Kids é um filme essencial a todos, seja pela forma que ele choca por seu conteúdo, seja por ser o recorte de um momento na vida, ou até mesmo por puro entretenimento. O realismo visceral é seu ponto mais forte, e com isso acaba por gerar diversos questionamentos sobre a juventude, levando até mesmo para uma discussão de cada um sobre suas experiências na pré-adolescência.
Dirigido por Larry Clark, o filme narra a historia de um grupo de adolescentes na cidade de Nova York durante 24 horas, na qual passam bebendo, usando drogas, fazendo sexo sem segurança, ouvindo hip-hop, andando de skate e qualquer outra coisa que uma pessoa dessa idade faz, porém sem nenhum vinculo com alguma moral por parte da sociedade, o que apenas amplifica o seu realismo.
E, por mais que há bastante tempo desde sua estreia, que foi marcada por diversas disputas judiciais e por uma corrente de pessoas contra a exibição, o filme não perde o choque que gerava em sua primeira exibição, muito pelo contrário, consegue surpreender ainda mais devido aos atores e atrizes que fizeram o filme terem se tornado personalidades de renome. Por exemplo, no filme temos Rosario Dawson, que pode ser vista nas séries da parceria Marvel/Netflix interpretando Claire Temple, Chloë Sevigny, que foi indicada ao Oscar de 1999 pelo filme Boys Dont’Cry e também participou da série Girls da Hbo. Sendo que inclusive nenhum deles era ator ou atriz profissional na época, o que contribui ainda mais para o engrandecimento do longa.
Apesar de ser um marco da contracultura jovem dos anos 90, o filme se difere de qualquer filme do gênero, como os filmes do John Hughes, justamente por trazer situações que acabam sendo evitadas de ser mostradas aos filhos pelos pais. Por exemplo, o filme se inicia com um menino soropositivo que adora transar com virgens, e consequentemente acaba transmitindo o vírus para todas as parceiras, e termina com uma das meninas sendo estuprada por um dos jovens em uma festa, depois de ingerir um LSD em outro lugar. São assuntos complexos para se tratar em uma família um pouco mais conservadora, quase sendo tabus. E o longa não chega para desconstruir esse dogma, ele seria como um pé arrombando uma porta e mostrando que isso existe e é assim.
Enfim, um filme essencial para o amante do gênero, até mesmo serve como aula para os jovens entrando na puberdade. Um grande clássico do cinema independente. Uma aula melhor do que as dos pais quando tentam conversar sobre qualquer coisa dentro desse contexto. Apesar das diversas loucuras envolvidas na narrativa, o fato inegável é que isso existe, isso acontece e está mais perto de todos do que a moral dominante acha.
Apaixonado por cinema, amante das ciências humanas, apreciador de bebidas baratas, mergulhador de fossa existencial e dependente da melancolia humana.