And The Oscar Goes To: Loving Vincent

Artista é todo aquele que cativa, que toca ou faz pensar por meio da manifestação de seu trabalho. É aquele que levanta debates acerca de determinado ponto de vista ou simplesmente permite a contemplação de algo que faça bem para aquele que anseia em consumir a sua obra. Vincent Van Gogh, pintor holandês, foi não somente um artista, mas também um gênio. Tido como uma pessoa fraca, completamente fora dos padrões quando o assunto é sanidade mental e, até mesmo, uma má influência para aqueles ao seu redor, Vincent pode ter sido uma das mentes mais incompreendidas que o mundo já viu. Durante seus 37 anos, seja em Paris, local para o qual se mudou em busca de novas ideias, novas técnicas e novas paisagens (já que era ali que viviam todos os artistas de sucesso contemporâneos à ele), ou em Auvers, vilarejo pacato onde tentou encontrar a paz perante a tormenta vivida até ali – infelizmente sem sucesso -, Van Gogh conviveu com a falta de dinheiro para comprar sua tintas, com a dívida e o sentimento de ser um fardo para seu irmão Theo e com o “fracasso” proveniente da falta reconhecimento de suas obras. Hoje, quase 130 anos após sua morte, o pintor é considerado um dos pais da arte moderna. Suas mais de 800 pinturas a óleo, formadas a partir de pinceladas marcantes e cores vibrantes, ajudaram na fundação desse novo estilo de arte, extremamente reconhecido e estimado.

Dirigido pelos novatos Dorota Kobiela e Hugh Welchman, Loving Vincent conta a história de Armand Roulin, um jovem que, a pedido de seu pai, tem a missão de retornar à última cidade que serviu de moradia e inspiração para Van Gogh com o objetivo principal de entregar uma carta escrita por ele a seu irmão Theo. Após conhecer os locais frequentados pelo pintor e conversar com as pessoas que conviveram com ele, direta ou indiretamente, Roulin decide ir um pouco mais a fundo em busca da verdade: Vincent se suicidou ou foi vítima de assassinato?

A premissa relativamente simples não é nada comparada a como essa história é contada. Produzido por quase 100 artistas profissionais, o filme é a primeira animação na história a ser inteiramente pintada a mão. De acordo com dados oficiais da produção, 853 pinturas diferentes – no estilo de óleo sobre tela criado por Van Gogh – foram criadas para dar vida a cada frame da história, transformando a experiência de assistir ao filme em algo no mínimo especial. É genial conhecer as pessoas que inspiraram as obras originais e, principalmente, poder visitar os campos de trigo, as paisagens com céu estrelado e até mesmo o quarto do próprio Vincent, cenários que serviram de inspiração para os quadros mais famosos do pintor. Ligado a isso, temos uma trilha sonora bem casada com as imagens da tela, permeada por músicas que ditam os sentimentos de cada cena e conseguem criar, na dosagem certa, os sentimentos de melancolia e solidão que entremeavam a vida do famoso pintor.

Infelizmente, de nada adianta criar recursos técnicos e visuais incríveis se o roteiro que conta a história é algo raso e por muitas vezes desinteressante. O filme erra claramente a abordagem ao se preocupar muito mais com a morte de Vincent do que com sua vida. Além disso, o personagem principal vivido pelo ator Douglas Booth é unidimensional e sem carisma, o que transforma, inclusive, a sua motivação e envolvimento com a história em algo difícil de se comprar. Outro fator que não funciona como o esperado é a escolha de mostrar as cenas de flashback em preto e branco. Presente na maior parte da película, o recurso faz perder boa parte da força e do apelo trazidos pelas cores que se tornaram uma das principais marcas do trabalho do artista.

No geral, Loving Vincent é um filme visualmente esplendoroso, audacioso e que chama a atenção. Porém, um filme que conta a história de um gênio como Vincent Van Gogh, deveria se preocupar com seu conteúdo da mesma forma que se preocupa com o seu visual. A indicação ao Oscar de melhor animação, no fim, vale mais pela originalidade da obra do que por sua qualidade.