Crítica | Psicopata Americano (American Psycho) [2000]

Nota do Filme :

Inicialmente, uma questão deve ser esclarecida: temos aqui uma comédia de humor negro. Apesar do site IMDb identificar o filme como um drama – o que pode tornar a recepção ao longa incongruente – o gênero se mostra claro no decorrer da história. O caráter cômico fica evidente em algumas cenas, em especial ao vermos o personagem principal nu e banhado em sangue perseguindo uma vítima pelas escadas de seu prédio com uma serra elétrica.

 

 

A obra é uma sátira acerca do estilo de vida norte-americano. A história busca subverter o conceito através da futilidade de seus personagens. Patrick Bateman (Christian Bale) é um yuppie[1]. Trabalha como corretor de Wall Street no final da década de 80. Nunca vemos Patrick de fato trabalhar, o que corrobora o quê de sátira do filme.

Patrick gosta de matar pessoas em seu tempo livre, hábito que acaba influenciando a sua vida pessoal. À medida que esse desejo se torna incontrolável, vemos o desenrolar da trama.

 

 

Ao analisarmos a rotina de Bateman, percebemos que tudo o que faz visa meramente incrementar a visão que o mundo exterior (outros) tem sobre a sua pessoa. Segundo o próprio protagonista, a sua existência é meramente abstrata, refletindo aquilo que os outros veem[2], de modo que não existe um Patrick “real”.

Ainda, em seu apartamento, há uma ausência de personalidade. As paredes brancas contam com poucos adereços, as cores variando entre cinza e preto, salvo o ocasional móvel de madeira clássico. Não há retratos seus, de familiares ou amigos.

Não apenas isso. Por vezes no filme os personagens se confundem uns com os outros. Trata-se de uma estratégia narrativa que busca demonstrar a similaridade entre todos os envolvidos.

São corretores que vestem os mesmos ternos, cortam o cabelo no mesmo local, enfim, em sua ânsia por alcançar o topo acabam se tornando “iguais” aos seus colegas, perdendo a própria identidade. Não há espaço para a individualidade.

Há no filme, ainda, um aspecto investigativo. Donald Kimball (William Dafoe) é um detetive que busca desvendar o mistério acerca do desaparecimento de Paul Allen (Jared Leto), funcionário da mesma corretora que Bateman.

 

 

Um fator interessante na atuação de William Dafoe é que todas as cenas na qual dialoga com Bateman foram feitas 3 vezes, do seguinte modo: o detetive sabia que Patrick havia matado Paul; o detetive não sabia se Patrick havia matado Paul e; o detetive não tinha certeza se Patrick havia matado Paul.

Na edição as cenas foram misturadas, de modo que o telespectador nunca tem certeza sobre como Kimball se sente em relação à Bateman. Afinal, o desconforto que Patrick sente ao ser interrogado é apenas sua própria paranoia, decorrente do medo em ser descoberto ou o investigador está, de fato, próximo de da verdade, e a prisão é inevitável? Essa dúvida faz com que a interação entre os dois seja sempre interessante.

A trilha sonora é repleta de clássicos do final da década de 80. Merece especial atenção a cena do homicídio de Paul Allen, ao som de “It’s Hip to be Square”, que conta com dança improvisada por Christian Bale.

O filme não teve uma recepção muito calorosa. Inclusive, diversos grupos se manifestaram – e se manifestam – contra o livro/filme[3]. Quanto às críticas, foram mistas.

Hoje, porém, o filme se tornou um “clássico cult”, sendo constantemente lembrado em listas de filmes sobre temas como psicopatia ou até mesmo ganância. O final em aberto combina com a temática do filme, evitando uma resolução forçada e não satisfatória.

 

[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Yuppie

[2]There is an idea of a Patrick Bateman; some kind of abstraction. But there is no real me: only an entity, something illusory. And though I can hide my cold gaze, and you can shake my hand and feel flesh gripping yours and maybe you can even sense our lifestyles are probably comparable… I simply am not there”.

[3] A madrasta de Christian Bale, inclusive, era uma ativista contrária à produção do filme.