Kong: Ilha da Caveira – Intenções sem resultados

Divulgação: Warner Bros

Às vezes, em um filme, há intenção de ser uma obra de arte, e em outros casos, há o objetivo de servir como escapismo, forma de distração, de esquecer-se da realidade e se divertir, e em outras situações temos a tentativa da união dos dois extremos.

Geralmente isso não acaba bem, pois a arte dentro do escapismo costuma não ser compreendida, se, em um filme considerado “Cult” (não gosto desse tipo de designação), há a atenção do público em aspectos que tornam a obra “intelectual”, no escapismo a preocupação é só esquecer da vida por duas horas, a união dos dois é algo confusa.

E é justamente essa união que “Kong – Ilha da Caveira” tenta realizar. Dirigido por Jordan Vogt-Roberts, a obra se passa na Guerra do Vietnã, abordando vários personagens que se encontram em uma ilha que contem um ecossistema próprio. Nesse lugar remoto, aonde quem vai costuma não mais voltar, habita Kong, um gorila gigante.

Os personagens vão a ilha com o objetivo de analisar o solo, registrar através de fotos e claro, explorar o local. O elenco é cheio de bons nomes, Tom Hiddleston (o ex-militar), Brie Larson (a fotografa), Samuel L.Jackson (o major), John C.Reilly (um dos sobreviventes de acidentes passados na ilha) e John Goodman (o cientista que chefia o projeto de reconhecimento).

Não listei o nome de cada personagem, pois, aqui eles são justamente isso, profissões e estereótipos, se o personagem de Reilly é um veterano da primeira guerra que enlouqueceu e se adequou, Hiddleston é o herói que só pensa no dinheiro e passa a ser mais humano no decorrer do filme, enquanto L.Jackson é o major que faz de tudo para obter uma vingança contra uma criatura muito mais forte que ele, para isso ocorre abuso de poder, e por fim, Larson faz muito com pouco, pois a fotografa não tem tempo de tela o suficiente para ser bem construída como personagem.

A estrutura do filme é falha, alguns dos cortes são confusos e nas sequencias de ação vamos de um lugar a outro sem aparentemente nada a ser mostrado, vemos as explosões, helicópteros caindo e o corte tira o ritmo do filme e passa a uma cena onde um soldado está sozinho e nada acontece. Ou, enquanto um grupo de personagens tenta construir um barco para uma possível retirada, há outro corte e vemos um soldado solitário no meio da floresta. Esses são apenas dois exemplos, mas há vários momentos onde a tentativa de mostrar vários pontos de vista tira a harmonia da narrativa.

Narrativa que busca justificar algumas das coisas do filme passado (“King Kong” de Peter Jackson, lançado em 2005, mesmo que essas obras se passem em períodos diferentes), como por exemplo, ir a ilha em uma época de Guerra Fria e no período final da Guerra do Vietnã mostra como qualquer coisa é feita desde que isso gere tecnologia para armamento (um personagem fala “Senhor, seja o que for o que há naquela ilha, é melhor que nós sejamos os primeiros a ver”). A fotografia granulada, um pouco mais escura que o habitual em filmes que se passam em uma ilha, foi uma decisão acertada, já que esta era usada com frequência em obras lançadas nos anos 70 (época em que o filme se passa).

Com a cena de chegada à ilha que tenta remeter a Apocalipse Now de Francis Ford Coppola, “Kong – Ilha da Caveira” é capaz de ser resumido em poucos minutos de projeção, sem ritmo, estereotipado em seus personagens, com boas intenções e maus resultados. Nada contra o escapismo e muito menos com a união entre escapismo e arte, mas, seria bacana que fosse feito de maneira adequada, nesse caso, a boa fotografia seria um aspecto a mais em um filme bom.