CRÍTICA | MULHER MARAVILHA

Muito se fala da DC no Cinema e com razão, entre capas vermelhas e morcegos já vimos muitas obras darem certo e outras nem tanto assim, são seis filmes do Superman e sete do Batman (sem contar com BvS), enquanto que a terceira parte da Trindade, a Mulher Maravilha, com 75 anos de sucesso, possuía apenas a série dos anos 70 estrelada por Lynda Carter e uma coleção de tentativas frustradas de produções.

Era tarefa difícil interpretar Diana Prince, ser a sucessora de Lynda Carter e ao mesmo tempo, conquistar o coração de todos os fãs, mas Gal Gadot, com todo o frisson causado por seus trabalhos anteriores e comentários sobre seu corpo “esbelto”, o vislumbre em Batman v Superman já nos adiantava: Gadot escreve definitivamente seu nome como intérprete da Mulher Maravilha.

A jornada de Diana, a transformação de menina para mulher, nos é mostrada de maneira rápida e prática. A história das amazonas é contada por sua mãe, a Rainha Hipólita como uma história de ninar. A origem e feitos das amazonas, sua mãe liderando a rebelião, o mistério dos deuses e a função da Ilha e das guerreiras, mas muitos segredos não são revelados. Assim, Diana inicia também com seus segredos, seu treinamento com Antíope, a descoberta de seus poderes, as provas e testes até o encontro com Steve Trevor, o trauma e a percepção de que o trabalho das amazonas ainda não acabou. Os questionamento de Diana diante ao novo mundo, o encontro com Etta Candy (que por pouco não se encaixa como o alívio cômico do filme). A guerra foi mostrada de forma imparcial mesmo lutando ao lado de britânicos, Diana questiona ambos os lados, tanto os líderes como soldados. Jenkins nos mostra uma Mulher Maravilha questionadora, diplomata e guerreira. É muito interessante ver essa Diana flexível, na hora da luta é concentrada, impenetrável, mas se derrete por um bebê (sendo ela a última criança da Ilha) e não consegue entender as convenções sociais de Londres em relação a roupas e comportamento feminino. Sua relação com Steve Trevor é linda, não vi exageros ou cenas românticas sem necessidade – talvez um pouco nas lutas finais. Steve não é o centro da importância que Diana soa para pôr fim a guerra, ele é o guia dela nesse novo mundo, sem ter lugar principal, sabendo da capacidade da guerreira e tendo a certeza que o amor e ações podem acabar com a guerra para acabar com todas as guerras.

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Podemos perceber os traços de personalidade de Diana na interpretação de Gadot, o desejo pela luta, a curiosidade, a feminilidade, o jeito cativante e questionador. Todos estão acompanhados pelo senso de justiça, de proteção, de lutar por quem não pode e não ficar de braços cruzados quando o mundo precisa de sua ajuda. Talvez, esta clareza no olhar sob a personagem não teria sido possível sem uma diretora mulher, o trabalho de Patty Jenkins posiciona novamente Mulher Maravilha no patamar de personagem influenciadora e transformada em exemplo, como fez Charles Moulton em 1941 quando a criou sob a presença de suas esposas Elizabeth MarstonOlive Byrne. Jenkins utiliza todos os recursos de produção cinematográfica no filme de forma sensata, além do slow-motion, o CGI é utilizado de forma a prender o telespectador na tela. As cenas de lutas vistas nos trailers são um pouco mais extensas e nos trazem ângulos que se encaixam perfeitamente na harmonização da luta, as coreografias e a forma que Gadot se posiciona frente ao inimigo nos levam a cenas de Hqs. As cenas de ação são um filme à parte, as cenas de slow-motion foram utilizadas com cuidado, captando a harmonia e posição da guerreira amazona frente ao inimigo. Não há uma cena onde Diana ou qualquer outra personagem esteja sendo hipersexualizada, novamente, a presença de uma diretora mulher mostra a Hollywood que isso é perfeitamente possível, graças ao cuidado de enquadramento das cenas.

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A escolha do roteiro também foi essencial para uma boa interpretação, Connie Nielson (Rainha Hipólita) e Robin Wright (General Antiope) estão sensacionais. Nos mostra como é ser amazona em Themyscira em diferentes posições. Lucy Davis (Etta James) surpreende na atuação mas por pouco não é o alívio cômico do filme.

Talvez as únicas coisas que destoam no filme seja os vilões e a trilha sonora. Ares, Doutora Veneno e General Ludendorff são apresentados como vilões tradicionais, com planos e derrotas. Diana não é exatamente uma vítima ou prisioneira, mas consegue entender o propósito de cada um no decorrer da trama. A trilha sonora deixa um pouco a desejar, como a paleta de cores ela muda de acordo com os cenários e montagem do filme, mas em algumas cenas de luta me parecia que o tema da guerreira em BvS “She its You” aparecia mais como um fã service já que caiu no gosto dos fãs.

Mulher Maravilha é apresentada para o público com um roteiro simples, por vezes apressado mas prático e ao mesmo tempo ingênuo e objetivo. Conseguimos perceber o quanto um filme de origem atualmente pode nos lembrar de como eles podem ser legais, sem piadas excessivas e desnecessárias, para sabermos o quanto gostamos daquele herói. Possui uma aurea de filme antigo mas com efeitos visuais e problematizações bem atuais. Mulher Maravilha, além de ser, novamente, um marco para a história da representatividade, trás consigo mensagens de luta, liberdade, poder e esperança que só Diana de Themyscira poderia nos ensinar.