No ano de 2017 tivemos a volta dos musicais para o grande público, não que os musicais tivessem sido esquecidos, mas, com “La La Land”, pessoas que nunca tiveram a oportunidade de ver um musical com atores e atrizes contemporâneos, conseguiram ver um filme competente e cheio de referencias.
Uma das referencias no filme de 2017 vem de uma obra de 1952, chamada “Cantando na Chuva”, dirigido por Gene Kelly e Stanley Donen, traz além de uma premissa interessante, um ponto de vista metalinguístico, que se torna um pequeno estudo da história da sétima arte durante sua adaptação do cinema mudo para o cinema falado.
A história é a seguinte, Don Lockwood, interpretado por Kelly, é um ator de sucesso que forma junto com Lina Lamont, representada por Jean Hagen, a dupla mais famosa que figuram os filmes do cinema mudo em Hollywood, Don não gosta da moça, pela personalidade difícil que ela tem, e expõe isso a seu amigo Cosmo (Donald O´Connor), músico e que faz as trilhas para os filmes dos dois.
Com a mudança do cinema mudo para o falado, há a necessidade que os dois astros se adaptem para que possam sobreviver na indústria, Don consegue isso facilmente, mas Lina não, por ter uma voz irritante ao máximo, então o estúdio passa a dublar a voz da moça usando a jovem atriz de teatro Kathy Selden, interpretada por Debbie Reynolds.
O filme é inteligente em não apenas contar a história dos personagens citados, mas por contar com precisão um momento dos mais importantes (senão o mais importante) na história do cinema, vemos um pouco da mudança dos estúdios em mudar seus filmes, percebemos o quanto de pessoas que perderam o emprego, e tudo isso é possível graças à técnica impecável da obra.
A fotografia é inteligente ao usar a cor (outro advento do cinema), para passar sentimentos e momentos que os personagens estão vivendo, isso fica claro em duas cenas importantes, a que vemos como Don e Cosmo iniciaram na carreira e conseguiram o sucesso, nela é possível ver o cinza como a cor dominante no começo da trajetória, mas, com a evolução dos dois vemos um pouco mais de cor, nos ternos utilizados por eles em alguma apresentação, nas camisas e também no lugar onde isso acontece, que vai de um bar escuro e cinza para um estúdio claro e com diversas cores.
A outra cena é o numero do rapaz iniciando a carreira na Broadway que acontece mais para o fim do filme, onde os diversos cenários coloridos dão uma ideia do sentimento do protagonista da coreografia, e nessa cena é possível ver outra coisa, que é como os planos duram o tempo suficiente para que o público veja as coreografias difíceis e bem elaboradas que são executadas por Kelly, O´Connor e Reynolds.
Esses planos não estão presentes apenas na cena citada, mas eles também fazem parte de todos os números musicais realizados no filme, então devido a isso, o numero de cortes nas cenas musicais são mínimos, já que a obra se preocupa em realizar uma sequencia musical fiel a aquilo que é esperado por conta do talento dos atores e atrizes que participam da projeção.
Já que o elenco é de peso, isso não é algo de surpreender, mas, na verdade, é uma obrigação, temos Gene Kelly, Debbie Reynolds, Donald O´Connor e Cyd Charisse (Em uma belíssima participação), a câmera tem o papel de acompanhar as coreografias e atuações e não de criar algo usando os cortes para que tenhamos apenas a impressão de uma dança complexa.
E essas danças e atuações são perfeitamente executadas pelo elenco citado, todos eles levam a alegria no olhar e na fisicalidade apresentada, não temos a impressão de que o elenco está entediado ou apenas fazendo isso pelos bens financeiros, temos a continua sensação de que as pessoas estão se divertindo, e isso torna o filme afetuoso, bonito e claro, causa uma maior empatia com quem assiste.
Empatia esta constantemente presente nos sorrisos de Kelly e Reynolds, que mostram seu talento com segurança diante das câmeras, o primeiro ainda mostra que também sabia dirigir os filmes, já que ele e seu companheiro de direção Stanley Donen conseguem criar um estudo bacana, doce e didático sobre a sétima arte.
Porque cinema é justamente isso, não é apenas um ator ou atriz famoso, não é apenas diversão ou técnica, é a união de tudo isso junto a uma historia que ensine, que passe sentimento e que divirta (ou que faça pensar). “Cantando na Chuva” é o exemplar perfeito do que um bom filme deve fazer para que seu público tenha um “Glorious Feeling” ao sair da sala.
Formado em Jornalismo e apaixonado por cinema desde pequeno, decido fazer dele uma profissão quando assisti pela primeira vez a trilogia “O Poderoso Chefão” do Coppola. Meu diretor preferido é Ingmar Bergman, minhas críticas saem regularmente aqui e no assimfalouvictor.com