Crítica | Death Note (2017)

Nota do Filme:

Adaptações são sempre problemáticas. Por um lado, se tornaram a arma favorita de Hollywood. Afinal, a história já conta com fãs e, assim, há uma maior certeza do retorno do investimento. De uma maneira geral, acabam valendo o investimento.

Por outro lado, as críticas podem ser fatais. Fãs da obra original sabem o que esperar e, quando não recebem, fazem grandes campanhas negativas. Lucro é uma parte importante para a indústria cinematográfica, mas a busca por prestígio/premiações também é algo levado em consideração.

Ultrapassado esse ponto, passemos ao filme. Na sinopse, dentro da própria Netflix, temos que: “Um jovem usa os poderes de um caderno sobrenatural para matar bandidos, mas acaba atraindo a atenção de um detetive, um demônio e uma colega”.

 

 

Essa simples análise da sinopse já demonstra que o filme falha, ainda que analisado apenas em si mesmo, uma vez que não vemos o desenrolar de nenhuma dessas tramas. O uso do caderno para é apresentado em uma rápida montagem, com uma narração ao fundo contextualizando a situação. A relação entre Light e os outros personagens mencionados na sinopse (L, Ryuk e Mia, respectivamente) é quase inexistente.

Pode-se argumentar que há uma relação entre Mia (Margaret Qualley) e Light (Nat Wolff). Todavia, uma vez que não há construção para tal – supostamente teria acontecido na mesma época das mortes – passa a constante impressão de ser artificial. Como se Light se relacionasse com Mia apenas para que ele tenha com quem se relacionar, pois o protagonista de um blockbuster deve ter uma relação amorosa.

Ryuk (Willem Dafoe) pouco aparece, o que é uma pena, já que é o responsável pelo caderno. Há uma tentativa do longa em nos fazer desconfiar de Ryuk, porém, como tudo no filme, não é desenvolvido.

Por fim, o que promete ser o núcleo de uma investigação: a relação do investigado com o investigador. Sem dúvidas o ponto mais baixo da obra, justamente porque a investigação não se desenrola em tela.

L (Keith Stanfield) deduz que Kira (pseudônimo de Light) necessita de um nome e um rosto para cometer o assassinato. Nunca é mostrado como ele chegou a essa conclusão. Não há construção de raciocínio investigativo. Ainda, quando ambos ficam cara a cara, a cena carece de tensão.

 

 

Apesar do longa ser, em si mesmo, mal desenvolvido, uma vez que se trata de uma adaptação, devemos analisar ainda como ele se relaciona com o material de origem.

Quando se adapta um material, ainda mais de uma cultura completamente diferente – Death Note se passa, originalmente, no Japão –, é inevitável alterar certos trechos do conteúdo original, até mesmo pelo público alvo.

Ocorre que o núcleo da história deve ser mantido. É certo que as pessoas podem ter interpretações diversas acerca de trechos da história original, mas acho justo assumir que existe um certo consenso acerca do ponto central:

“O protagonista Light entende que o mundo está podre e busca salvá-lo. Mais tarde, se deparara com os meios de concretizar o seu ideal, porém é corrompido. Desenvolve um complexo de Deus, se torna um tirano e elimina aqueles que a ele se opõe. Por fim, se torna o vilão de sua própria história”.

Em Death Note o caderno representa o fruto proibido – as constantes alusões às maçãs na séria tornam a metáfora evidente – que corrompe um jovem com um ideal nobre.

 

 

O maior problema do filme como adaptação é que essa transformação não ocorre justamente pelas mortes serem pouco investigadas. Ainda, em momento algum vemos um interesse por parte do protagonista em “ser o Deus do novo mundo”. Esse aspecto de tirania não foi levado em consideração.

Desse modo, temos uma adaptação fraca, com grandes mudanças no roteiro que, ao invés de engrandecer a história, acabam por torná-la desinteressante. Ao final, resta uma obra que pouco se assemelha à original e, ainda, falha em atrair um novo público.