Precisamos falar sobre One Day at a Time


Nunca pensamos que uma série de comédia nos faria sentir um turbilhão tão grande de sensações em uma única temporada. É o que traz a série recém lançada do Netflix, “One day at a time”. No decorrer de seus treze episódios a série, além de nos arrancar vários sorrisos, traz uma reflexão em torno a temáticas sérias e inerentes nas vidas de muitas pessoas. Esses temas vão desde a convivência em um país novo sendo de outra origem até aos modos de lidar com a separação de um casamento e uma vida pós-guerra.
“One day at a time”, que na verdade é um remake de uma série anteriormente exibida nos anos 70, conduz-se com maestria nos apresentando a vida da família Alvarez, formada por uma mãe solteira, seus dois filhos e a avó.
Mas o que viria a tornar tão necessário falar sobre ela? A obra segue o formato das sitcons que mostram a vida de maneira nua e crua, tal como ela é. As questões são tão bem abordadas que a série conseguiu até trazer a tona a representação coerente da descoberta da homossexualidade na adolescência, tema que se mostra deveras escasso no universo audiovisual. Conhecemos a vida da adolescente Elena, que percorre o caminho da descoberta e da sua aceitação. Acompanhamos isso tudo diante do âmbito familiar. Sua história caminha em torno as dúvidas que permeiam a adolescência e esmiúçam a consolidação de sua personalidade tão forte. Quanto a sua mãe, vemos seus percalços diante da recém vida de solteira e depois de ter passado pela guerra no Afeganistão. Elena, sua filha, não é a única a amadurecer. Penelope Alvarez amadurece e torna-se empoderada junto a ela. Seu irmão e avó também. Alex, o mais novo, nos faz lembrar da infância, aquela era de descobertas, de viver o lado lúdico da vida. A avó, Lydia, nos mostra que nunca se é tarde para tomar rumos que eram até então desconhecidos e começar um novo relacionamento. Num eixo, em conjunto, a família Alvarez parece trilhar no decorrer de toda a temporada o caminho para o amadurecimento que os uniria ainda mais.
E quanto a comédia? A série cumpre com sua proposta também. Há uma porção de momentos de alívio cômico que parecem vir num timing perfeito. E ressaltamos algo: todo personagem tem um senso de humor único e nenhum deles chega a ser exagerado ou apelativo.  Percebe-se o quão bem o roteiro se conduz. São principalmente nesses momentos de alivio cômico que somos introduzidos ao personagem chamado Schneider que mesmo não sendo membro da família, se encaixa perfeitamente entre eles. O que chama mais atenção na obra em uma análise feita mais afundo é justamente a construção dos personagens que flui tão bem, algo que se torna um pouco mais difícil de atingir em uma sitcom devido ao seu formato tão atrelado a comédia. Essa junção de fatores acaba tornando a experiência dessa primeira temporada algo leve de se assistir, fazendo-nos nem sentir o tempo passar e nos aproximando mais e mais a cada fragmento da história desses personagens tão carismáticos.
E nessa condução, é quando chegamos a cena final do último episódio que sintetizamos ali, diante dos nossos olhos, o real significado de família. “One day at a time” (Um dia de cada vez), depois de tantos sorrisos, nos faz chorar. De alegria ou de felicidade? Garanto que vale a pena descobrir.