É inegável que Pink Floyd é uma das maiores bandas da história do rock, com um legado que permanecerá pelo conteúdo atemporal de sua obra. Muitos se dividem ao escolher o melhor CD da banda e sempre acabam por cair entre Dark Side of The Moon e The Wall, e esse texto falará sobre o segundo, aonde foi adaptado para o cinema em 1982.
Dirigido por Alan Parker, com roteiro de Roger Waters, o filme adapta o CD homônimo semi biográfico da vida de Water, onde a narrativa é focada na vida do protagonista, Pink, um roqueiro que perdeu o pai na infância, teve uma mãe superprotetora, era perseguido pelo seu professor, se torna um roqueiro, se casa, é traído e abandonado, se isolando do mundo. Basicamente, o conceito do The Wall surge quando o baixista, no meio de um show, imaginou um muro entre ele e a plateia.E, quando combinado esse conceito com a genialidade da banda, era impossível de dar errado.
O filme praticamente não possui diálogos entre os personagens, intercala cenas de animações com as da realidade, uma explosão de metáforas em cada cena, conceitos filosóficos, subjetividade, psicodelia, melodias orquestrais, letras profundas. Uma experiência sensorial muito intensa, aonde o espectador absorve toda essa atmosfera e imerge para o longa, tentando deduzir alguma interpretação lógica, racional e coerente do que está sendo transmitido na tela. Inclusive, há uma cena magistralmente executada aonde intercala imagens animadas e reais, quando Pink imagina sua esposa como um monstro, esta sendo a animação, encurralando-o em sua sala.
Em um grande resumo para os que nunca escutaram ou assistiram, a obra se inicia em hotel aonde Pink está hospedado, tocando uma musica ao fundo que nos teletransporta ao que pode ser suas memórias. A partir dai vemos um soldado antes de ir ao campo de batalha, que seria o pai de Pink. Logo em seguida a faxineira abre a porta do quarto e interrompe a cena. A partir dai vemos as memórias de Pink, desde seus tempos na escola com seu professor autoritário, o superprotecionismo de sua mãe, a ausência de uma figura paterna, sua luxuria, seus surtos, até a derrocada para baixo, tentando se recuperar para o que era antes e assim chegando na queda do muro.
As situações que deixam mais clara de que as animações são lisérgicas, maravilhosas e essenciais para o longa são evidente em Goodbye Blue Sky, uma das canções mais criticas e lindas da banda, e em The Trial, aonde ocorre o julgamento de Pink para se recompor e voltar aos eixos. O resultado final do filme foi de que nem Waters e nem Parker o aprovaram, visto que bateram de frente a todo momento com Gerald Scarf na produção do longa, porém é um resultado aceitável e talvez a única falha é a ausência de Hey You, que mais tarde foi adicionada nos extras do DVD.
Para os que se interessam pela imersão total e sensorial de uma forma mais intensa, sugiro o uso de psicotrópicos visto que a psicodelia é acentuadamente forte, além de poder proporcionar interpretações que a consciência sóbria não faria. É um filme em que os fãs se apaixonarão, os que não são fãs e se interessarem pelo conceito vão adorar e aos que nunca ouviram falar de Pink Floyd, deem uma chance e depois assistam esse filme.
Apaixonado por cinema, amante das ciências humanas, apreciador de bebidas baratas, mergulhador de fossa existencial e dependente da melancolia humana.