Se existe um gênero cinematográfico que foi explorado à exaustão no início e metade dos anos 2000, podemos dizer que foi o de romance. Junto com a vertente do terror, o exemplo em questão foi tão abordado que acabou sendo constituída uma fórmula de sucesso que diminuiu, e muito, o trabalho dos roteiristas e a sua criatividade. Foi assim que surgiram os “enlatados” hollywoodianos, filmes muito parecidos em temática e abordagem, que são sucessos de bilheteria quase imediatos por conta de seu público fiel.
Tentando escapar um pouco desse ponto comum, iremos indicar cinco filmes de quatro nacionalidades diferentes que tragam visões distintas sobre romances e relacionamentos. Colocadas em ordem cronológica, as películas a seguir servem como indicações para aqueles que estão cansados dos mocinhos que se apaixonam após um esbarrão e se perdem completamente no conceito de “amor a primeira vista”.
Companheiros, Quase Uma História de Amor (Comrades: Almost a Love Story) [1996]
Nota do Filme:
Jun (Leon Lai) chega em Hong Kong vindo do interior da China com o objetivo de conseguir um emprego, dinheiro o suficiente para casar com sua namorada que o espera, e, quem sabe, até aprender um pouco de inglês. Durante sua rotina, acaba encontrando com Qiao (Maggie Cheung), uma atendente de fast food que estará destinada a se tornar a sua única amiga. Com o passar do tempo, a relação da dupla acaba evoluindo para algo a mais, assim como as pressões do dia-a-dia e os seus problemas.
O fato de ser uma produção de Hong Kong já vale por si só os 118 minutos investidos na experiência. É muito curioso ver e aprender um pouco mais com as imensas diferenças de uma produção oriental de romance quando comparamos com as opções estadunidenses com as quais estamos acostumados. O filme é clichê sim, mas de uma forma diferente. Acima de tudo, ele é doce e engaja mesmo aqueles que não estão acostumados com o ritmo e o idioma.
Com a direção de Peter Chan, a obra ganhou muitos elogios da crítica e do público e chegou a ser premiada em um festival de cinema americano na cidade de Seattle. Além de tudo isso, é uma escolha muito válida para abrir o leque de opções de cinema internacional afim de escancarar cada vez mais os nossos olhos para aquilo que é diferente.
Apenas uma Vez (Once) [2007]
Nota do Filme :
Um reparador de aspiradores passa o seu tempo livre tocando violão e cantando nas ruas de Dublin na esperança de uns trocados. Um certo dia, uma imigrante tcheca, que trabalha em uma floricultura local, se aproxima do rapaz por ter os mesmos interesses em música. Com o tempo, a dupla decide se juntar para escrever, cantar e refletir sobre a vida e o amor.
Once, é, sem dúvidas, a melhor e mais marcante indicação desta lista. Dirigido pelo mestre dos musicais “reais”, John Carney, o filme é quase amador em seu formato. A dupla de protagonistas não é de atores reais, mas sim de músicos. As cenas gravadas na capital irlandesa foram feitas usando câmeras simples, de mão e na maior parte do tempo sem avisar os pedestres que estavam em volta – o que causa algumas reações interessantes durante os 85 minutos de filme. Para completar o senso de realidade provocado pela obra, não é dado nem um nome para o casal principal, o que deixa em aberto a ideia de ser, de fato, um homem e uma mulher qualquer que se conheceram na rua e se apaixonaram – mas não se engane, a trajetória e o desfecho não são tão óbvio assim.
Mesmo depois de muito tempo, a música tema cantada pela dupla ao piano continua na memória, assim como o desenrolar de mais uma “história de verão”. É quase impossível não se apaixonar e se engajar com a trama, característica quase obrigatória em todos os filmes do diretor.
Um Brinde à Amizade (Drinking Buddies) [2013]
Nota do Filme:
Luke (Jake Johnson) e Kate (Olivia Wilde) são amigos que trabalham em uma cervejaria local. Após o expediente, a dupla passa noites bebendo e aproveitando a vida ao lado dos demais funcionários da empresa. Porém, os dois são muito mais próximos do que pensavam. Com os mesmos gostos, características muito parecidas e problemas em seus respectivos relacionamentos, agora resta saber se o sentimento presente é, de fato, apenas o de uma amizade.
Divertido, dramático e real, Drinking Buddies é mais um daqueles filmes que parecem um documentário. Isso porque a obra faz parte de um movimento conhecido como Mumblecore, um sub-gênero do cinema alternativo que presa pela naturalidade das atuações, baixos orçamentos, diálogos em sua maioria improvisados e a ausência de uma trilha sonora.
O interesse do filme dirigido por Joe Swanberg é de fato retratar as relações pessoais da forma mais crua e verossímil possível, e é isso que o torna tão especial. Para completar, o quarteto principal, que também conta com a presença de Anna Kendrick e Ron Livingston, apresenta uma sintonia fora do normal.
Amantes Eternos (Only Lovers Left Alive) [2013]
Nota do filme:
Adam (Tom Hiddleston) , um músico deprimido e cansado do rumo que a sociedade tomou, se reencontra com sua amada Eve (Tilda Swinton) nas desoladas ruas de Detroit. Por mais que o romance da dupla já dure literalmente por séculos, a chegada de Ava (Mia Wasikowska), irmã da protagonista, acaba abalando bastante as estruturas da relação do casal.
Dirigido por Jim Jarmusch, o longa é muito mais original do que parece a primeira vista. Toda a sua identidade estética e narrativa carrega uma boa dose de charme e novidade. É impossível não se interessar pelo fato de a história se tratar de uma dupla de vampiros modernos, além de traçar relações claras com o Romantismo, movimento que glorificava e romantizava a melancolia e a morte.
Os figurinos são ótimos, assim como a fotografia e todo o elenco de apoio, que também conta com John Hurt e Anton Yelchin. Sem dúvidas, Only Lovers Left Alive é o filme mais estiloso da lista e um dos mais marcantes.
Doentes de Amor (The Big Sick) [2017]
Nota do filme:
O comediante paquistanês Kumail Nanjiani e a estudante americana Emily Gardner (Zoe Kazan) se apaixonam e precisam lidar com o imenso choque cultural existente entre suas duas famílias. Após Emily contrair uma estranha doença, Kumail se vê obrigado a interagir e conviver com os pais desconfiados da moça, além de precisar combater as expectativas de seus próprios familiares e os seus sentimentos conflitantes acerca do relacionamento.
Indicado ao Oscar de melhor roteiro original, The Big Sick é um filme de romance com pitadas de comédia que foge um pouco do convencional. Baseado na história real de como Kumail conheceu sua esposa, a obra consegue a façanha de abordar com eficiência todas as questões amorosas e sociais que já normalmente envolvem um relacionamento, além de retratar a difícil aceitação familiar em abraçar uma pessoa que seja de um universo cultural tão diferente do seu.
Para aumentar a veracidade do longa, a direção também fica por parte de Kumail, assim como o roteiro, que foi inteiramente escrito pelo casal original. Mesmo um pouco longo, o filme é fofo, emocionante e bastante engraçado.