Crítica | Okja [2017]

Nota do filme:

Além de ser reconhecida como um grande canal de séries, a Netflix também busca o reconhecimento por seus filmes originais. Desta vez, apostando no filme de Bong Joon Woo (Expresso do Amanhã, Memórias de um Assassino) titulado de Okja. Primeiro longa da empresa a ser transmitido em uma das principais premiações do cinema, Cannes. Okja é um longa-metragem ousado sobre como a indústria de alimentos se importa, somente com a sua receita fiscal.

O longa tem como história uma nova descoberta feita pelas empresas Mirando. Em 2007, eles encontram uma nova espécie animal no Chile, procriam a mesma através dos mais elaborados estudos científicos, totalizando 23 espécimes que são enviados para fazendeiros selecionados ao redor do planeta. Durante dez anos, o animal mais saudável será revelado ao planeta pelo famoso Dr. Jonnhy Wilcox (Jake Gyllenhall) e será procriado para gerar uma nova fonte de alimento para o planeta. Sendo que a dona de Okja, Mikha (Ahn Seo-hyun) tenta impedir essa atrocidade ao lado dos ativistas da FLA (Frente de libertação animal), liderada por Jay (Paul Dano).

Woo tenta oscilar entre a fantasia e a realidade durante a projeção do filme, se de um lado temos uma criança tentando proteger a sua melhor amiga, do outro temos uma grande corporação buscando novas fontes de alimento para alimentar pessoas famintas – eles usam essa jogada para comover a mídia, uma forma de ação social hipócrita, bem comum nos dias de hoje. É possível notar as inspirações do diretor que vai de Spielberg (E.T: O extraterrestre) até o mestre das animações Hayao Miyazaki (Viagem de Chihiro) na maneira como ele cria o relacionamento de Mikha e Ojka e como ele insere os conflitos na vida dos personagens. Existe uma imaturidade onírica e um tom mais adulto ao decorrer do filme.

A ‘Okja’ é formada principalmente de CGI, é válido ressaltar o bom trabalho na maneira como a ’porca gigante’ foi criada, seja pela pele escamosa e oleosa ou pela maneira como ela se movimenta nos cenários, em especial na floresta, logo no segundo ato onde ela se locomove pelas ruas, é possível notar algumas falhas nos efeitos visuais, ainda mais quando envolvem diversos personagens na mesma cena. Destaques também para a cinematografia e design de produção do filme.

O elenco é composto por grandes nomes, como Tilda Swinton (Doutor Estranho, Precisamos Falar Sobre Kevin) interpretando Nancy Mirando, a CEO da empresa e responsável pelos projetos envolvendo a espécie de Okja, entrega uma personagem que diz apenas o que a mídia quer ouvir, por trás das câmeras mostra a sua ganância em superar o legado de sua irmã e pai, ambos ex-presidentes da Mirando, o mesmo vale para Gyllenhall que tem um sotaque caipira meio cômico que busca retomar o seu sucesso como apresentador de TV. Dano é o líder da FLA e tem um temperamento passivo-agressivo, oscilando entre momentos de bom homem para uma pessoa extremamente violenta caso alguém faça algo que não condiz com o seu dilema. A protagonista Ann Seo-hyun, funciona bem quando está em cena com a sua fiel amiga Okja, quando interage com personagens secundários, não tem tantos diálogos interessantes devido a sua língua oficial ser a coreana, sendo que a maioria dos personagens falam inglês, no entanto dá a entender que foi uma escolha proposital de Woo para causar uma sátira geopolítica. O restante do elenco conta com Lily Collins, Giancarlo Esposito, Steven Yeun e Devon Bostick.

Okja relata sem nenhuma censura sobre as facetas obscuras da indústria de alimentos e na maneira como eles tratam a sua matéria-prima, sendo na forma como os animais são abatidos, alimentados, hospedados ou até mesmo na maneira como são criados. Sobre como eles buscam incessantemente uma nova forma de gerar lucros, mesmo que isso afete a transparência da empresa. Em volta de todo esse alvoroço, existe uma bela amizade entre uma menina e sua fiel mascote. Bong Joon Woo fica a mais um passo do cinema internacional.

 

*** O filme possui cenas pós-créditos.