Nota do Filme:
Procurando um meio termo entre a linguagem bem-humorada de Zumbilândia (2009) e o tom mais dramático de Eu Sou a Lenda (2007), Amor e Monstros (2020) chega ao catálogo Netflix sem grandes pretensões, mas esbanjando simpatia. Por mais derivada que seja, a história fisga o espectador justamente porque, ao invés de esconder suas referências, prefere celebrá-las num filme singelo, criativo e cujo único propósito é divertir.
É verdade que Hollywood já está abarrotada de obras sobre universos pós-apocalípticos em diversas abordagens diferentes. Diante dessa quantidade de exemplos, fica realmente difícil ser original dentro de um gênero que é usado, principalmente, como alegoria para críticas sobre a sociedade em que vivemos. Mas essa também nem é uma regra. No caso de Amor e Monstros, o fator originalidade pouco importa, e, menos ainda, a crítica social. Para o filme, o que vale mesmo é entreter o espectador através da jornada de um personagem que resolve superar seus medos em nome do amor. E ele consegue.
No longa, a humanidade é dizimada por monstros infectados pelo material radioativo de um meteoro que atingiu a Terra. Os sobreviventes moram em pequenos grupos dentro de abrigos subterrâneos espalhados pelo mundo. Sete anos depois do início do desastre, Joel (Dylan O’Brien) resolve deixar o abrigo para encontrar Aimee (Jessica Henwick), sua paixão de escola e a única pessoa que ele conhece que continua viva. Uma vez na superfície, Joel precisa provar para seus colegas que consegue vencer seus medos e enfrentar os monstros gigantes.
Seria muito fácil que, aqui, o filme descambasse para uma aventura vazia com boas cenas de ação e um ótimo CGI. Felizmente, o diretor Michael Matthews e o roteirista Brian Duffield decidem fugir do clichê e entregar um longa que tem essas qualidades, mas também uma boa história. Fora a construção de mundo, que parece real e bastante plausível, e efeitos especiais que fazem jus à sua indicação ao Oscar, Amor e Monstros consegue manter a qualidade para além dos aspectos técnicos.
O filme tem carisma suficiente para fazer da simplicidade do enredo sua maior virtude. É verdade que ele não tem qualquer pretensão de reinventar a roda, mas a jornada de Joel é tão cativante e honesta que, mesmo quando os tais monstros estão fora de cena, o filme não deixa de ser divertido. Alternando entre momentos cômicos, mas não escrachados, e dramáticos, sem ser melosos, Amor e Monstros encontra seu tom perfeito: o de uma aventura para toda a família. Mesmo que lembre tantos outros filmes que já vimos por aí, ele assume com muita coragem o longa que quer ser e faz um ótimo trabalho dentro daquilo que se propõe.
Coragem ele também teve ao abordar de forma mais realista a história de amor de Joel e Aimee, que tem uma quebra de expectativa muito bem-vinda para o contexto do filme. Talvez essa forma de conduzir a narrativa seja o que ele tem de mais original: uma versão moderna da velha narrativa de amor juvenil que ajuda o longa a ser mais atual e se aproximar do público. Nesse sentido, é bom para a história que, mesmo tendo como propósito encontrar Aimee, a jornada de Joel seja mais sobre crescimento pessoal do que sobre qualquer outra coisa.
Grande parte da culpa por Amor e Monstros funcionar tão bem é o carisma de Dylan O’Brien, que vai bem tanto nas cenas de ação quanto nos demais momentos. Ele acerta direitinho o tom de Joel e faz parecer que o personagem foi feito para ele. Outros destaques são Ariana Greenblatt e Michael Rooker, os dois viajantes que o protagonista encontra pelo caminho. Pena eles lembrarem (até demais) Little Rock e Tallahassee, de Zumbilândia. Mas quem rouba todas as cenas mesmo é Boy, o cachorro que vira amigo de Joel e protagoniza uma das melhores sequências do filme.
Amor e Monstros está longe de ser um filme perfeito, mas é feliz justamente porque não pretende ser. Ele é derivado, tem vários furos no roteiro e um desenvolvimento irregular, mas, ao mesmo tempo, é bom de ritmo, tem personagens cativantes e uma história de amor abordada de um jeito bem atual. Uma diversão despretensiosa, ideal para fugir por algumas horas do caos lá de fora, que felizmente (ou infelizmente?) é provocado por um monstro um pouco menor.
Jornalista viciada em recomendar filmes e revisora de textos recifense que vive escrevendo sobre cinema nas horas vagas.