O Universo Cinematográfico DC: como a crítica e a expectativa dos fãs refletiu nas produções.

Quando decidiu dar vida ao seu Universo Cinematográfico a Warner Bros. e a DC Enterteinment entraram em uma grande enrascada. Primeiramente pelo fato da concorrência estar fazendo isso desde 2008 e estar prestes a lançar seu filme de equipe; em segundo lugar que os heróis da DC Comics são como Deuses Olimpianos e fizeram parte da infância de toda uma geração graças à série animada de meados dos anos 2000. A proporção entre expectativa e desconfiança eram palpáveis em quaisquer Redes Sociais que se olhasse sobre os filmes.

Houve um aumento descomunal na desconfiança quando foi anunciado o nome do responsável por calcar a pedra base e fundamental desse universo compartilhado: Zack Snyder. O diretor, conhecido por seus maneirismos estilísticos, desagradou a crítica logo de cara e teve narizes torcidos por uma parcela do público. Fato é que ninguém sabia o que esperar desse Universo, se seria mais heroico ou um embasamento mais realista, conforme propunha a Trilogia Batman de Cristopher Nolan.
Chegou 2013 e com ele o lançamento de O Homem de Aço. Conforme esperado a divisão de público se fez presente apenas pela presença de Zack Snyder comandando o projeto e por subverter completamente o estereótipo do Superman consagrado por Reeve nos anos 1970. Dessa vez não tivemos o herói idealista e escoteiro, Snyder trouxe um Superman atormentado e perdido, cheio de falhas e dúvidas, assombrado por demônios do seu passado e tentando se redimir por ser quem ele era de fato. Parte o público rechaçou completamente, afinal, não existia heroísmo ali, existia apenas um herói em início de carreira tomando decisões de atos que se impuseram a ele. O Superman que o mundo precisou estava lá, apesar de ter destruído uma cidade, foram danos colaterais para salvar bilhões de vidas.

Mesmo em meio a polêmica, a Warner decidiu seguir em frente e anunciou algo inesperado: a adaptação cinematográfica de O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller. Eis que surge então Batman vs Superman: A Origem da Justiça. Mais uma vez Warner/DC elevaram o jogo, adaptando uma renomada HQ dos dois maiores heróis da editora, com um plus de ter a maior heroína de todos os tempos fazendo uma ponta. Foi então que descambou: as pessoas criticavam o tom, criticavam Zack Snyder, criticavam as escalações de elenco e isso contaminou a Internet de tal forma que logo o filme se viu envolta em uma enorme bolha de raiva, sem a mínima tentativa de dar uma chance ao material.

Tudo se refletiu no lançamento com a massacrante maioria dos reviews criticando diversos aspectos do filme, nenhum deles sendo sobre a parte técnica ou construção narrativa do longa. Vimos críticas e ódio ao tom do filme; vimos críticos dizendo que um tom otimista, piadista e sem consequências era o ideal; vimos que o credo e consenso era que filmes de Super-Heróis tornaram-se um subgênero com suas próprias regras que deveriam ser seguidas a risca. Parte do público nerd comprou a informação e repassou a outros e tudo se tornou uma grande bola de neve.
Fato é que BvS não é um filme ruim, na verdade, passa longe disso, na verdade, o filme é um drama sobre super-heróis e não de super-heróis, o que faz uma diferença gigantesca para sua compreensão. É uma trama mais lenta, densa e com 4 atos, quando a estrutura convencional de um roteiro prevê 3 atos. Isso trouxe um estranhamento e polarizou o mundo nerd: quem amou vs quem odiou.

O lançamento de Mulher Maravilha na última quinta-feira e sua aceitação pela crítica em peso mostram que a virada da DC Enterteinment chegou, porém, isso pode significar deixar de lado tudo o que foi construído até o momento, abandonando tom e densidade, qualidade cinematográfica, e se tornando apenas mais um filme pipoca feito para desligar a mente por duas horas e esquecer assim que sair do cinema.

Espero que Patty Jenkins tenha feito mais que apenas explosões desenfreadas e piadas, espero alma e coração, bravura, coragem e densidade, afinal, o cinema existe para despertar emoções e para ensinar, propagar mensagens e ideias.

A Warner/DC continuará com a expansão de seu tardio Universo Cinamatográfico e que venham mais filmes que desafiem o expectador, afinal, mais do mesmo temos todos os anos com o mesmo tom, as mesmas piadas e a mesma estrutura sem alma que te preenchem por algum tempo, mas não te deixam marcados por anos.