Uma vez que são responsáveis por iniciar o filme, cenas de abertura têm como responsabilidade introduzir o tom que a história irá seguir. Dessa forma, cineastas se aproveitam desse curto momento para tornar o seu longa tão atrativo quanto possível, de modo a rapidamente capturar a atenção da audiência. Nesse sentido, as maneiras pelos quais diretores podem fazê-lo são diversas, cada qual com a sua própria assinatura.
Abaixo, trazemos dez exemplares que aproveitam ao máximo o seu início. Ressalta-se, desde já, que a lista não está em qualquer ordem particular, bem com não reflete a qualidade da obra como um todo. Ainda, trata-se de escolhas exemplificativas, uma vez que há incontáveis outros que poderiam ser escolhidos.
Batman – O Cavaleiro das Trevas (Batman – Dark Knight)
Batman – O Cavaleiro das Trevas segue o herói Bruce Wayne/Batman (Christian Bale) um ano após os acontecimentos de Batman Begins. Ainda em sua cruzada contra o crime organizado da cidade, será forçado a confrontar uma figura que atende apenas pelo nome de Coringa (Heath Ledger). Sádico e caótico, o antagonista representa a antítese do pensamento do herói, criando não apenas um embate físico, mas também ideológico.
Tido por muitos como o melhor filme de super-herói já feito, alterou a indústria cinematográfica como um todo. Sua qualidade levantou o debate acerca da possibilidade do gênero receber reconhecimento por parte da Academia sendo, inclusive, um dos motivos primordiais pela troca do modelo de nomeação para Melhor Filme, que não mais se limita a cinco indicados.
Uma vez que o herói já fora introduzido e estabelecido anteriormente, a cena de abertura do longa foca no antagonista, de modo a mostrá-lo como um adversário digno ao Homem Morcego. Assim, com foco em um assalto a banco, a audiência percebe, desde logo, todas as características necessárias ao vilão. Dessa forma, por mais que passe a impressão de uma figura despreocupada, sua meticulosidade e inteligência são evidente. Ao mesmo tempo, tem-se que não hesita em utilizar-se da força.
Utilizando-se de, aproximadamente, cinco minutos, Christopher Nolan conseguiu criar uma tensão que permeia a obra por completo. Complementado por uma fantástica performance de Heath Ledger, o principal adversário do herói nunca pareceu tão ameaçador.
La La Land – Cantando as Estações (La La Land)
La La Land – Cantando as Estações acompanha o casal Mia (Emma Stone) e Sebastian (Ryan Gosling). Ela, uma barista aspirante a atriz, ele, um músico de jazz com a ambição de abrir o seu próprio clube e ajudar a manter o gênero musical que tanto ama vivo.
Damien Chazelle não esconde a sua paixão pela música. Nesse sentido, rapidamente conseguiu reconhecimento ao dirigir, em 2014, Whiplash, que foca em um baterista obcecado pela perfeição, consagrando-se como um dos melhores novos diretores da atualidade. Desse modo, a expectativa para o seu novo longa era grande e, felizmente, atendida.
La La Land – Cantando as Estações conta com uma introdução digna dos grandes musicais clássicos. Sua sequência de dança, que aparenta ser filmada em apenas uma tomada, impressiona pela quantidade de detalhes. Assim, o diretor consegue trazer às telas a sensação de um filme antigo, o que instantaneamente prende o espectador. Ao mesmo tempo, aproveita para trazer, na letra da música, importantes twists do roteiro, que passam despercebidos à audiência, uma vez que escondidos no espetáculo.
Em Ritmo de Fuga (Baby Driver)
Em Ritmo de Fuga segue a vida de Baby (Ansel Elgort), jovem que se vê forçado a ser piloto de fuga em assaltos a bancos por um poderoso criminoso. Talentoso, acaba por se tornar imprescindível na empreitada de Doc (Kevin Spacey). Contudo, ao se apaixonar por Debora (Lily James), Baby fará de tudo para mudar rumo de sua vida.
Considerado por muitos como o melhor filme do conhecido diretor Edgar Wright, o longa ficou conhecido não apenas por possuir uma excelente trilha sonora, mar por utilizá-la de uma forma que dialogue com o roteiro de maneira imersiva. Desse modo, as cenas de ação se dão ao redor das playlists nos incontáveis iPods do protagonista.
Nesse sentido, a abertura acompanha o assalto da equipe a um banco. O espectador é, imediatamente, imerso em uma narrativa extremamente veloz e intensa. Os cortes rápidos e precisos ajudam a manter o seu tom , ao mesmo tempo em que, com pouco de tempo de tela, Ansel Elgort consegue criar uma persona carismática o bastante para engajar a audiência.
Cidadão Kane (Citizen Kane)
Cidadão Kane aborda a vida e a morte de Charles Foster Kane (Orson Welles), magnata do ramo jornalístico e dono de uma grande fortuna. Após o fatídico acontecimento, um grupo de jornalistas tenta decifrar o mistério em torno da última palavra pronunciada pelo personagem no seu leito de morte: Rosebud.
Orson Welles é, até hoje, relembrado como um dos maiores diretores da história. Ainda, permitiu-se empreitadas em diversos ramos da sétima arte, como atuação, produção e roteiro. Suas técnicas ajudaram a moldar o cinema como hoje conhecemos.
Para muitos, Cidadão Kane é a sua obra prima, muito em função de sua excepcional cena de abertura. Com uma edição inteligente e intrigante, tem-se que o espectador é rapidamente imerso no conto de um magnata solitário e recluso. Ainda, a palavra final do protagonista desencadeia um mistério que permeia o longa por completo, tornando impossível que a audiência não se sinta engajada com a jornada de Jerry Thompson (William Alland) em busca de quem, ou o que seja Rosebud.
Matrix (The Matrix)
Matrix acompanha Neo (Keanu Reeves), hacker de computador em busca da verdade acerca de sua realidade. Sua jornada o leva a Morpheus (Laurence Fishburne) e, eventualmente, faz com que descubra os mistérios envolvendo a Matrix.
Reverenciado como um dos melhores filmes de ação da história, o longa conta com um início rápido e intenso. A audiência acompanha Trinity (Carrie-Anne Moss) em seu embate com os temíveis Agentes. Ao mesmo tempo em que é uma excepcional cena de ação, a introdução levanta questões pertinentes acerca da filosofia da narrativa, mostrando, desde já, se tratar de mais que um simples blockbuster.
Up – Altas Aventuras (Up)
Up – Altas Aventuras acompanha Carl Fredricksen (Jeremy Leary/Ed Asner), proprietário de uma residência alvo de um grande empreendimento imobiliário, a qual se recusa a vender por ser uma de suas mais importantes lembranças de sua finada esposa Ellie (Elie Docter). Contudo, forçado a se mudar para um asilo, o protagonista inicia uma perigosa empreitada para a América do Sul, em busca de Paradise Falls, acompanhado por Russell (Jordan Nagai), jovem escoteiro.
Os Estúdios Pixar são conhecidos por criarem filmes animados que dialogam tanto com crianças com adultos. Nesse sentido, tem-se, aqui, provavelmente o mais emocional de todos, o que, considerando o seu histórico, quer dizer alguma coisa. Muito de sua carga dramática é passada ao espectador por meio de sua excelente abertura.
Dessa forma, ao viver os momentos mais tristes de sua vida, a audiência compreende perfeitamente as suas ações posteriores, por mais teimosas que possam parecer. É nítido que a perda de sua esposa transformou o protagonista em um indivíduo ranzinza e infeliz. Os diretores Pete Docter e Bob Peterson conseguem, assim, contar uma delicada história de amor e perda em apenas alguns minutos, aumentando o impacto geral do longa.
Bastardos Inglórios (Inglorious Bastards)
Bastardos Inglórios se passa na Segunda Guerra Mundial e acompanha Shosanna Dreyfus (Mélanie Laurent), jovem judia que, por pouco, escapou das garras do Coronel Hans Landa (Christoph Waltz). Simultaneamente, um grupo de judeus americanos, liderados por Aldo Raine (Brad Pitt), se intitulam “Bastardos” e tem como objetivo matar tantos nazistas quanto possível.
Há muito a ser dito acerca da habilidade de Quentin Tarantino em cunhar ótimas cenas de abertura. Pulp Fiction e Cães de Aluguel são outros exemplos competentes nessa área específica da sétima arte.
Nesse sentido, Bastardos Inglórios consegue, com maestria, introduzir o principal antagonista da obra de uma maneira ameaçadora e impiedosa como, também, estabelecer as motivações de Shosanna. Desse modo, a visita de Hans ao esconderijo da protagonista dá, à audiência, uma clara demonstração de sua astúcia, bem como demonstra, desde já, a sua impiedade. Permeada de tensão, serve como um ótimo prelúdio ao que está por vir.
Um Lugar Silencioso (A Quiet Place)
Um Lugar Silencioso conta a história de uma família que tenta sobreviver em um mundo pós-apocalíptico, no qual a Terra foi infestada por criaturas perigosas que caçam as suas presas pelo som. Dessa forma, devem viver o mais silenciosamente possível, de modo que sequer podem conversar entre si, tendo que recorrer à linguagem de sinais para comunicação interpessoal.
Uma vez que aborda um cenário distópico, uma boa introdução é de vital importância. Isto é, deve-se ser capaz de estabelecer os limites da realidade na qual vivem os protagonistas, ponto esse que o filme consegue cumprir com maestria. De maneira rápida e precisa, o John Krasinski demonstra não apenas as regras pela quais os personagens devem viver, como também as consequências que terão de enfrentar caso elas sejam quebradas.
O Show de Truman (The Truman Show)
O Show de Truman acompanha a vida de Truman Burbank (Jim Carrey), simples residente do município de Seahaven e marido de Meryl (Laura Linney). O protagonista, contudo, não sabe que sua vida se trata de um reality show, de modo que todos os moradores de sua cidade, inclusive seu melhor amigo Marlon (Noah Emmerich), são atores, atrizes e figurantes.
Com uma premissa intrigante e atrativa, tem-se aqui uma obra à frente do seu tempo. Lançado em 1998, o avanço das tecnologias envolvendo vigilância, bem como o crescente interesse de cidadãos nas vidas uns dos outros, fazem com que o roteiro permaneça extremamente atual e relacionável.
Nesse sentido, O Show de Truman conta com uma introdução rápida e inteligente, que imediatamente transporta o espectador ao mundo dos personagens. Isto é, trata-se de um trailer do programa fictício dentro do filme, demonstrando autoconsciência de sua própria narrativa. Uma abertura tão interessante quanto o longa em si, capaz de, imediatamente, captar o interesse do espectador.
O Rei Leão (Lion King)
O Rei Leão acompanha a queda e ascensão do príncipe Simba (Matthew Broderick), legítimo herdeiro de seu pai Mufasa (James Earl Jones). Após assistir à morte de seu pai arquitetada por seu tio Scar (Jeremy Irons), o protagonista deverá descobrir quem realmente é e, para isso, contará com a ajuda de Timon (Nathan Lane) e Pumbaa (Ernie Sabella).
Considerada uma das maiores animações existentes, trata-se do conto de amadurecimento do protagonista que, em situações adversas, deve recuperar o trono perdido. Uma história de perda e redenção, perfeitamente retratada em um filme belo e emotivo.
Como não poderia ser diferente, a abertura de O Rei Leão captura com maestria a escala épica do reinado de Mufasa. Com a música Circle of Life ao fundo, a audiência assiste às boas vindas do reino ao novo príncipe e, instantaneamente, está presa à narrativa.
Carioca, advogado e apaixonado por cinema. Busco compartilhar um pouco desse sentimento.