Nota do Filme:
Buscando… acompanha a vida de David Kim (John Cho), que, após 37 horas sem notícias de sua filha, Margot Kim (Michelle La), contacta as autoridades para tentar encontrá-la. Com o auxílio da detetive Rosemary Vick (Debra Messing), se vê obrigado a invadir o computador de sua própria filha para seguir os seus rastros digitais.
Do estreante diretor – e também roteirista – Aneesh Chaganty, o longa, apresentado no Festival de Sundance de 2018, recebeu os prêmios “Alfred P. Sloan[1]” e “Best of Next!”. Muito foi falado acerca de sua estrutura narrativa pouco usual, uma vez que é transmitida apenas por meio das telas de computadores que o protagonista utiliza.
Nesse sentido, Buscando… traz certa originalidade na maneira de contar a sua história. Por mais que o artifício já tenha sido utilizado no filme Amizade Desfeita e no seriado Modern Family[2], apenas para citar alguns, a extensão aqui criada faz com que a empreitada seja inovadora, uma vez que se torna, efetivamente, parte da estrutura do conto.
A edição é, certamente, um dos aspectos cruciais de uma boa narrativa. Todavia, não conta com muito apreço do público geral[3], que raramente tece comentários ao seu respeito. Aqui, entretanto, é impossível não elogiar o incrível trabalho feito pelos envolvidos[4], dado que o longa se passa exclusivamente em telas de computador, motivo pelo qual há forte edição em todas cenas da obra.
O fato da busca de David por sua filha levá-lo ao seu computador é um evidente comentário do diretor sobre o modo como nos relacionamos hoje em dia. Faz-se necessário ressaltar, porém, a palavra “comentário”, pois não se trata, necessariamente, de uma crítica. Na realidade, há certo foco no uso da tecnologia como mero meio de conexão interpessoal, de forma que o modo como é utilizado determina se é, em última instância, benéfico ou maléfico.
Dessa maneira, ao abraçar o seu fator diferencial, o filme consegue crescer e diversificar seu público. Como exemplo, tem-se a fantástica cena de abertura, certamente nostálgica àqueles nascidos na década de 90 e que acompanharam o nascimento da internet como a conhecemos hoje. Ao mesmo tempo, consegue ser emocionalmente imersiva, nos conectando à Margot e sua família de maneira orgânica e natural, o que torna a obra um thriller intenso e empolgante.
Nesse sentido, o longa conta com twists interessantes e, mais importante, críveis. Felizmente, a temática do conto permite que haja o devido foreshadowing desses elementos surpresa. Dessa forma, tem-se uma história que pode ser revista diversas vezes, com cada nova sessão revelando fatores, até então, não percebidos.
John Cho, protagonista da obra, mais conhecido pelo público por seus papéis cômicos – American Pie – A Primeira Vez é Inesquecível e Madrugada Muito Louca – vem, recentemente, diversificando o seu trabalho, atuando em longas como Star Trek e Columbus. Aqui, entrega uma performance envolvente e, acima de tudo, realista. O drama do pai que se vê forçado a reconhecer que, na realidade, não conhece a própria filha, é tocante e, certamente, relacionável. O fato de conseguir transmitir tais emoções apenas através de uma tela de computador atesta a sua qualidade como ator.
Debra Messing convence como a policial designada ao caso do desaparecimento de Margot Kim. A despeito da distância física, sua química com John é excelente, de modo que a aproximação dos personagens é natural. Ainda, Michelle La – em seu papel de estreia, ressalta-se – consegue, em poucas cenas, angariar a simpatia do espectador. Por fim, Joseph Lee, intérprete do irmão de David, transmite uma sensação fraternal importante para história.
Sendo assim, com uma temática interessante e uma estrutura narrativa original e envolvente, Buscando… é uma grata surpresa de 2018. Ao mesmo tempo, as sólidas atuações impedem que o filme se torne distante do espectador, o que, dado o modo como é contado, poderia facilmente ocorrer. Com o longa, Aneesh Chaganty consegue a atenção de Hollywood. Nos resta esperar, com ansiedade, o seu próximo trabalho.
[1] Prêmio concedido a filmes com foco temático em ciência/tecnologia, ou, ainda, apresenta um cientista, engenheiro ou matemático como personagem relevante.
[2] S06E12 – Conexão Perdida (Connection Lost)
[3] Apenas a título comparativo, Um Lugar Silencioso, filme lançado no começo de 2018, também é considerado inovador em sua narrativa por se utilizar de outra característica pouco lembrada pelo público: edição e mixagem de som.
[4] Segundo o diretor, o trabalho de edição, feito por Will Merrick e Nick Johnston, levou em torno de 1 ano e meio para ser concretizado, quando, normalmente, demora-se quatro meses.
Carioca, advogado e apaixonado por cinema. Busco compartilhar um pouco desse sentimento.