Agnes Varda é uma diretora conhecida por dar voz a grupos esquecidos propositalmente pelo sistema, como mulheres, crianças e moradores de pequenos vilarejos no interior da França. Ao contrário do que se pode pensar, isso não é de agora, mas na verdade é uma característica desde da Nouvelle Vague, movimento cinematográfico do qual fez parte.
Essa ideologia de filmagem é mais uma vez utilizada no documentário “Visages, Villages” (“Faces, Places” é o título norte americano), onde ela trabalha com o fotografo JR em um projeto ambicioso. O plano é viajar pelo maior número possível de vilarejos interioranos da França e tirar fotos das pessoas e expor essas imagens ao ar livre, em grandes murais localizados na própria cidade, como a estrutura de uma casa, um ponto da cidade a qual todos os moradores tem acesso ou instalações naturais, como um bunker que foi parar em uma praia devido a uma tempestade.
A relação entre Varda e JR é, sem nenhuma dúvida, um dos pontos altos do filme, pois é onde reside a empatia, já que ambos executam as ideias sempre juntos e sempre buscam conhecer as pessoas que faz parte do projeto, como o agricultor, os trabalhadores do porto (esses já fotografados por ele anteriormente) e claro, também procuram se conhecer.
Assim, os diálogos entre os dois são bem interessantes, pois além de presenciarmos um conflito de gerações, vemos como apesar disso, da juventude de um e da experiência da outra, há uma linha de pensamento comum, isso os leva a darem conselhos um ao outro e a buscarem entender como as experiências pessoais influenciaram em suas profissões e no sucesso adquirido nelas.
Dessa forma, se justifica JR dizer que nunca esqueceu dos filmes de Agnes, aliado a ida na casa de Jean Luc Godard, e também a questão dos óculos do fotografo, nunca retirados por ele, é um ponto onde Varda mantem a juventude unida com a experiência da vida, mas, claro, não podemos nos esquecer das fotos tiradas por ambos para o projeto.
Fotografias que são belas e tem como principal qualidade a ligação com o local onde foram tiradas, a casa que nunca foi vendida tem sua dona como personagem principal das fotos, as mulheres dos trabalhadores do porto são as protagonistas não apenas das imagens, mas também da vida deles, e é isso o aspecto que faz a projeção funcionar, ela não trata o projeto dos dois diretores como o principal, mas sim as pessoas, elas são o “Sal da Terra” ( como diria Sebastião Salgado) e é dessa forma que elas são tratadas aqui.
Portanto, “Visages Villages” é isso, rostos, vilas, pessoas, sentimentos, empatia e dois grandes profissionais unidos com um objetivo comum, o de mostrar como o belo está nas minorias, ao contrário do que o sistema deseja que pensemos.
Formado em Jornalismo e apaixonado por cinema desde pequeno, decido fazer dele uma profissão quando assisti pela primeira vez a trilogia “O Poderoso Chefão” do Coppola. Meu diretor preferido é Ingmar Bergman, minhas críticas saem regularmente aqui e no assimfalouvictor.com