Nota do Filme:
“Eles vão cair numa armadilha. Vocês têm a missão de entregar uma mensagem cancelando o ataque de amanhã. Se fracassarem, será um massacre.”
General Erinmore
1917 se passa em meio a um tenso período da 1ª Guerra Mundial. Após um aparente recuo dos alemães, os ingleses pretendem um ataque ambicioso para quebrar uma importante linha de defesa alemã, contudo, tratou-se, na realidade, de uma retirada estratégica para armar uma armadilha. Dessa maneira, o General Erinmore (Colin Firth) impõe aos cabos Blake (Dean-Charles Chapman) e Schofield (George MacKay) a impossível missão de atravessar o território inimigo e, assim, suspender o ataque.
Há dois filmes recentes que dialogam bastante com o mais novo trabalho de Sam Mendes, que dirige e, também, assina o roteiro: Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), de Alejandro G. Iñárritu, e Dunkirk, de Christopher Nolan. Com o primeiro, divide a artimanha na contagem da história, vez que se utiliza de falsos cortes nas cenas, de modo a criar a aparência de ser filmada em apenas um take. Com o segundo, compartilha não apenas a temática de guerra como, ao mesmo tempo, uma necessidade uma imersão por parte do espectador, motivo pelo qual o som é imprescindível à história.
Dessa forma, 1917 se utiliza do aparente plano de sequência para aumentar a tensão a níveis que, do contrário, não seriam alcançados. Isto porque é uma obra que conta com pouquíssimo desenvolvimento dos personagens, tendo em vista o incessante ritmo que deve imprimir no avanço narrativo em decorrência da urgência da missão. Portanto, há uma energia no ar que, de outra maneira, não existiria. Cenas expositivas simples carregam mais força do que normalmente teriam. Talvez o melhor exemplo disso seja logo após a dupla principal receber a referida missão, momento no qual, apenas com o movimento de câmera e trilha sonora, atinge-se um ritmo frenético, ainda que Blake e Schofield sequer tenham saído do seu acampamento.
Nesse sentido, Mendes consegue resolver, por meio da técnica – não roteiro – uma possível dificuldade de relacionabilidade da audiência para com os protagonistas – um ponto no qual o longa de Nolan, por exemplo, foi bastante criticada. Não há tempo para desenvolvê-los, todavia, uma vez que a câmera nunca parece abandoná-los, nossa visão se limita a mostrar aquilo que eles observam. Nunca temos mais informações que os personagens e, assim, compartilhamos do seu senso de desorientação quando a ação de fato ocorre.
Esses fatores funcionam, útil destacar, a despeito da compreensão do espectador acerca de cortes. Isto é, não se faz necessário ter qualquer entendimento técnico acerca do que, afinal, envolve um “corte” no audiovisual. A ausência de mudanças no plano em tela se faz perceptível à qualquer um, ainda que não entenda o porquê tal fato lhe causa estranheza ou apreensão.
Essas qualidades, porém, não seriam tão proeminentes não fossem as ótimas performances dos atores. 1917 tem um elenco recheado de grandes estrelas como Colin Firth, Benedict Cumberbatch, Mark Strong, Richard Madden e Andrew Scott, contudo, apesar de certamente competentes, todos têm pouquíssimo tempo de tela, de modo que cabe à dupla principal, formada por Dean-Charles Chapman e George MacKay, trazer uma emoção à tela que, ressalta-se, sempre funciona.
Impossível, também, não destacar a ótima técnica do filme. A fotografia, responsabilidade de Roger Deakins, talvez um dos maiores nomes do ramo na atualidade, impressiona sobretudo em cenários noturnos. A trilha sonora de Thomas Newman é incrivelmente imersiva. O som, de maneira geral, é extremamente cru e enervante, o que coaduna com a temática da história.
Há, porém, problemas consideráveis no que diz respeito ao período intermediário do obra. A queda de ritmo e ausência de foco pesaram, criando segmentos arrastados e, por vezes, desinteressantes. Poderia-se cortar alguns minutos da trama sem perdas relevante, ao mesmo tempo em que se melhoraria o ritmo do roteiro consideravelmente.
De toda forma, a despeito de pequenos erros no decorrer de seu tempo de duração, 1917 está longe de decepcionar. Com aspectos técnicos impressionantes, os quais se somam às boas performances, sobretudo por parte de MacKay, pode não ser o melhor filme do ano, mas certamente causa um impacto na audiência.
Carioca, advogado e apaixonado por cinema. Busco compartilhar um pouco desse sentimento.