Dan Gilroy surpreendeu a todos no ano de 2014, quando dirigindo e roteirizando “O Abutre”, levou para as telas uma trama atual, forte, com um Jake Gyllenhaal na possivelmente melhor atuação da sua carreira, como um jornalista em busca de cobrir os grandes desastres da cidade de Los Angeles e ser o primeiro a chegar no fato.
Tentando continuar no mesmo ritmo, “Roman J.Israel, ESQ” tem pontos parecidos com o filme citado acima. A trama envolve uma profissão de peso na sociedade, no caso a de advogado, é algo atual e coloca Denzel Washington em um dos grandes papeis de sua carreira já brilhante.
Porém, nesse filme não há o mesmo peso de “O Abutre” por usar da comédia como ferramenta para uma obra de drama. Roman (interpretado por Washington) é sócio da firma de William. Ele monta todos os casos, pesquisas e esboços para que William tenha o sucesso no tribunal, assim sendo, ele é na verdade o advogado bem-sucedido por causa do parceiro. Após o consorte morrer, a firma dos dois é engolida pela de George Pierce (representado por Colin Farrell), devido a um esquema desconhecido de Roman até então. Assim, Israel passa a trabalhar para outra pessoa.
Há uma divisão muito bem-feita entre as duas horas de filme, na primeira hora, vemos como Roman é um homem idealista, que entrou na área de direito para defender as consideradas minorias da sociedade, mas ele foi impedido pela própria indústria, que sempre busca o dinheiro acima da empatia. Claramente, ele é prejudicado por não ter o devido reconhecimento pelo trabalho que realiza, além de estar quebrado financeiramente, por isso, ele é um homem exagerado, ou ele é 8 ou é 80.
Mas, na segunda hora, o que estava sendo desenvolvido com calma e se encaixando de maneira orgânica na história principal, se torna apressado e em alguns momentos até sem sentido. Com um acontecimento simples – que traz consequências para o personagem em um outro momento – ele fica rapidamente rico, para mostrar essa riqueza o filme abandona o aprofundamento no desenvolvimento, para investir em cortes rápidos mostrando as várias mudanças de momento, como a compra de ternos, a troca de apartamento e o novo corte de cabelo do personagem.
Graças a Washington, conseguimos perceber como Roman é exagerado até na fase “Ostentação”, pois o ator não economiza, ele se torna mais confiante, parando de falar e confrontar os chefes olhando para baixo, marcando encontros e decidindo trabalhar de fato para Pierce ao invés de se rebelar sem nenhuma causa.
Esses extremismos fazem da atuação de Washington algo rico de se ver, pois a mudança brusca do personagem acompanhando a estrutura não prejudica o filme, porém se fosse um ator com menos talento, muito possivelmente a projeção iria ladeira abaixo da metade para a frente.
Mesmo um ator como ele, não consegue deixar o terceiro ato claro. O final do filme não condiz com todo o resto da obra, as cenas não têm ritmo e nem ligação entre si, aquilo que ficou apressado a partir da segunda hora se torna ainda mais rápido no terço final da projeção, muitas coisas ficam a ser explicadas, os motivos de certas atitudes não são justificados no momento em que eram para ser.
Portanto, “Roman J.Israel, ESQ” fica longe de ser um desastre, mas não é um bom filme, mesmo que tenhamos um Denzel Washington em uma grande atuação, a estrutura prejudica seriamente uma projeção muito promissora de um diretor e roteirista de sucesso nos últimos anos.
Formado em Jornalismo e apaixonado por cinema desde pequeno, decido fazer dele uma profissão quando assisti pela primeira vez a trilogia “O Poderoso Chefão” do Coppola. Meu diretor preferido é Ingmar Bergman, minhas críticas saem regularmente aqui e no assimfalouvictor.com