No ano de 1989, Spike Lee lançava “Faça a Coisa Certa”. O filme se passa em Nova York e conta a história de um bairro negro, do cotidiano das pessoas que vivem nesse bairro. A obra tem vários toques bacanas de vários gêneros, com a predominância de drama e comédia. O final do filme é impactante e infelizmente, real, acontece todos os dias e com cada vez mais frequência.
O que Donald Glover, diretor, ator e criador da serie televisiva “Atlanta” tenta fazer é algo parecido, porém, devido à liberdade de tempo que a televisão dá a quem faz os programas, ele consegue realizar algo melhor, mais profundo e que possivelmente, nas suas próximas temporadas, terá um final tão impactante quanto o do filme de Spike Lee.
A série conta a história de Earn (Donald Glover), empresário musical, pai, negro e que vive na cidade de Atlanta. Rapaz pobre e precisando cada vez mais de dinheiro para sustentar a filha pequena e ajudar a namorada na criação desta, ele passa a usar seus serviços para o seu primo Alfred, interpretado por Brian Tyree Henry, um rapper de relativo sucesso chamado “Paper Boi”.
É bacana como cada episódio demonstra coragem ao sempre mostrar algo difícil utilizando uma abordagem divertida. E além de serem acontecimentos difíceis, são acontecimentos atuais, que estão em nossas rotinas todos os dias e que ninguém nota porque há aquele pensamento de “se acontece todo dia, isso já é normal”, sendo que não é e nem pode ser normal.
Há três episódios que valem o destaque, e que seguem o que foi dito acima de forma inventiva. O episódio 5, apresenta como o mundo da música pode ser difícil, principalmente para quem deseja entrar na indústria (Como Earn e seu primo), e ainda apresenta um questionamento de porque, a maioria dos artistas de grande sucesso mundial são brancos, já que vemos, nesse caso, um Bieber sendo representado por um ator negro.
No episódio 7 – e possivelmente o melhor da temporada – Paper Boi é convidado para um talk show, e nós, o público, vemos o episodio do ponto de vista de quem assiste o programa ao vivo, incluindo os comerciais e as vinhetas. Neste capitulo são abordados assuntos interessantes, como racismo reverso, uma pessoa que não se identifica com a sua origem cultural e como os talk shows influenciam quem assiste de forma feroz, levando a consequências extremas. Nesse episodio, é onde está localizada a cena mais engraçada da temporada.
Já no penúltimo episodio da temporada, o de número 9, vemos como uma pessoa pode ser racista sem saber e pior, pensando que é realmente engajada na luta por direitos humanos. O dialogo em que está localizado isso é um em que Earn e um homem branco participam e o segundo pergunta “Você veio de onde? Do Congo? Cabo Verde?” como se todo negro viesse do continente africano. Em um primeiro momento, Earn fica sem resposta, para, pouco tempo depois, ele e sua namorada darem uma aula de civilidade em plena casa do homem.
A segunda temporada de “Atlanta” será lançada em 2018. O motivo é: Donald Glover está envolvido nas filmagens do filme de Han Solo, personagem da saga “Star Wars”. Nesta obra, Glover irá interpretar a versão mais jovem de Lando Calrissian, o piloto amigo de Solo em “O Império Contra Ataca”.
Mas, enquanto isso, quem não assistiu a série ainda tem tempo, e quem já viu, pode ver de novo, pois, convenhamos, “Atlanta” é um desses programas que merece ser visto e revisto, porque a forma de dispor a história é brilhante, o elenco é competente, e a didática é ideal para a sociedade de hoje.
Formado em Jornalismo e apaixonado por cinema desde pequeno, decido fazer dele uma profissão quando assisti pela primeira vez a trilogia “O Poderoso Chefão” do Coppola. Meu diretor preferido é Ingmar Bergman, minhas críticas saem regularmente aqui e no assimfalouvictor.com