Poucas relações no meio audiovisual são tão íntimas quanto aquelas que temos com os seriados que acompanhamos semanalmente. A quantidade de tempo que se investe no programa supera, com facilidade, qualquer filme tradicional, aumentando a afeição pelos personagens.
Justamente por isso, poucas coisas no meio são tão decepcionantes quanto quando a relação termina de maneira decepcionante. Exemplos para péssimos finais não faltam, sobretudo ao considerarmos o recente fiasco que foi o encerramento de Game of Thrones. Outras, porém, “buscam um lugar ao pódio”, como Dexter e How I Met Your Mother.
Pensando nisso, ao invés de focarmos em finais ruins, reunimos, nesta lista, cinco seriados já encerrados que, certamente, não irão decepcioná-lo(a) com uma conclusão insatisfatória.
The Good Place – Criador: Michael Schur
The Good Place não é, apenas, uma comédia interessante e divertida. Ao contrário, utiliza-se de arquétipos clássicos do modelo de sitcom – ao mesmo tempo em que subverte outros – para introduzir, com leveza, um estudo ético sobre as ações da raça humana, e como valorá-las.
Talvez parece algo um tanto quanto ambicioso para uma série de comédia de apenas quatro temporadas. Contudo, a conquista de Michael Schur é, certamente, digna de elogios. Aqui, no excepcional series finale, aproveita a técnica utilizada em outro (ótimo) encerramento, de Parks and Recreation – que, diga-se de passagem, quase entrou para a lista –, não limitando o final da obra ao clímax, mas sim nas suas consequências. Assim, há espaço para a audiência aproveitar os acontecimentos da temporada final, ao tempo em que se despede dos personagens, claro, com muita emoção.
Fullmetal Alchemist: Brotherhood – Criadora: Hiromu Arakawa
Fullmetal Alchemist: Brotherhood é a segunda adaptação do mangá Fullmetal Alchemist, da escritora Hiromu Arakawa. Lançado em 2009, foi criado para suprir uma necessidade que a adaptação anterior jamais conseguiu: trazer, à tela, o trabalho da autora da maneira mais fidedigna possível.
Isto porque a adaptação anterior fora lançada enquanto o mangá ainda não havia sido encerrado e, como é comum nos casos, rapidamente o “alcançou” em termos de história, de modo que os produtores tiveram que proceder sem saber como o original, de fato, terminaria. Não é para se dizer que as escolhas são equivocadas, mas, para os fãs do trabalho de Arakawa, a experiência não correspondia às expectativas.
Em Fullmetal Alchemist: Brotherhood, temos um conto sobre a necessidade de impor, à ciência, uma leitura filosófica, de modo a evitar o seu mau uso. Não apenas isso, mas destaca-se, também, a importância dos vínculos humanos como uma força motriz da humanidade. Como é comum no gênero (shonen), a batalha final é intensa, de modo a transmitir a grandiosidade da narrativa. Ao mesmo tempo, traz um sentimento de perda importante à catarse, que, por vezes, alguns seriados falham em trazer.
Breaking Bad – Criador: Vince Gilligan
Há pouco que ainda não tenha sido dito acerca do brilhantismo de Breaking Bad, e não nos referimos apenas ao seu encerramento. Há anos a criação de Vince Gilligan é parâmetro para características que bons seriados devem ter. Com uma narrativa envolvente e um excepcional arco de corrupção para seu protagonista, brilhantemente interpretado por Bryan Cranston é, sem dúvidas, uma das maiores séries de todos os tempos.
Como não poderia deixar de ser diferente, seu final é extremamente catártico, encerrando de maneira maestral o desenvolvimento de Walter White, ao mesmo tempo em que coloca em perspectiva todas as suas ações por meio de um poderoso diálogo com sua esposa. Ainda, todos os outros personagens têm um fim digno.
Dark – Criadores: Baran bo Odar e Jantje Friese
Por mais que Dark esteja, ainda, muito distante de provocar o frenesi que Game of Thrones conseguiu, é justo dizer que é a série que mais provocou engajamento desde o encerramento da adaptação do trabalho de George R.R. Martin. Ao trazer uma ficção científica repleta de paralelos com temas religiosos e filosóficos, Baran bo Odar e Jantje Friese criaram algo que atravessou muitas pessoas.
No começo uma narrativa simples, com um aparente foco no desaparecimento de algumas crianças em uma pequena cidade no interior da Alemanha, a trama evolui para algo imprevisível aqueles que a acompanham desde o seu lançamento, em 2017. A primeira produção alemã da Netflix conseguiu, ainda, aumentar o campo de muitas pessoas antes habituadas a produções televisivas exclusivamente americanas.
Seu final consegue ser triste mas, ao mesmo tempo, esperançoso, mantendo intacta a temática da história, encerrar os principais pontos e responder às principais perguntas e, de maneira concomitante, deixar questões abertas à interpretação, incentivando o diálogo entre seus espectadores.
Avatar: A Lenda de Aang – Criadores: Michael Dante DiMartino e Bryan Konietzko
Lançada ainda em 2005 e encerrada em 2008, Avatar: A Lenda de Aang continua, vivo nos corações de seus apaixonados fãs. Animação diferenciada, a criação de Michael Dante DiMartino e Bryan Konietzko reúne diverso elementos, sob o prisma principal da jornada do herói de Aang, protagonista da história. Com um desenvolvimento invejável, sobretudo no que diz respeito à construção do mundo no qual a narrativa se passa, acompanhamos ótimos personagens à medida que evoluem.
Impossível, então, não mencionar o quão impactante é o arco de Zuko, um dos principais antagonistas da primeira temporada. O seu crescimento como personagem é assombroso, muito provavelmente um dos maiores arcos do universo dos seriados, e dizermos isso sem qualquer rastro de hipérbole. O series finale, composto por quatro episódios, contém momentos emotivos e intensos, ao mesmo tempo em que transmite importantes mensagens sobre equilíbrio e sabedoria cultural.
Carioca, advogado e apaixonado por cinema. Busco compartilhar um pouco desse sentimento.