Lista | 5 Filmes para conhecer o cinema argentino

O cinema argentino é quase uma unanimidade entre os amantes da sétima arte. Para muitos, ele é, inclusive, o maior e mais rico representante da América Latina. Com uma crescente de qualidade e popularidade nos últimos 30 anos, o cinema do país vem ganhando cada vez mais espaço no cenário internacional. Até o momento, são 7 filmes indicados a melhor filme estrangeiro – com 2 vitórias; 2 atrizes indicadas ao prêmio de coadjuvante; e 1 diretor indicado ao maior prêmio da categoria.

A História Oficial (1985)

Nota do filme:

De 1976 até 1983, a Argentina passou por um difícil período conhecido como Guerra Suja – nome do regime adotado em meio a ditadura militar do país. Durante esse período, a violência indiscriminada, perseguições, torturas e o “desaparecimento” de pessoas eram práticas comuns causadas pelos militares a cidadãos que tinham um pensamento político-ideológico diferente do que imperava no regime. Em “A História Oficial”, a narrativa contada pelo diretor Luis Puenzo consegue ilustrar de forma verossímil os horrores da época em que aproximadamente 8.000 pessoas foram listadas como mortas ou desaparecidas, o que lhe rendeu, inclusive, uma indicação ao Oscar de melhor roteiro original pela produção.

Alicia (Norma Aleandro), é uma professora de história do ensino médio que sofre diariamente com o  conflito de ideias entre os ensinamentos que aprendeu nos livros e os folhetins propagandísticos que são leitura obrigatória entre seus alunos (secretamente, claro) e com o comportamento inadequado dos garotos. Ao voltar para casa, a situação não melhora tanto quanto gostaria. Seu casamento com Roberto (Héctor Alterio) vai de mal a pior e, após uma franca conversa com uma de suas amigas mais próximas, Alicia começa a suspeitar que sua filha adotiva Gaby (Analia Castro) foi tomada a força de seus pais e entregue ao seu marido pelos militares – vemos no decorrer do filme que o relacionamento entre seu marido e as forças armadas é maior do que ela imaginava e gostaria.

O filme foi muito aclamado internacionalmente, sendo inclusive, o primeiro filme argentino a ganhar o Oscar de melhor filme estrangeiro, em 1986. Por retratar um importante momento da história do país, é considerado por muitos parte da filmografia obrigatória do cinema latino americano.

O Segredo dos seus olhos (2009)

Nota do Filme:

Benjamín Esposito (Ricardo Darín) é um ex-servidor da justiça penal argentina, que agora aposentado, decide usar seu tempo livre para escrever um livro sobre processos do passado. A inspiração para a obra em questão vem de um caso brutal de assassinato que aconteceu há 25 anos e que nunca foi solucionado. Ocorrido em 1974, o caso, junto à instável e preocupante situação política do país, acabou colocando a vida do investigador em risco. Além do suspense e da tensão incessantes, temos também uma história de romance mal resolvida entre Benjamín e sua antiga chefe, Irene Menéndez (Soledad Villamil).

Dirigido por Juan José Campanella (mais conhecido por seus trabalhos na televisão), o filme foi o segundo representante argentino a ganhar o Oscar de melhor filme estrangeiro, no ano de 2010, e é considerado como uma das obras primas do cinema do país. Tanto que em 2015, um remake chamado Olhos da Justiça foi produzido por Hollywood, mas, conforme o esperado, não chegou nem aos pés da obra original.

Medianeras (2011)

Nota do filme:

Medianeras é o nome dado às paredes cegas presentes em diversos edifícios que, por estarem muito próximas ao prédio vizinho, tentam manter a privacidade de ambos proibindo a construção de janelas. Com isso, elas costumam ser muito utilizadas para a veiculação de publicidades e/ou outdoors e acabam, mesmo que sem querer, “fechando” as pessoas em seus apartamentos. No filme de mesmo nome dirigido por Gustavo Taretto, o significado dessas construções é usado como uma metáfora que faz referência à como vivem as pessoas em Buenos Aires (e no mundo) atualmente. Todos preferem se limitar ao mundo virtual e tentam, ao máximo, evitar qualquer tipo de interação social, se fechando para tudo à sua volta – mesmo que essa não seja a verdadeira intenção.

Martin (Javier Drolas) é um web designer com sérios problemas de sociabilidade que, aos poucos e com a ajuda de seu psicólogo, vai tentando cada vez mais transformar seus relacionamentos e seu dia-a-dia virtual em algo mais palpável e sociável. Já Mariana (Pilar López de Ayala), é uma artista que acabou de sair de um longo e marcante relacionamento que fez com que sua vida começasse a ficar tão bagunçada quanto seu pequeno apartamento, no qual divide espaço com os diversos manequins que são o material para seu trabalho. Por conta disso, passa a utilizar a tecnologia como uma válvula de escape para toda essa situação. Os dois moram lado a lado, compartilham dos mesmos costumes e preocupações, mas nunca se encontraram fora da internet. Uma ótima história para um filme de romance, não?

Querida, Vou comprar cigarros e já volto (2011)

Nota do filme:

A dupla de diretores Gastón Duprat e Mariano Cohn é bastante conhecida na Argentina por ter desenvolvido diversos formatos inovadores e conceituais para programas da televisão local, aumentando a imersão e importância do público. Dito isso, não é surpresa que o filme “Querida, vou comprar cigarros e já volto” fuja completamente dos padrões esperados para uma produção com esse nome. A história nada tem a ver com a famigerada expressão que culmina no abandono do lar por parte do pai e/ou marido, e também não é nada que um filme de comédia e drama comum costuma apresentar. Tentando sempre quebrar a quarta parede e utilizando diversos elementos de pura ficção, a dupla busca sempre surpreender o público com os absurdos que se sucedem conforme o filme avança.

Depois de ser atingido por dois raios seguidos, um mercador argentino (Eusebio Poncela) que caminhava com seu camelo por um deserto no Marrocos acaba ganhando poderes que lhe possibilitam alterar o tempo e as circunstâncias a seu bel prazer. De volta à sua terra natal, ele decide escolher um homem normal e descontente com o rumo que sua vida está levando para propor um acordo: Ernesto (Emilio Disi) deve escolher e retornar para qualquer momento de sua vida e como recompensa receberá uma maleta com 1 milhão de dólares. O único detalhe é que, para que o acordo seja cumprido, o homem deverá reviver 10 anos de sua vida.

Relatos Selvagens (2014)

Nota do Filme :

Relatos Selvagens, dirigido pelo jovem Damián Szifron, é uma daquelas jóias do cinema que aparecem de tempos em tempos. Seu sucesso e reconhecimento foram tamanhos que sua derrota para Ida (representante da Polônia) no Oscar de melhor filme estrangeiro de 2015 acabou causando até uma pequena comoção entre os seus fãs e entre os amantes do cinema em geral. Aqui, quanto menos o espectador de primeira viagem souber sobre a história, melhor.

O filme é um compilado de seis contos que misturam situações absurdas, drama, suspense, e principalmente, humor – daquele tipo que pode ser considerado um pouco duvidoso por alguns. As histórias são majoritariamente curtas, com atores e locações diferentes, mas com um tema central em comum: a vingança. O elenco, que tem nomes conhecidos como Ricardo Darín, Oscar Martínez e Rita Cortese, abrilhanta ainda mais as histórias, aumentando os tons desejados e causando até mesmo uma certa identificação com as situações fantásticas que vemos na tela.