“Em um futuro pós-apocalíptico não muito distante, o planeta é um lugar devastado. O Continente é uma região do Brasil miserável, decadente e escassa de recursos. Aos 20 anos de idade, todo cidadão recebe a chance de passar pelo Processo, uma rigorosa seleção de provas físicas, morais e psicológicas que oferece a chance de ascender ao Mar Alto, uma região onde tudo é abundante e as oportunidades de vida são extensas. Entretanto, somente 3% dos inscritos chegarão até lá.”
Essa é a sinopse da primeira produção brasileira da Netflix: 3%. Com apenas 8 episódios na primeira temporada (com uma segunda temporada confirmada na CCXP 2016), a série abre um espaço brasileiro no maior serviço de streaming do mundo.
Ela foi baseada na websérie de mesmo nome, lançada em 2011 no YouTube, repercutindo muito na época, pois foi um enorme sucesso apenas com seu episodio piloto dividido em três partes.
A série atrai justamente pelo assunto que ela aborda, afinal uma distopia sempre é interessante. Junte isso com o fato de ser brasileira e ter o selo da Netflix, pronto, criamos uma curiosidade de conferir pelo menos o primeiro episodio.
Toda a ambientação do local do processo é maravilhosa, uma aparência futurística e minimalista, ponto pra direção de arte da série. A trilha sonora é perfeita, tanto os instrumentais quanto musicas nacionais (toca até Noel Rosa na série), a fotografia cria uma atmosfera de aprisionamento dentro do local, o que é incrível.
Mas enquanto a parte técnica é esteticamente linda, a parte artística deixa um pouco a desejar, pelo menos nos dois primeiros episódios. As atuações não aparentam naturalidade no começo, mas depois dão uma enrijecida que torna a série ainda melhor. Destaque para o personagem de João Miguel, que conduz o processo com maestria, não de um tirano, mas de uma pessoa convicta daquele sistema.
Os participantes do processo possuem diversas motivações, visões de mundo divergentes, um passado, e conseguem demonstrar isso no decorrer dos episódios. Um ponto que ajuda a ter simpatia com os personagens é por não serem rostos conhecidos, os “globais”, como acontece com as produções norte-americanas.
O que prende a atenção ainda é a vontade de ver o Mar Alto (a cidade utópica que os vencedores do processo vão) e o desenvolvimento da Causa (a força revolucionaria anti-processo), torcendo para que a possível futura guerra entre eles aconteça logo (apesar de não ser muito explorada essa possibilidade nessa primeira temporada).
Com um roteiro coeso, fechado e com um final que te deixa esperando pra assistir próxima temporada, 3% marca o inicio de uma nova era no mercado audiovisual brasileiro. Tanto que a Netflix encomendou um filme nacional original, O Matador, e uma série sobre a Operação Lava-Jato, essa ultima sendo desenvolvida pelo José Padilha.
Fica aqui a indicação para acompanhar essa série interessantíssima, mesmo que alguns tenham preconceito por ser brasileira, deem uma chance para ela porque, além de ter o selo Netflix, a forma que a historia tem o seu desfecho é excelente.
Apaixonado por cinema, amante das ciências humanas, apreciador de bebidas baratas, mergulhador de fossa existencial e dependente da melancolia humana.