The Post – A Guerra Secreta reúne nos seus 116 minutos elementos que são afáveis para a Academia. Seja em colocar num mesmo quadro Meryl Streep e Tom Hanks, que juntos nos fazem tremer na base; ter a direção assinada por alguém tão consagrado quanto Spielberg; ou a temática (e roteirista) que arrematou o Oscar 2016 de Melhor Filme e Roteiro Original com Spotlight. Só na frase anterior temos a somatória de 10 estatuetas vencidas e 30 indicações ao prêmio. Desta forma, não surpreende as indicações na 90º edição do prêmio. Mesmo com essa premissa que parece não dar brecha ao fracasso, a obra cinematográfica por si só entrega para o público uma história intrigante, com personagens intensos, que desmistifica maniqueísmos e se tornando referência de releitura do episódio do Pentagon Papers.
O filme narra o marco histórico da divulgação dos papéis do Pentágono, sob a ótica dos jornalista do The Washington Post, no período em que ainda er um jornal local que tentava se manter com as próprias pernas. Em 1971, o jornal de Washington era dirigido por Katherine Graham, a primeira mulher a se tornar CEO de uma empresa para mantê-lo sob o comando há tantos anos da sua família. Com o roteiro assinado por Josh Singer, experiente scripts sobre jornalismo histórico, conhecemos uma protagonista que está se desligando da vida glamourosa de fama e se arriscando no jornalismo honesto. Estados Unidos – Relações com o Vietnã, 1945-1967: Um estudo preparado pelo Departamento de Defesa, conhecidos popularmente como os papéis do Pentágono, consistia em 14 mil páginas de documentos que narravam o envolvimento militar norte-americano na Guerra do Vietnã por 22 anos. As informações contidas comprometiam o atual governante Nixon, que tentou censurar os jornais que publicassem o estudo.
O longa de Spielberg não tenta ser a nova versão de Spotlight, nem imitar os filmes clássicos sobre jornalismo. Pairando entre a austeridade do vencedor de 2016 e os clichês jornalísticos hollywoodianos, traz os elementos típicos quando se trata da temática: atribuir elegância ao jornalismo investigativo, a censura e liberdade de imprensa, a discussão entre o compromisso com a verdade e o direito do público à informação mesmo que abale estruturas sociais fundamentais – seja o governo ou a igreja. Ainda que menos emocional que as grandes obras spielberguianas, até certo ponto surpreende com sua sobriedade enquanto constrói um thriller energético, mas não nega o sangue do diretor com uma sequência nos 30 minutos finais que beira ao heroísmo sem capa.
Meryl Streep dá vida à mulher que dirigiu o The Washington Post por mais de 2 décadas. A atriz nos entrega uma personagem que difere de seu próprio perfil. Kath, como é chamada, tenta lidar com a surpresa que é gerir uma empresa devido à morte do marido Philip Graham, e principalmente conseguir se posicionar num lugar de tanto poder que nunca antes fora tomado por uma mulher. É interessante ressaltar como em diversas cenas ela simplesmente tem sua fala atropelada por um homem, a desconfiança e pressão feita pela sua própria diretoria diante das suas decisões ao mesmo tempo que precisa lidar com as próprias inseguranças, falta que sente do esposo e ainda ser um pilar para a família. Na crescente emocional da película, ela é posta como um ícone feminino da época, o que na verdade, demorou muitos anos para ganhar o reconhecimento merecido.
Do outro lado como editor chefe do Post no período, Ben Bradlee ganha fôlego no trabalho de Tom Hanks. O veterano das telonas cria um editor de garra, determinado e corajoso. Com uma postura arrogante afrontando advogados, diretoria e até a própria chefe, Hanks apresenta um personagem que se desvincula de um mocinho ou vilão: apesar de deslumbrado com a possível ascensão e o jogo competitivo que trava com jornais maiores, como o The New York Times, tem o seu carisma e consegue nossa simpatia. Sem dúvidas, Sarah Paulson protagoniza a cena que quebra o leve maniqueísmo que se instaura ao longo do filme. Interpretando a mulher de Ben Bradlee, Tony, abre os olhos do marido de que não se trata de uma guerra particular com a dona do jornal, mas um corajoso passo para uma mulher e mãe de família tomar.