A Ghost Story é um dos filmes que podem ter passado batido no decorrer do ano, apesar de contar com o atual vencedor do Oscar de Melhor Ator, o polêmico (para dizer o minimo) Casey Affleck e a sensacional Rooney Mara. Dirigido e escrito por David Lowery, o filme é um dos mais originais dos últimos anos, talvez o mais de 2017, apesar de abordar temas que sempre rendem histórias, tanto para cinema quanto para a literatura.
A história segue o casal C. e M., que tem sua vida vida pacata interrompida após a morte de C. em um acidente de carro. Porém, o filme se destaca justamente por explorar o após disso, aonde o C. retorna como um fantasma, do jeito mais estereotipado possível, porém reforça ainda mais a sensibilidade do luto de M., destaque para a cena em que a personagem acaba por devorar uma torta em meio a sua cozinha, com o fantasma observando-a como um voyeur, aonde Mara consegue transmitir toda a angustia, raiva, luto, solidão, melancolia de sua personagem, em uma situação totalmente comum do cotidiano. Toda a atmosfera ao redor do filme, o silêncio grita, e não são todos que são capazes de ouvi-lo. A sensibilidade é aguda, a emoção é singela e a angustia é sufocante. Um turbilhão de emoções magistralmente conduzidos pelo diretor.
Além disso, o filme faz referencias a Gabriel García Márquez e a Beethoven, o que aumenta a qualidade pois são contextos poderosos quando inseridos, aumento ainda mais a fatídica cronica do morto assombrado pela vida. E, o longa consegue apequenar ainda mais o espectador ao inserir o fator do peso do tempo, aonde após a partida da personagem de Mara, o fantasma continua vinculado a casa aonde teve suas lembranças construídas com sua companheira, enquanto vão passando os dias, meses, anos, novas pessoas, enquanto o tempo avança. Uma dor sentida pelo espectador ao ver que não somos nada em relação ao tempo.
Pelo aspecto técnico, ajuda a amplificar a grandeza do filme. Por exemplo, com uma fotografia acinzentada do momento do luto até a parte em que a personagem de Mara começa a superar, aonde as cores se tornam mais quentes. Uma trilha sonora que intensifica toda a atmosfera já estabelecida. Além da escolha de se fazer o filme em 1:33:1, com as bordas arredondas, que sugere uma foto antiga de uma Polaroid, evocando um sentimento intimista, como se fosse uma fotografia antiga de uma lembrança marcante. E, esse formato aumenta ainda mais a sensação de claustrofobia constante em 92 minutos de longa.
Enfim, é uma das grandes surpresas do ano, talvez um filme que possa cair no ame ou odeie, porém funciona tanto como cinema de arte como entretenimento, visto que os temas abordados são inerentes a todos os seres humanos, porém dessa vez visto pela lógica de um fantasma. Talvez surja como uma surpresa no Oscar ao ser indicado a Melhor Roteiro Original, quem sabe assim não consiga uma visualização maior, porque esta é uma obra que deve ser vista por todos.
Apaixonado por cinema, amante das ciências humanas, apreciador de bebidas baratas, mergulhador de fossa existencial e dependente da melancolia humana.