Nota do filme:
É notável como Terrence Malick, quando foca em contar histórias simples e diretas, se dá muito melhor do que com as histórias e metáforas complexas. “Cinzas no Paraíso”, de 1978, é um exemplo de como o diretor é talentoso com a simplicidade, criando um filme visualmente belo e envolvente.
Acompanhamos a jornada de uma família, Bill (interpretado por Richard Gere), Abby (interpretada por Brooke Adams) e Linda (interpretada por Linda Manz). Eles saem de Chicago e vão até o interior dos Estados Unidos, onde o casal passa a trabalhar em uma fazenda de plantação de trigo. O rico fazendeiro se apaixona por Abby, deixando Bill com ciúmes.
Malick estabelece bem essa trama através da fotografia (de Haskell Wexler) e do roteiro. O primeiro ponto, usa o widescreen para criar paletas de cores belíssimas, em compensação, a história da família se mistura em parte com a história norte americana, pois o filme se passa em uma época de economia predominantemente agrícola.
Os planos, em sua maioria gerais no primeiro ato e com alternância entre plano americano e primeiro plano do segundo ato para a frente, usam as cores claras do trigo e o contraluz para expor os sentimentos dos personagens, principalmente de Bill, como na cena que ele está trabalhando e é mostrado na sombra, já sabendo do amor existente entre Abby e o fazendeiro, ou na bela cena do incêndio, apenas com a luz do fogo iluminando os personagens.
A alternância citada acima serve para expor como os personagens estão divididos entre se manter na zona de conforto ou sair dela para buscar uma vida melhor, assim, se Malick passa a criar mais quadros próximos ao personagem, é para o público criar empatia e se sentir identificado com as dúvidas que eles sentem ao longo das uma hora e 34 minutos de projeção.
Claro, para a proximidade ser efetiva com o espectador, as atuações devem ser envolventes e se tem uma performance que envolve é a de Richard Gere, pois os sentimentos que ele passa são difíceis e mudam quase toda hora, a felicidade e o amor que sente pela irmã, o amor carnal que sente por Abby e o ódio que demonstra pelo fazendeiro, são perfeitamente passados pelo ator.
Até porque, se tem algo que ele sente é ódio, ele quer ser aquele fazendeiro, um homem rico, bem-sucedido e essa vontade apenas nasce quando o sentimento mutuo de amor entre este e Abby é revelado, Bill precisava de um motivo concreto para odiar o fazendeiro e no ciúme, o encontrou.
Portanto, Terrence Malick, usando uma fotografia inventiva, uma boa atuação principal, um roteiro concreto e seu inegável talento atrás de uma câmera, faz de “Cinzas no Paraíso” um de seus filmes mais bonitos, tanto na técnica quanto na história, com um final surpreendentemente otimista, para uma obra cheia de sentimentos ruins.
Formado em Jornalismo e apaixonado por cinema desde pequeno, decido fazer dele uma profissão quando assisti pela primeira vez a trilogia “O Poderoso Chefão” do Coppola. Meu diretor preferido é Ingmar Bergman, minhas críticas saem regularmente aqui e no assimfalouvictor.com