Rejon e lançado no ano de 2015 é inovador, por focar nos diálogos e usar os pensamentos de seu personagem principal para dar complexidade a história.
Mesmo que esta tenha tons de leveza, ela é pesada dramaticamente, Greg é um rapaz no último ano de ensino médio, de popularidade relativa, ele conhece a todos, mas não aprofunda a relação com ninguém, com exceção de Earl, amigo de infância e com o qual faz parodias de grandes filmes. Ao ser obrigado pela mãe a visitar Rachel, uma jovem também no ultimo ano do ensino médio, pois essa descobriu que está com leucemia, Greg passa a fazer o nunca feito antes, se aprofundar em uma relação, fora da existente entre ele e Earl.
A obra usa de uma estrutura bem ousada, pois o filme é narrado por Greg – em um voiceover excelente a ser discutido a seguir – e a montagem segue essa narração, os cortes são adequados aos momentos de fala em off do protagonista, seguindo uma ordem inteligente, por associar a vida pessoal do rapaz e o relacionamento com Rachel as dúvidas frequentes nessa fase da vida.
Logo, ao reparar nisso, não é surpreendente que o filme use de cores mais claras nas cenas passadas fora da escola, como por exemplo, as na casa de Rachel e todas as cenas com Earl, pois essas representam momentos felizes e seguros, e em compensação, em cenas passadas na escola ou no hospital, a cor predominante seja o cinza, para expor as dúvidas e os medos sentidos por Greg.
O roteiro tem diálogos muito bem construídos, sensíveis na maior parte do tempo com uma leve dose de diversão, nada exagerado, mas também não busca forçar a tristeza, pois sabe que a premissa do filme é triste sem precisar de clichês. O voiceover é bem utilizado, não apenas pela questão estrutural já citada, mas principalmente porque acrescenta pontos a serem discutidos na obra, aprofunda o personagem de Greg e traz complexidade ao ambiente no qual o filme está inserido, ao contrário de muitas narrações em off, que apenas repetem aquilo já mostrado, sem adicionar em nada e sendo perfeitamente dispensável.
Ainda assim, o filme tem um plano sequência completamente injustificado e inútil perante a trama, além de movimentos de câmera desnecessários, porém, esses dois erros ocorrem no primeiro ato, prejudicando o inicio da fluidez da obra, mas não o seu final, já que os diálogos sensíveis compensam esses erros bobos, que aconteceram devido a tentativas de inovar sem nenhuma necessidade.
Portanto, “Eu, você e a garota que vai morrer”, consegue trazer coisas novas a um subgênero que corre o risco de se tornar desgastado daqui a um tempo, porém, agora, continua apresentando boas projeções e sendo rico em criar filmes inéditos e originais.
Formado em Jornalismo e apaixonado por cinema desde pequeno, decido fazer dele uma profissão quando assisti pela primeira vez a trilogia “O Poderoso Chefão” do Coppola. Meu diretor preferido é Ingmar Bergman, minhas críticas saem regularmente aqui e no assimfalouvictor.com