Depois de levar o público aos horrores da guerra em Nada de Novo no Front (2022), o diretor Edward Berger agora nos transporta para um campo de batalha um tanto diferente em Conclave. Desta vez, o cenário é o Vaticano, onde a morte do Papa dá início a uma batalha silenciosa, travada sob os olhos atentos de Deus e dos homens.
Na trama, o Cardeal Lawrence (Ralph Fiennes), é o decano do Vaticano e o responsável por conduzir o conclave, um processo muito antigo e secreto da Igreja Católica para escolher o novo Papa. O que à primeira vista parece ser puramente um processo de fé logo se revela um jogo de poder, com cardeais de todo o mundo reunidos, cada um com seus próprios valores e segredos.
A direção de Berger faz a tensão crescer ao alternar entre os planos abertos que destacam a grandiosidade da Capela Sistina e os claustrofóbicos corredores e salas de reunião, onde a trama acontece de fato. Aqui, é como se o público fosse levado a espionar os segredos do Vaticano, sendo arrastados para um labirinto político e imersos em um verdadeiro jogo de espionagem.
Essa tensão se reflete em todos os detalhes, até mesmo nas pinturas renascentistas que parecem mais atuar como testemunhas. Para o Cardeal Lawrence, por exemplo, elas são mais do que isso. Seus olhares penetrantes parecem seguir seus passos a cada segredo descoberto e a cada decisão difícil que ele precisa tomar. A pressão não vem só da responsabilidade religiosa, mas de toda incerteza que o acompanha o tempo todo. E Fiennes traduz essa luta com maestria, fazendo o público sentir a sua dor e angústia ao querer fugir daquele meio, mas sendo constantemente arrastado para o mesmo.
O mais surpreendente em Conclave é a maneira como a trama consegue transformar um evento aparentemente pacífico em um grande thriller psicológico. As intrigas, a luta por poder e a constante dúvida sobre qual caminho seguir criam uma tensão quase que palpável. O filme é repleto de dilemas morais e leva o público a questionar até onde os valores espirituais são realmente levados em consideração quando o poder está em jogo.
Mais do que um simples relato de um processo eleitoral religioso, Conclave é uma reflexão sobre a natureza humana e sobre as complexidades da fé em um mundo onde interesses pessoais e ambições políticas se entrelaçam. O filme nos faz refletir sobre os limites tênues entre o sagrado e o humano, uma linha tão fina quanto a fumaça branca que, no final, anuncia a escolha do novo Papa.
Adaptado do suspense de Robert Harris, Conclave está concorrendo a 8 categorias no Oscar de 2025, incluindo Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator e Melhor Filme. A cerimônia de premiação será no dia 2 de março, em Los Angeles.