Ao se pensar em cinema europeu, prontamente alguém irá se recordar de algum filme espanhol marcante, muito popular graças às características autorais de seus diretores mais consagrados. Luis Buñuel, com suas obras surrealistas e controversas, e Pedro Almodóvar, famoso por seus filmes protagonizados por mulheres fortes, que tratam de temas tabus e que carregam exageros estéticos e narrativos, são bons exemplos disso.
Para completar, o cinema do país se destaca no cenário internacional pela constante exaltação da crítica e pelas frequentes indicações ao Oscar. No total, são 6 indicações nas categorias de atuação, com 2 vitórias: Javier Bardem levou o prêmio de coadjuvante no filme “Onde os Fracos não tem vez” (2007) e Penélope Cruz venceu também na categoria de coadjuvante por “Vicky Cristina Barcelona” (2008); 1 indicação para melhor diretor; 1 indicação a melhor documentário; 1 indicação para melhor animação; e 19 indicações a melhor filme estrangeiro, com 4 vitórias: “Começar de Novo” (1982), “Belle Époque” (1993), “Tudo Sobre Minha Mãe” (1999) e “Mar Adentro” (2004); além de outras 33 indicações para as demais categorias, somando mais 8 vitórias para os profissionais do país.
*Dê uma olhada em nossa outra lista para conhecer outros 13 filmes para conhecer o cinema espanhol.
Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (Mujeres al Borde de un Ataque de Nervios) (1988)
Em Madri, uma atriz e dubladora chamada Pepa (Carmen Maura) descobre que está grávida de seu colega de trabalho e amante, Ivan (Fernando Guillén), logo após ser abandonada por ele sem nem ao menos uma explicação. Enquanto tenta falar com seu antigo amor desesperadamente, a protagonista recebe em sua casa a visita de sua melhor amiga, Candela (María Barranco), aflita para lhe contar um segredo muito importante que pode mudar completamente o rumo de sua vida. Para completar, Carlos (Antonio Bandeiras), filho de Ivan e Marisa (Rossy de Palma), sua noiva, aparecem para visitar o apartamento de Pepa com a intenção de alugá-lo.
Nessa comédia dirigida e roteirizada por Pedro Almodóvar, as situações absurdas e as coincidências hilárias são, sem dúvida, a principal atração. Numa história em que diversos acontecimentos e núcleos vão se juntando até encontrarem um ponto em comum, o roteiro é algo muito importante, e aqui, a trama envolvente não deixa o espectador tirar os olhos do que está acontecendo nem por um minuto. Como de costume nos filmes do diretor, as protagonistas femininas são fortes e independentes, há riqueza na criação dos personagens e o figurino e os cenários são coloridos e chamativos.
*O filme recebeu a indicação a melhor filme estrangeiro no Oscar, no Globo de Ouro e no BAFTA.
[REC] (2007)
Found Footage é um sub-gênero de Terror que se tornou muito popular no final dos anos 90 e início dos anos 2000. Nele, a estrutura da narrativa é montada em tom documental e a câmera utilizada é uma simples gravadora de mão, que muitas vezes não apresenta uma qualidade de imagem e som de maneira proposital.
Filmes gravados usando essas características costumam trazer um realismo absurdo e um engajamento por parte do público, o que funcionou como um argumento válido o suficiente para ser utilizado à exaustão nos filmes de terror no decorrer dos anos, tanto dentro, como fora dos EUA.
Em [REC], dos diretores Paco Plaza e Jaume Balagueró, acompanhamos a história de Ángela Vidal (Manuela Velasco), uma repórter de televisão e seu cinegrafista, responsável por segurar a câmera no decorrer do filme, e que, por conta disso, nunca aparece diretamente na tela. A dupla decide gravar uma matéria que diz respeito ao corpo de bombeiros da cidade de Barcelona e seus chamados noturnos. Ao receber uma ligação urgente para resgatar uma senhora que está presa em seu apartamento, a equipe segue prontamente para o antigo edifício acompanhados de Manuela e seu cameraman. Porém, ao entrar no local, todos os envolvidos são trancados num esquema de quarentena dentro do prédio, junto de todos os moradores e de tudo o mais que habita lá.
O filme, considerado um dos mais assustadores do gênero, fez tanto sucesso que ganhou três continuações originais: “[REC] Possuídos” (2009); “[REC] 3 – Gênesis” (2012); “[REC] 4 – Apocalipsis” (2014); e dois remakes americanos, chamados de “Quarentena” (2008) e “Quarentena 2” (2011).
Ninho de Musaranho (Sangre De Mi Sangre) (2014)
No ano de 1950, na cidade de Madri, vivem duas irmãs, Montse (Macarena Gómez) e “la niña” (Nadia de Santiago). Numa casa com decoração clássica e lotada de símbolos religiosos, as duas vivem de maneira regrada e discreta, conciliando as rotinas diárias com o ateliê de costura administrado por ambas na sala do apartamento.
Montse, irmã mais velha, que desde pequena cuidou das tarefas do lar e fez o papel de mãe (já que sua mãe biológica morreu durante o parto da mais nova), sofre de uma doença conhecida como agorafobia. Por conta disso, ela não consegue sair de casa por ter pavor a lugares abertos e multidões, e trabalha incessantemente como a costureira chefe da pequena e promissora empresa familiar. Já sua irmã é completamente o oposto: jovem, independente e que sonha em sair de casa para formar uma família. Quando, em um certo dia, um vizinho chamado Carlos (Hugo Silva) bate na porta da casa em situação de desespero, Montse começa a piorar de seu trauma profundo e a relação das duas começa a ficar cada vez mais complicada.
Dirigido pela dupla estreante nas telas Juanfer Andrés e Esteban Roel, o longa é um prato cheio para amantes de suspense e terror psicológico. Como acompanhamos Montse durante quase todo o tempo, a unica locação em que a história ocorre é o organizado apartamento. O comportamento quase militar e as estranhas manias e condições da personagem, deixam o espectador intrigado sobre suas verdadeiras motivações durante quase todo o filme. O clímax não decepciona e recompensa a todos que “sofreram” e ficaram tensos durante os 90 minutos da experiência.
*Até o lançamento desse texto, o filme estava na Netflix!
The Propaganda Game (2015)
Talvez o nome mais curioso dessa lista, The Propaganda Game é um documentário dirigido pelo espanhol Álvaro Longoria que tem como assunto principal a vida na Coréia do Norte, um dos países mais fechados do planeta. Com uma das fronteiras mais militarizadas do mundo, o Estado carrega os estigmas de ser o último território comunista e um dos locais mais misteriosos do globo. Aqui, estrangeiros precisam de autorizações e condições muito especiais para entrar, e jornalistas/cineastas dependem de contatos no alto escalão do governo para mostrar (com diversas restrições) um pouquinho da rotina dos norte-coreanos.
O filme é marcante. A difícil vida das pessoas que não podem escolher suas casas, que “sonham” em fazer faculdade para virar maquinistas de trem e que não tem o mínimo de alimento em suas geladeiras choca, mas também informa. Poder presenciar a organização; o alto investimento em ambientes públicos, como museus e praças (mesmo que altamente contestável quando olhamos para o restante do país); a limpeza; e o orgulho de seus habitantes em fazer parte daquilo tudo, é no mínimo curioso. No fim dos 94 minutos da experiência, aposto que você também se convencerá de uma coisa: A propaganda feita pelo comandante Kin Jong-Un e por seus comandados, é deveras eficiente.
*Até o lançamento desse texto, o filme estava na Netflix!
Um Contratempo (Contratiempo) (2016)
Adrian (Mario Casas) acorda em um quarto de hotel ao lado de sua amante morta coberta por uma pilha de dinheiro. Minutos depois, a polícia entra no local e o prende em flagrante por assassinato. Para tentar solucionar tudo o que aconteceu na noite anterior, ele recorre a Virginia Goodman (Ana Wagener), melhor advogada de defesa do país.
Dirigido e roteirizado por Oriol Paulo, o filme é um suspense de investigação de respeito. É um daquelas obras em que o menor dos spoilers destrói por completo a experiência que é assistir a tudo pela primeira vez. Um plot intrigante, que a cada minuto ganha mais elementos narrativos para enriquecer a história e aumentar o mistério, atuações marcantes, inversões de papéis e expectativas, flashbacks e um desfecho de deixar qualquer um pensativo é o que o diretor entrega por aqui.
*Até o lançamento desse texto, o filme estava na Netflix!