This is us e a não linearidade bem conduzida

E quando o episódio piloto de uma série já é em si uma obra-prima? Isso acontece em “This is Us”, série estadunidense que vem tendo um grande alcance desde seu lançamento em setembro de 2016. No decorrer da primeira temporada da série, somos introduzidos a personagens que geram uma conexão, de diferentes formas, mas que sempre acabam trilhando um caminho parecido. Não é a toa que em sua abertura, a primeira coisa com a qual nos deparamos é uma breve explicação acerca do significado das pessoas que compartilham a mesma data de aniversário. Elas estariam conectadas entre si?! A abordagem dessa primeira temporada vai além do mostrar a vida como ela é, mas também destrincha os modos de lidar com ela. Nesse ponto, a série acaba trazendo uma reflexão acerca desses obstáculos que são ultrapassados por cada um dos personagens que a protagoniza. Kevin, Kate e Randall, todos com 36 anos de idade, tem suas vidas contadas em torno a essa “teia” de histórias que se conectam. É inevitável não se remeter ao acompanhar os episódios da obra a filmes grandiosos como “Short Cuts” de Robert Altman e “Magnólia” de Paul Thomas Anderson, devido a abordagens de pequenos segmentos que se conectam por um ponto onipresente entre eles. A obra, como um todo, acaba sendo mais um exemplo do bom uso dessa abordagem.
Mas o que torna a vida desses personagens tão fascinante diante de nossos olhos?!
Provavelmente o fato de que, como sugere o nome da série, eles serem como nós. Pois ao longo dos dezoito episódios que compõem a temporada algo permanece inerente: o lidar com os deslizes da vida, o amadurecimento e a instigante trama que enlaça esses três personagens como um todo.
“This is Us” acaba esmiuçando com maestria o conceito de família, dando-nos até novas visões sobre. Num ritmo que nunca esfria, acabamos conhecendo mais acerca de diversos tabus que permeiam a vida como a aceitação do próprio corpo, a busca pelo pai biológico, a frustração na vida profissional. E pouco a pouco, com o desmascarar dessas questões, enxergamos que esses personagens compartilham muito mais do que a mesma data de aniversário. A passagem de tempo, o evoluir de gerações, nos traz a abordagem desse emaranhado de questões, sem nunca pousar num enredo desgastante e repetitivo. E apesar de temáticas sérias, a série tem seus momentos de alivio cômico que parecem surgir na hora certa, fazendo-a fluir com mais leveza. O roteiro da série, apesar de não ser totalmente linear, não anda em círculos e sim numa linha reta que se conduz a uma gama de diferentes desfechos.
Dar uma chance a “This is us” é como dar uma chance a ampliar os sensores nostálgicos da mente. É ver que memórias podem se tornar inerentes na evolução de uma obra. E acima de tudo, realizar que o amor vive, persiste… por entre os fragmentos da vida.