Passageira de primeira viagem, a Islândia é um país que conseguiu o status de queridinha da copa por conta de todo seu esforço hercúleo para conquistar a inédita classificação, se tornando assim o menor país a disputar uma Copa do Mundo, com um pouco mais de 300 mil habitantes, chamando atenção desde a fantástica campanha da Euro 2016 e despontando no ranking da Fifa de forma meteórica.
Além disso, a seleção possuí algumas curiosidades bem interessantes em relação aos seus jogadores e técnico, por exemplo, o treinador da Islândia, Heimir Hallgrimsson, até pouco tempo ganhava seu sustento trabalhando como dentista, e seu goleiro, Hannes Halldorsson, que também é cineasta, dirigiu clipes musicais, sendo seu maior destaque a canção “Never Forget” para o festival de música Eurovision, e o documentário “Nossos Jogadores“, no qual tentava efetuar uma aproximação dos jogadores com o público e tinha o ex-jogador islandês Eidur Gudjohnsen como protagonista do longa.
Contudo, apesar de haver um jogador cineasta na seleção, o cinema islandês não possui uma grande relevância no cenário mundial, possuindo um filme apenas que conseguiu disputar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Porém vem ganhando mais visibilidade recentemente devido aos prêmios recebidos em diversos festivais ao redor do mundo, como o longa “Pardais“, premiado no Festival de São Paulo com Melhor Filme e Melhor Roteiro.
No cenário nacional vale a pena destacar o prêmio Edda, que serve para laurear filmes e séries islandesas, incentivando o fomento cultural do país. Criado em 1999, não tendo a entrega do prêmio em 2009, o Edda condecorou alguns filmes que se destacaram mundialmente no país, como foi o caso de “Nói, o Albino” em 2003, um dos longas mais interessantes produzidos pela pequenina nação gélida.
Em termos de artistas, evidencia-se os diretores Friðrik Þór Friðriksson e Baltasar Kormákur, o primeiro por ter dirigido o maior filme islandês e único indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, “Filhos da Natureza“, além de ser o fundador da maior produtora de filmes do país, e o segundo teve sua estréia com o longa “101 Reykjavík“, uma excelente comédia e outro filme que obteve êxito internacional. Atualmente dirige filmes em Hollywood, como foi o caso de “Evereste”, com Jake Gyllenhaal e Keira Knightley no elenco. Outra figura que vale apontar é Jóhann Jóhannsson, falecido no ano passado e conhecido pela parceria com Denis Villeneuve, realizando a trilha de “Prisioners“, “Sicario” e “Arrival“, sendo indicado ao Oscar pela segunda. Além delas, o compositor também fez a trilha de “The Theory of Everything“, ganhando um Globo de Ouro por esse longa.
Enfim, para adentrar um pouco mais na cultura cinematográfica islandesa, sugiro alguns filmes para expandir um pouco os horizontes culturais de cinema:
Börn náttúrunna – Friðrik Þór Friðriksson
O senhor Thorgeir deixa sua casa no interior da Islândia e se muda para um asilo na capital Reijavic. Lá ele encontra uma velha amiga de infância, Stella. Mesmo assim Thorgeir sente-se triste e, na companhia de Stella, ele decide roubar um carro para fugir. Juntos eles tentam redescobrir o sentido de viver.
Um filme sobre liberdade, de sonhos, com uma carga hedonística que se torna ainda mais cativante devida a idade dos protagonistas. Um road movie que bebe diretamente da fonte de Wim Wenders, com uma homenagem sensacional no final do longa. Não é a toa que se tornou o filme mais reconhecido do país.
Filme: Filhos da Natureza | Diretor: Friðrik Þór Friðriksson | Ano: 1991 | Tempo: 82 minutos
101 Reykjavík – Baltasar Kormákur
Hlynur tem 30 anos e ainda mora com sua mãe em Reykjavík, capital islandesa. Ele está desempregado e passa seu tempo bebendo, navegando na Internet e vendo pornografia. Uma garota está interessada nele, mas ele não está a fim de compromisso. A professora de flamengo da mãe dele, uma espanhola, vai passar o natal com eles e isso o tira um pouco da rotina, dando a ele uma nova perspectiva das coisas.
Uma comédia excelente, na qual vemos o protagonista tentar vencer a rotina a que se sujeitou de forma bem cômica. Além do diretor do filme atuar, que é um bônus a parte para o filme.
Filme:101 Reykjavík | Diretor: Baltasar Kormákur | Ano: 2000 | Tempo: 88 minutos
Nói albinói – Dagur Kári
Noi tem 17 anos e sonha em escapar da vila remota onde vive, na Islândia. O lugar onde ele vive fica completamente isolado durante o inverno graças à neve e às montanhas que rodeiam, aumentando ainda mais o desejo de Nói de escapar dessa prisão gelada.
Totalmente despretensioso, o filme é um excelente conto sobre esse desejo de ser livre, ainda mais na juventude. Gélido no bom sentido, um clássico cult esquecido.
Filme: Nói, O Albino | Diretor: Dagur Kári | Ano: 2003 | Tempo: 93 minutos
Apaixonado por cinema, amante das ciências humanas, apreciador de bebidas baratas, mergulhador de fossa existencial e dependente da melancolia humana.