Harry Potter: 20 anos da saga que deixou o mundo mais mágico.

Hoje uma das sagas mais populares de todos os tempos completa 20 anos do lançamento de seu primeiro livro. Sim, eu estou falando de Harry Potter, é claro.

Os dados demonstram o sucesso absoluto da obra: os sete volumes da saga foram traduzidos para 79 idiomas em 200 países e venderam um total de 450 milhões de exemplares desde o seu lançamento em 1997, segundo a editora britânica Bloomsbury. Segundo estatísticas do site Statistic Brain de setembro de 2016, os filmes faturaram US$ 7,2 bilhões, os livros US$ 7,7 bilhões e os produtos derivados US$ 7,3 bilhões. O sucesso é tamanho que algumas expressões constantes no livro foram incorporadas aos dicionários, como a palavra “trouxa”, no inglês muggle, que significa “pessoa sem sangue mágico”.[1]

Contudo, não raras vezes, quando me referi a Harry Potter como sendo um dos meus livros preferidos, recebi olhares tortos e um certo sarcasmo como resposta. Confesso que entendo o rótulo de “livro infanto-juvenil”, apesar de discordar em certos aspectos. O protagonista Harry, assim como todos nós, já foi criança. Depois cresceu, tornou-se adolescente e, ao final da obra, apesar dos tenros dezessete anos de idade, pode ser seguramente considerado como adulto.

Ou seja, essa é a grande razão de tamanho sucesso. Primeiramente, pelo fato de o livro contar a história de alguém extremamente comum – assim como qualquer um de nós – que passa por perrengues, tem problemas na família, mas que também tem seus momentos de felicidade genuína. O primeiro livro (e filme), Harry Potter e a Pedra Filosofal, gasta alguns capítulos retratando justamente a história ordinária de Harry. E aí começa a grande viagem ao incrível.

“São nossas escolhas que revelam o que somos, muito mais que nossas qualidades”.

J.K. Rowling foi extraordinária ao criar um mundo totalmente novo e que, ao mesmo tempo, é paralelo ao nosso. A trama é absurdamente rica em detalhes e usou muito da cultura bruxa registrada até então, à exemplo das vassouras, mas tudo com o seu toque pessoal. E o mesmo cuidado com os detalhes foi imprimido nas adaptações cinematográficas da saga. Harry Potter e a Pedra Filosofal (2001) e Harry Potter e a Câmara Secreta (2002) foram ambos dirigidos por Chris Columbus (Esqueceram de mim, Uma babá quase perfeita), que criou uma atmosfera mais infantil e aventureira – seguindo a lógica dos livros – e registrou os pontos mais importantes do livro em seu longa.

Para a obra seguinte, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (2004), o filme contou com a direção de Alfonso Cuáron (Filhos da Esperança, Gravidade) que acabou rendendo a única bilheteria da saga com arrecadação inferior a 800 milhões de dólares. Particularmente, esse é o meu livro favorito da série, mas a produção não foi tão excepcional.

“Todos temos trevas e luz dentro nós. O que nos define é lado com o qual escolhemos agir”.

Recordo-me que o filme seguinte, Harry Potter e o Cálice de Fogo (2005), cuja direção foi de Mike Newell (Quatro casamentos e um funeral, Donnie Brasco), adquiriu uma atmosfera mais sombria, posto que a sociedade mágica começa a sentir a ameaça real do retorno de Voldemort. Igualmente, o protagonista já encara a adolescência e seus conflitos de frente e vislumbra que à semelhança do mundo trouxa, há aqueles que desejam o mal e usam a magia unicamente para atingir o poder.

Nos filmes seguintes, veio a direção de David Yates que, apesar de ter mais experiência com a direção na televisão, revelou-se uma escolha acertada e seguiu no posto até o final da saga, tendo dirigido Harry Potter e a Ordem da Fênix (2007), Harry Potter e o Enigma do Príncipe (2009) e Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte I (2010) e Parte II (2011). Neste período da história, o mundo mágico encontra-se em guerra. Há reviravoltas, descobertas sobre o passado, perdas, momentos de romance, tudo que um clássico precisa para ser inesquecível.

“Não tenha pena dos mortos. Tenha pena dos vivos e, acima de tudo, daqueles que vivem sem amor”.

Creio que a grande valia das adaptações ao cinema sejam o fato de serem adaptações propriamente ditas. Não há espaço para mais criação, não em obras de tamanha magnitude (similarmente a Senhor dos Anéis ou Game of Thrones). Essas obras não precisam de inovação, elas apenas devem ser amoldadas à estrutura cinematográfica. No caso de Harry Potter, os acertos foram em cheio.

Ponto positivo também para o elenco que se manteve praticamente o mesmo durante os anos, com grandes nomes do cinema como Helena Bonham Carter, Robbie Coltrane, Gary Oldman, Ralph Fiennes, Alan Rickman, Maggie Smith entre muitos outros.

Harry Potter é uma aventura sobre família, amizade, conflitos e sobre um mundo que pode ser bom e mágico. É um escape à nossa realidade dura e sem graça, seja para leitores ou para espectadores. Harry Potter também fala sobre o amor em suas mais diversas formas e é daquelas histórias que pode ser vista e revista, lida e relida diversas vezes.

“Ter sido amado tão profundamente, mesmo que a pessoa que nos amou já tenha morrido, nos confere uma proteção eterna”.

Aos que assistiram ao filme, leiam o livro. Aos que leram o livro, recomendo também a assistida, por ser um filme extremamente atento e fiel aos livros, na medida do possível. A quem não fez nenhum dos dois: permitam-se uma excelente viagem.