Nota do Filme:
É realmente criativa a maneira como Alguém Avisa? começa e termina, literalmente. Sem dar spoilers de como são os créditos finais, os créditos iniciais são eficientes na medida em que nos apresentam informações sobre o casal de protagonistas sem maiores enrolações. Assim, quando a história propriamente dita começa nós já sabemos, por exemplo, quando elas se conheceram e há quanto tempo estão juntas, o que economiza tempo para que o roteiro se preocupe com outros assuntos. Infelizmente, porém, a abertura e o encerramento do longa são praticamente seus únicos aspectos positivos.
As namoradas Abby (Kristen Stewart) e Harper (Mackenzie Davis) estão prestes a passar o Natal em uma reunião de família na casa dos pais desta última. Só há um problema: enquanto Abby quer aproveitar a ocasião para pedir Harper em casamento, essa revela que ainda não se assumiu para a família, pedindo para que sua companheira finja ser apenas uma colega de quarto (e hétero).
O que poderia ser um conto sobre (auto)aceitação e identidade não demora muito a tomar o caminho de uma narrativa enfadonha povoada por personagens insuportáveis. Não é fácil transformar nomes carismáticos como Mary Steenburgen, Victor Garber e Alison Brie em figuras detestáveis, mas o filme consegue com louvores, tornando qualquer tentativa de redenção em um recurso artificial. Desse modo, quando determinadas resoluções ocorrem e o filme pede por nossa empatia, já é tarde demais. Passamos demasiado tempo acompanhando pessoas irritantes, ao passo que as que apresentam alguma profundidade, como Riley (Aubrey Plaza), recebem pouco tempo de tela.
Além disso, são escassas as cenas que divertem, o que prejudica um projeto que aposta no cômico. As tentativas de fazer rir, como na cena em um telhado ou em uma pista de patinação, são pálidas e com muito pouca inspiração. E não deixa de ser frustrante ver um enredo que se pretende atual empregando uma das convenções mais batidas do gênero: o amigo gay que vive de dar conselhos à protagonista. Com frases previsíveis (“O quão ruim pode ser?”) e constrangedoras (“Você é o amor da minha vida.”), o roteiro tampouco ajuda.
É clara a tentativa da diretora, a atriz Clea DuVall, de entregar uma comédia romântica alinhada com os tempos modernos, interessada em representatividade e superação de preconceitos. Mas é justamente pela seriedade desses temas que não se pode contentar com pouco. Nenhum filme se sustenta apenas com boas intenções, e Alguém Avisa? se encaixa exatamente nessa categoria, não passando de uma versão progressista de Entrando numa Fria.
Historiador que acredita que a vida fica mais fácil quando vamos ao cinema.
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