Em um filme de terror, é fácil de vermos na tela formulas repetidas de obras que fizeram sucesso. Acredito que o grande desafio atual da indústria nesse gênero seja o de criar algo novo, de forma a conquistar uma massa cada vez maior de espectadores.
Não que a projeção não possa ter certas coisas que remetam a outras, mesmo que indiretamente e sem dúvida, esse é o caso de “Corrente do Mal” de 2014, dirigido por David Robert Mitchell. Tendo uma personagem principal, como muitos dos filmes de terror dos anos 80 e 90, a obra conta a história de Jay (Maika Monroe), que após ter uma relação sexual com Hugh, adquire uma doença que faz com que pessoas (isoladas na visão da moça) corram atrás dela. A única forma de se livrar disso é passando para outra pessoa, através da relação.
E isso, já deixa clara a mensagem do filme, que é aparentemente contra o sexo casual, e caso pensemos nisso com mais afinco, percebemos que tudo se justifica por conta dessa mensagem, e também por todo o seu elenco ser composto de adolescentes, que talvez seja com quem o diretor queira falar de forma mais direta.
E para ser direto, é necessária uma grande variedade de técnica, que já fica exposta logo nos primeiros cinco minutos de filme, com um plano sequencia belíssimo, todo em panorâmica, que mostra o desespero de uma garota com a doença. Além de servir como uma pista do que vai acontecer com Jay, essa cena serve para contextualizar seu público dentro da história, sendo uma introdução perfeita.
Os planos do filme é justamente o que mantem o aspecto de suspense e o que cria a expectativa para o que virá, com o tempo certo de duração, percebemos como os planos gerais, sempre fazem mais do que apenas mostrar o lugar onde a próxima cena acontecerá, em alguns deles vemos as “pessoas” que aparecem apenas para Jay prestes a abordar a garota, em outros, percebemos como o ambiente muda apenas pela possível presença de algo ali.
Essa mudança de ambiente se deve também a iluminação, que mesmo em momentos que em filmes tradicionais a cena ficaria escura do nada, aqui vemos o contrário, vemos a luz que é fiel ao lugar onde se passam os acontecimentos, logo, se estamos em uma praia e algo acontece, nada do tempo ensolarado ficar nublado de repente, se os personagens estão em uma casa, as luzes se apagam porque alguém apagou e não apenas como indicativo de algo ruim que virá.
Logo, o terror não é algo que foi construído apenas para assustar o espectador, mas é algo que flui durante todo o filme, de forma que quem assiste se pergunta o tempo inteiro o que está para acontecer, se o que foi mostrado na tela realmente aconteceu e cria a empatia necessária, de maneira que torcemos para tudo dar certo no final de cada cena.
Essa empatia cresce na medida em que conhecemos os personagens um pouquinho mais, se Kelly, irmã de Jay, interpretada por Lili Sepe, é apaixonada pela irmã e nunca duvida da doença dela, Paul, representado por Keir Gilchrist, apenas está ali por ser apaixonado pela personagem principal, e Greg (Daniel Zovatto), tenta ajudar como pode, mas não acredita na menina, servindo como um ponto de vista oposto aos dos outros dois personagens citados.
Um filme de terror é feito não de trilha sonora que aumenta quanto mais à cena é assustadora, não é feito de personagens que sabem exatamente o que fazer e quando fazer, mas é feito de ritmo, empatia e claro, uma história bem escrita com uma mensagem objetiva, que o público concordando ou não, é inegável que a metáfora foi bem construída, assim como o seu filme.
Formado em Jornalismo e apaixonado por cinema desde pequeno, decido fazer dele uma profissão quando assisti pela primeira vez a trilogia “O Poderoso Chefão” do Coppola. Meu diretor preferido é Ingmar Bergman, minhas críticas saem regularmente aqui e no assimfalouvictor.com