A ficção científica permeia a sétima arte desde o seu início. Seja com o clássico Le Voyage dans la Lune (Georges Méliès), Dr. Jekyll and Mr. Hyde (Rouben Mamoulian) ou, ainda, filmes mais contemporâneos como Godzilla (Ishirō Honda) e, é claro, a sempre lembrada franquia de Star Wars (George Lucas).
O gênero é um ótimo expoente para se trazer ideias inovadoras à tela ao mesmo tempo em que se propõe a abordar as consequências das referidas inovações. Dessa forma, dialoga muito bem com gêneros como ação, que nos permite elevar ao máximo a adrenalina decorrente das invenções, e terror, trazendo uma abordagem mais social às questões, apenas para dizer alguns.
Pensando nisso, trouxemos cinco filmes que acreditamos serem não apenas ótimos exemplares mas, também, não tão conhecidos, a ponto de justificar uma maior divulgação – portanto, evitaremos clássicos inegáveis como Blade Runner e Alien.
Metrópolis – Diretor: Fritz Lang
Os mais apaixonados pelo gênero talvez estranhem a colocação de Metrópolis na lista, não por uma questão de qualidade, certamente, mas sim por anunciarmos que evitaríamos filmes mais conhecidos. Ocorre que, por mais que a obra de Fritz Lang seja, talvez, o maior clássico do gênero, fato é que a sua idade – o filme foi lançado em 1927 – acaba fazendo com que seja menos difundido entre os mais novos.
Baseado no livro de Thea von Harbou – também responsável pelo roteiro da adaptação e, à época, esposa de Lang – o longa nos traz à uma futurística cidade dividida entre os trabalhadores braçais e os planejadores urbanos, a tensão sendo constante entre as duas classes. A profecia dos trabalhadores, contudo, afirma que chegará alguém para mediar as suas diferenças e, assim, poderão viver em paz.
Metrópolis é uma de muitas ótimas combinações entre o terror e a ficção científica, sendo um ótimo exemplar do movimento do expressionismo alemão.
Paprika – Diretor: Satoshi Kon
Satoshi Kon foi um visionário diretor de animação japonesa, responsável por alguns dos filmes mais interessantes que trabalham com animação. Seu longa de estreia, Perfect Blue, o qual serviu, ao menos, de inspiração para Cisne Negro, de Darren Aronofsky, é um dos raros casos em que se mostra mais relevante hoje que à época de seu lançamento (1997).
Em Paprika, seu último e, talvez, mais ambicioso trabalho, Kon mergulha no surrealismo ao cunhar uma narrativa baseada na criação e uso de um dispositivo que permite ao portador entrar nos sonhos de seus pacientes. Se a sinopse lhe parece familiar, destaco que há consideráveis semelhantes, especialmente imagéticas, com A Origem, de Christopher Nolan, sendo o longa anterior ao trabalho de Nolan (2006 x 2010). Até onde se sabe, porém, Nolan jamais confirmou qualquer inspiração em Paprika.
Primer – Diretor: Shane Carruth
Primer talvez seja um dos melhores exemplos sobre como uma ideia inicial pode se desenvolver em um complexo roteiro a despeito de restrições financeiras. Primeiro longa metragem do diretor Shane Carruth – que também atuou, produziu, editou e criou a trilha sonora do filme –, o longa é uma densa e interessante representação sobre o modo como a viagem no tempo poderia ser utilizada.
Sem grandes efeitos visuais e com um orçamento de apenas US$ 7.000,00, o foco reside na sobriedade da trama, jamais abraçando ambições desproporcionalmente exageradas. Ao reconhecer as limitações impostas, Carruth consegue contorná-las de maneira inteligente, sem jamais diminuir a confusão – no bom sentido – do texto do filme.
*Lançado em 2004, a obra arrematou tanto o prêmio Grande Prêmio do Júri quanto o Prêmio Alfred P. Sloan – dados a filmes que focam em ciência/tecnologia como temática –, ambos no Festival de Sundance.
Ex-Machina – Diretor: Alex Garland
Em 2014, o roteirista Alex Garland dirigiu o seu primeiro longa metragem, Ex-Machina, comandando pequeno elenco – o foco fica em apenas três personagens. Na história, acompanhamos um jovem programador convidado a ser parte de um experimento no desenvolvimento de uma I.A. (inteligência artificial) funcional na residência do CEO da empresa na qual trabalha.
Garland é um entusiasta do gênero, e se aproveita não apenas dos seus pontos mais fortes como, ainda, utiliza o já tão conhecido arquétipo da inteligência artificial para subverter determinadas expectativas do espectador. O resultado é um filme aparentemente simples, mas denso, com consideráveis referências à temáticas criacionistas.
Upgrade – Diretor: Leigh Whannell
Upgrade se passa em um futuro próximo no qual a automatização da tecnologia tornou tarefas mundanas algo desnecessário. Após um atentado à sua vida e a de sua esposa, o qual resultou na morte de sua cônjuge e em sua paralisia, o protagonista, um tecnófobo, terá implantado um chip em seu corpo que lhe permitirá buscar vingança contra os agressores.
Aqui, Leigh Whannell brinca com o conceito da tecnologia, criando uma narrativa instigante e imersiva. Por mais que os fãs do gênero consigam, sem grandes dificuldades, identificar os possíveis twists, a jornada ainda vale à pena, sobretudo pelo excelente uso de câmera nas (excelentes) cenas de ação. Talvez o menos “profundo” da lista, mas ainda assim, um ótimo filme.
Carioca, advogado e apaixonado por cinema. Busco compartilhar um pouco desse sentimento.