Cinematologia na Copa – Sérvia

Após a dissolução da Iugoslávia em dezenas de nações, o cinema – que era bastante forte na região – teve que se adaptar e criar diversas identidades nacionais. Para completar o histórico complicado de conflitos e mudanças, a Sérvia só se tornou o que é hoje no ano de 2006, quando se separou de Montenegro. Tudo isso acabou criando “munição” suficiente para alimentar as histórias contadas nas telonas de lá por muitos e muitos anos. A guerra e os conflitos étnicos da região acabaram sendo uma constante durante as décadas posteriores à esses momentos. Além disso, um humor bastante peculiar e filmes controversos e polêmicos completaram a diversidade temática das obras produzidos até então. Hoje, a sétima arte no país é considerada o maior expoente dentre todos as nações dos bálcãs, abrigando diretores que criaram obras aclamadas internacionalmente em festivais de extrema importância para o cenário cinematográfico.

O país já enviou 24 filmes para a lista de indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro, sendo que apenas um deles, conhecido como Klopka (The Trap) (2007), chegou na pré-lista de janeiro mas não foi classificado para os finalistas. Porém, quando ainda fazia parte da Iuguslávia, um longa do futuro território sérvio foi indicado para a categoria de filme estrangeiro. Dirigido por Emir Kusturica, a obra Otac na sluzbenom putu (Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios) (1985) perdeu naquela oportunidade para o argentino La Historia Oficial (A História Oficial) (1985).

Entretanto, mesmo em 2018 e depois de várias mudanças territoriais e sociais, a população sérvia ainda está longe de aceitar a união entre pessoas do mesmo sexo. Os índices de preconceito e de violência contra homossexuais ainda são bastante altos, o que acaba refletindo diretamente no cinema do país. Infelizmente, quando olhamos para filmes considerados “clássicos” nacionais, nos deparamos com dezenas de piadas homofóbicas, que são repetidas à exaustão. Os filmes Lepa Sela Lepo Gore (Bela Aldeia, Bela Chama) (1996)Mrtav ‘Ladan (Frozen Stiff) (2002) e Zavet (Promise Me This) (2007) são exemplos de comédias cult que carregam diversos preconceitos intrínsecos à suas histórias. Isso sem contar a normalidade com que diretores aclamados, como Kusturica, por exemplo, parecem enxergar o machismo em suas narrativas. Nudez feminina desnecessária e situações em que um homem rebaixa e/ou humilha uma mulher também são bastante recorrentes nas películas do país.

Nesse texto, que faz parte do especial do Cinematologia para a Copa do Mundo da Rússia, vamos procurar indicar alguns filmes, além de comentar sobre o principal diretor e o principal ator do país eliminado na fase de grupos da competição.

Emir Kusturica

Nascido em Sarajevo, capital da Bósnia e Herzegovina, durante a existência da Iugoslávia, Emir Kusturica é um ator, músico e diretor naturalizado sérvio. Formado na Academy of Perfoming Arts de Praga, é considerado como um dos integrantes da Escola Cinematográfica de Praga, grupo mais influente de cinema do país. No ano de 1993, fez a sua estreia em Hollywood dirigindo o filme Arizona Dream (1993), estrelado por Johnny DeppJerry Lewis e Faye Dunaway.

No quesito premiações, o diretor apareceu como indicado em diversas competições de peso. No Festival de Cannes, Kusturica competiu cinco vezes, vencendo duas Palmas de Ouro com os filmes Otac na sluzbenom putu (Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios) (1985)Underground (Underground – Mentiras de Guerra) (1995), além de vencer o prêmio de melhor diretor com o longa Dom za vesanje (Vida Cigana) (1988). Com a obra Arizona Dream (1993), o diretor venceu o Urso de Prata no Festival de Cinema de Berlim e com a película Crna macka, beli macor (Gata Preta, Gato Branco) (1998) foi o escolhido para receber o Leão de Prata no Festival de Cinema de Veneza.

Filmes de destaque na carreira de Emir Kusturica:
  • Sjecas li se Dolly Bell? (Você se Lembra de Dolly Bell?) (1981)
  • Otac na sluzbenom putu (Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios) (1985)
  • Dom za vesanje (Vida Cigana) (1988) 
  • Underground (Underground – Mentiras de Guerra) (1995)
  • Crna macka, beli macor (Gata Preta, Gato Branco) (1998)

Pavle “Paja” Vuisić (1926-1988)

Pavle Vuisić foi um ator nascido em Belgrado e considerado por muitos como “um dos rostos mais famosos” do cinema Iugoslavo. Antes de começar a sua carreira de atuação, “Paja” lutou no fronte da Syrmian enquanto fazia parte dos Partisans Iuguslavos, um movimento de resistência às forças do eixo na antiga Iugoslávia. Após a guerra, estudou advocacia e trabalhou por muito tempo como jornalista da Rádio de Belgrado. Apenas no ano de 1950 conseguiu o seu primeiro pequeno papel no filme Cudotvorni Mac (The Magic Sword) (1950).

Mesmo após não conseguir se formar como ator profissional na Academia de Drama e Artes de Belgrado, Pavle trabalhou em mais de 170 papéis durante sua vida. Inclusive, teve seu nome citado pela lenda Orson Welles durante um programa de entrevistas iuguslavo como sendo o melhor ator do planeta naquele presente momento. Atualmente, seu nome batiza um dos prêmios de atuação mais importantes da Sérvia, entregue no Festival de Cinema de Niš.

Filmes e Série de destaque na carreira de Pavle Vuisić:
  • Valter brani Sarajevo (Walter Defends Sarajevo) (1972)
  • Povratak otpisanih (1976) – Série de TV
  • Hajka (1977) 
  • Ko to tamo peva (Quem Está Cantando Aí?) (1980)
  • Sjecas li se Dolly Bell? (Você se Lembra de Dolly Bell?) (1981)