As animações da Disney vêm sendo competentes ao longo dos anos, e isso se prova pelo lucro dado por elas nas bilheterias mundiais, constantemente altas, e também em cada desenho ser bem-sucedido naquilo que propõe, seja lá o que isso for.
De alguns anos para cá, isso começou com mais força no ano de 2009, partindo da animação “A Princesa e o Sapo” protagonizada por uma moça e levou as telas a primeira princesa negra, o estúdio vem buscando cada vez mais obras representativas, protagonizadas pela parcela da população considerada minoria, um outro exemplo disso, “Valente” de 2012, também tem como personagem principal uma menina e agora, em 2018, o primeiro filme com um latino no papel primário é “Viva: A Vida é Uma Festa”.
Dirigido por Lee Unkrich (o mesmo de “Toy Story 2”, “Toy Story 3”, “Monstros S.A” e “Vida de Inseto”) e Adrian Molina, vemos a história de Miguel, um menino de 12 anos com o sonho de ser músico. Vivendo em uma família grande e que o proíbe de seguir sua vocação, devido ao tataravó músico ter abandonado seu lar, ele é transportado para o mundo dos mortos durante as comemorações de dia dos mortos no México. Lá, além de perseguir seu desejo, ele também tem que reunir a família e reatar determinados laços.
“Viva” consegue ser sensível ao máximo sem forçar o choro no espectador, e isso se deve a Miguel, que é um personagem fácil de criar empatia em quem assiste, pois ele tem muito em comum com quase todas as pessoas, ao perseguir seu sonho ao mesmo tempo em que tenta não machucar a família que ama, e além disso ele lida com medos usando a sua vocação.
Isso fica claro quando o garoto se apresenta pela primeira vez, é claro que ele está assustado, e com certeza ao mesmo tempo em que ele está com medo, ele tem a vontade de se apresentar e é aí que o amor domina, faz ele subir no palco, para tocar, cantar e conquistar ainda mais o público.
Outra coisa conquistadora do público e merecedora de atenção deste são as cores do ambiente. Ao entrar no mundo dos mortos, as cores se tornam mais vivas (com o perdão do trocadilho) e a imersão àquele lugar se torna simples, natural, esses tons, nos quais predominam o amarelo, o laranja, o azul e o branco, quando combinados com outros, criam bonitas parcerias visuais, um exemplo disso é também a cena da primeira apresentação de Miguel, onde as várias gradações criam uma cena agradável aos olhos.
E isso também está presente no mundo dos vivos, mas nesse a predominância é a das cores amarelo e laranja, sem dúvida para expor o calor da pequena cidade onde Miguel vive e para mostrar o amor que cada membro da família sente um pelo outro, pois, independente do momento, esse sentimento é incondicional naquelas pessoas, e é por esse motivo que as cenas onde Miguel está com Coco (a parente mais velha viva) são bem comoventes.
Uma das coisas mais ricas desse filme (além dos sonhos de seu personagem principal) é a noção de memória, o fato de a obra trabalhar com a lembrança e a falta desta, sendo a maior vilã (ou aliada, como preferir) de Miguel, é o que mais aproxima o público da história, pois todos nós queremos ser lembrados por pessoas que pensamos nos considerar especiais, até porque, a projeção também trabalha com isso, nem toda família acha todos os seus membros merecedores de igual afeto.
Apesar de o filme se passar no México e ter sido todo dublado em inglês, convenhamos que poderia ter sido todo em espanhol, “Viva: A Vida é Uma Festa” é uma obra rica em sua história, imersiva em seus ambientes, comovente e sensível na medida certa, nos mostrando que há a possibilidade de os nossos sonhos se realizarem sempre, mesmo que tudo trabalhe contra isso.
Formado em Jornalismo e apaixonado por cinema desde pequeno, decido fazer dele uma profissão quando assisti pela primeira vez a trilogia “O Poderoso Chefão” do Coppola. Meu diretor preferido é Ingmar Bergman, minhas críticas saem regularmente aqui e no assimfalouvictor.com